Carta 6, 10/12/2014

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Querida Cristine,

Acabei juntando o mês de outubro de férias do trabalho com atestado médico, e diante de tudo que passei estou afastado da editora por motivos óbvios.

Hoje o dia está ensolarado, fui te ver no hospital e seus pais ficaram lá com você, hoje faz um mês e dez dias em coma, os processos de indenização pelo desabamento já começaram, existem provas que houve uma falha estrutural de um solo ruim e provavelmente mal projetado, coisas que não sei te explicar, os responsáveis por tudo já foram identificados e tudo está correndo em justiça, mas é o Brasil, então não é como se pudéssemos esperar algo rápido e seu pai anda me acalmando quanto a isso, pois não á muito o que fazer a não ser esperar.

Eu continuo com minhas consultas com o psiquiatra e sua mãe começou também, isso está ajudando na espera por você e com o fato da vida está começando a cobrar para que algumas coisas voltem ao "normal". Seu pai está vivendo entre as duas cidades para poder cuidar o comércio da família, seu irmão terminou ano escolar, o terceiro ano dele, ou seja, ele sempre fala com você e conta que acabou a escola e está se preparando para o vestibular, o Rafa está aguentando firme, para ajudar seus pais.

Sua mãe está aqui, não voltou mais para casa a não ser para buscar coisas, ela está cuidando das coisas por aqui e ajudando seu pai com a administração de longe, só assim era espairece a mente.

Alguns dias traz fui à faculdade tirar fotos de beca para a placa da faculdade, tirei algumas com meus pais e a instituição me deu de presente a beca para guardar e tirar fotos com você, assinei um documento e peguei meu diploma, esse foi o meu sorriso mais sincero desde que tudo aconteceu, mas não sou tão forte assim... Após isso, me tranquei no carro e chorei por horas, a vida sem você realmente é tediosa.

Ah Cris, eu teria como ter te salvado se não tivesse saído do seu lado? Faço essa pergunta para mim mesmo diariamente e o psiquiatra disse que não é saudável para minha mente, mas não é como se eu tivesse escolha... Acredite, estou tentando dá o melhor de mim diariamente faz um mês, estou extraindo fé de toda a minha alma.

Já faz dez dias que o seu mês preferido começou, dezembro sempre foi um mês indiferente para mim, pelo menos até te conhecer.

Nunca foi novidade que você é uma pessoa muito mais animada e empolgada que eu, e foi uma das primeiras coisas que me fez questionar o por que havia me apaixonado por você, nunca acreditei necessariamente que os opostos se atraem, mas acredito que no final das contas foi o nosso caso...

Nesses quatro anos você me ensinou muitas coisas, uma delas foi aproveitar cada momento da vida mesmo em ficar em casa, ou ir a shows, viajar para praia ou ir a parques para observar as águas do rio se movendo

Sabe onde estou nesse fim de tarde? Aliás, lembra qual sempre foi nosso passeio preferido em finais de semana de sol?

Nós sempre gostávamos de aproveitar tarde calmas longe da agitação do centro capital indo ao parque lago azul, com certeza sempre foi nosso lugar preferido, até por que você sempre amou a natureza e eu também, outra coisa em comum que tivemos sempre .

Em dias ensolarados de domingo, arrumávamos lanches em uma mochila para não gastar nos quiosques caros, levávamos muitos doces e coisas que sua profissão não te permitia de comer sempre. Pegávamos nossas cadeiras de praia, nossa mochila e íamos...

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— Acredita que precisamos comprar mais doces? — Com a mochila aberta, Cristine me interrogou. — esses lanches irão ser suficiente?

Procurando as cadeiras de praia após a arrumação que fizemos, a encarei de longe e consenti.

-Suponho que é o suficiente, minha barriga está ruim. — Falei, retirando as cadeiras de praia da despensa.

Cartas que eu desejaria te entregarOnde histórias criam vida. Descubra agora