Reiniciar.

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Reiniciar a vida não foi nada fácil, principalmente quando eu não fazia ideia de pôr onde começar, quer dizer, parecia que lentamente eu estava fazendo isso. Não estava sendo fácil para mim e muito menos para as pessoas a minha volta, e eu sabia muito bem disso mesmo que elas tentassem disfarçar.

Ontem, após semanas refletindo sobre tudo que aconteceu, expus meus pensamentos ao Júlio em relação ao nosso relacionamento, por mais que eu não recordasse dele, via em fotos, vídeos, ouvia pessoas falando com admiração e podia enxergar dele o quanto fomos felizes, um dia. Por mais que eu não o tivesse em minha memória, por dois meses passei diariamente ao lado de uma pessoa paciente, gentil, cuidadosa, calma e que não se importa em colocar-se em segundo plano se isso deixar a pessoa de que ele gosta feliz, eu vi isso tão bem que não pude ser egoísta.

Colocar um fim no nosso relacionamento foi mais por ele do que por mim, por que eu sabia que ele não se importaria em ficar ao meu lado mesmo se eu não soubesse a sua data de aniversário, qual a sua cor preferida ou o nome da floricultura do seu pai, porém isso estava doendo nele, ele estava sofrendo, muito.

O esquecimento nunca seria um motivo para ser insensível e ignorar tudo o que foi vivido, ao ouvir ele dizer coisas bonitas e sinceras junto a uma dor expressiva apertou meu coração como nunca senti antes, suas lagrimas junto a um sorriso enquanto juntava as fotos na caixa me angustiou como se alguma parte de mim, soubesse o que estava perdendo.

Colocamos nossas alianças em uma caixa cheia de fotos, aliás, eram tantas fotos que me fazia perceber que talvez nós prevíamos que tudo ia se esvair como um sopro e a vida nos mostrou a necessidade de fotografar cada momento ou emoção, e foi assim que passei os últimos dois meses em casa, olhando cada foto e tentando lembrar dos momentos felizes e tristes, mas não aconteceu.

Combinamos de dá a notícia para a família e amigos juntos para que o choque fosse menor, passei a noite em claro e ao colocar a cabeça encostada na porta do quarto, várias vezes na madrugada, ouvia seu choro baixinho como quem não queria ser ouvido, mas também não podia guardar. Quando amanheceu, ele entrou no quarto para procurar roupas e antes de sair se aproximou da cama com a certeza que eu estava dormindo, me cobriu até o pescoço, sentou na cama lentamente e ainda de olhos fechados o ouvi sussurrar:

"Na próxima vida vamos nos encontrar, e viver tudo que nos foi roubado nessa, certo? Eu te encontrarei, não serei mais tão tímido e sei que ainda te amarei como te amo hoje, nada mudará."

Ele falou rápido, soltou um longo suspiro e saiu o mais discretamente que conseguiu, quando a porta fechou respirei fundo e sentei na cama abraçando meus joelhos, a sensação de não poder fazer nada era ruim e eu odiava aquilo.

Dormi, literalmente apaguei após horas pensando e acordei passava das duas da tarde com o despertador me lembrando de remédios. A casa estava silenciosa, havia café na cafeteira e torradas assadas que seriam o café da manhã caso eu estivesse acordada, nico estava dormindo na varanda e não havia nada para fazer a não ser tomar um banho e pensar.

Assim que entrei no chuveiro ouvi a porta abrindo e a voz da minha mãe e mais pessoas, com isso me apressei e logo pude está na sala para vê-los.

— Mãe, Rafa. — Sorri os abracei. — Senti saudade de vocês, acabei de acordar. — Meu irmãozinho cada vez mais lindo.

Minha mãe sorriu ao tocar meus cabelos que cresceram e meu irmão colocou sacolas na pia.

— Mana, trouxemos comidas e sua sogra mandou flores, ela disse para trazermos, pois, veio aqui bem cedo e ninguém atendeu. — Rafael falou e arregalei os olhos. — Cadê o Júlio?

Eu havia dormido realmente pesado, Ana já havia me visitado junto ao seu esposo muitas vezes e era uma pessoa simpática e aparentava muito inteligente.

Cartas que eu desejaria te entregarOnde histórias criam vida. Descubra agora