Recobrar.

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Três meses, noventa dias e duas mil cento e sessenta horas.

Esse foi o tempo que tive minha alma fora do corpo, foi o período mais doloroso dos meus vinte e sete anos de vida. Não existem palavras que possam descrever verdadeiramente o quão destruído eu fiquei, quantas noites em claro passei e quantas vezes desejei não viver em um mundo onde a Cristine Zymer não existisse. Mas calma, ainda não significa que eu esteja totalmente aliviado, porém, posso respirar novamente com um pouco menos de medo.

No dia em que completaria três meses de um coma profundo, Cristine começou a dar os primeiros sinais seguros de que estava pronta para voltar para nós, de uma forma medica em que sou leigo, minha namorada deu seus primeiros sinais de retorno ao lutar para expulsar o tubo conectado a sua boca que a fornecia oxigênio.

Ontem à noite, no momento em que falava com ela, seus olhos castanhos se abriram lentamente e desaguei em lagrimas. Cristine começou a despertar lentamente, mais rápido do que os médicos esperavam, naquele momento entrei em um agradecimento por sua vida, por não a ter perdido e chorei por horas, foi uma mistura de alívio com uma sensação de "pode respirar agora Júlio".

Os primeiros raios de sol da quinta-feira invadiam a recepção, meus sogros e o rafa vieram correndo no momento em que lhes liguei aos prantos e falei "A Cris acordou". Eu ouvi meus sogros chorarem no telefone, eles choravam alto e eu sorria do outro lado da linha em meio a lagrimas. Eles chegaram poucos minutos após a minha ligação e os médicos já haviam a levado para uma bateria minuciosa de exames e testes para confirmar se a mesma de fato estava acordando.

Liguei para meus pais, todos os nossos amigos que também choraram de emoção e chegaram de imediato, estávamos todos na recepção do hospital vendo o dia raiar a espera de notícias, a Isabel roía as unhas, seu assessor Mauricio abraçava sua esposa ainda muito emotiva, Caio que já havia retornado ao Japão gritou de alegria ao saber e avisou estar voltando de imediato não importava o valor da passagem e Rafael andava de um lado para o outro como quem tinha a intensão de abrir um buraco no chão.

Eu estava ansioso e nervosos, apertava minhas mãos com força e recordava de seus olhos sonolentos me encarando, meus sogros ao meu lado estavam impacientes e olhavam para os lados em busca do médico responsável.

— Filho, Júlio. A mãe demorou, estou aqui. — Minha mãe entrou na recepção correndo e meu pai logo atrás.

Levantei da cadeira rapidamente e recebi um abraço caloroso da minha mãe, meu pai foi cumprimentando meus sogros e lagrimas começaram a ser derramadas novamente.

— Mãe, estou respirando novamente. — Abracei-a e senti seus braços dando leves batidinhas em minhas costas. — Ela abriu os olhos, demorou tanto tempo mãe.

Minha fala saia junto ao choro e meu pai nos abraçou.

— Falei que tudo ia ficar bem Guri, ela é forte. — Meu pai falou baixo e nos sentamos. — Desculpe-nos pela demora, estamos aqui filho.

Sentamos todos juntos e minha sogra repassou aos meus pais a situação da Cris até agora e que o médico ainda não havia retornado com notícias. Meus pais emotivos, diferente da maioria dos dias agradeceram aos meus sogros por eles sempre cuidarem tão bem de mim, as lagrimas sessaram quando começamos a conversar sobre como Deus é bom e como as coisas iam fluir bem. Entre nossas conversas, pudemos retornar ao passado, meus pais fizeram meus sogros sorrir ao falar de como a Cris me transformou em uma pessoa mais aberta ao mundo, e eu sabia que isso era verdade, sem exagero. Naquela recepção, aguardado notícias boas, todos voltamos ao passado e lembramos de como a vida caminhou em quatro anos e de como estava prestes a retornar, após tanta dor.

O relógio marcava as cinco da manhã, nenhum de nós dormiu e meu cunhado comprou café para todos, assim poderíamos nos manter acordados.

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Cartas que eu desejaria te entregarOnde histórias criam vida. Descubra agora