Querida Cristine,
Hoje é um sábado e chove bastante, em mim e lá fora também.
Faz dez dias desde que tudo aconteceu e meus machucados físicos saram dia após dia, mas tudo em mim ainda dói muito. Muitas pessoas estão aqui diariamente deixar flores, cartões lindos e artigos religiosos. Mauricio, seu grande amigo e assessor segue inconsolável e incrédulo, assim como todos nós. A bel me liga toda hora e nosso gatinho cresce bem.
Sigo escrevendo essas cartas, pode ser que quando leia pense "que bagunça". Mas estou bagunçado e tentando me manter de pé quando saio pela porta do hospital, faz dez dias que todos os dias passa no jornal sobre a tragédia, cita seu nome e de muitas outras pessoas que se foram, se machucaram e faleceram mesmo após serem socorridas com vida.
Lembra da Lúcia, a dona da loja onde você foi fotografar? Então, ela foi uma das pessoas que estavam no andar de cima próximo a você e foram resgatadas com vida, mas ela não resistiu, meu coração apertou ainda mais e chorei no banheiro.
Cris, todos os dias sento ao seu lado como estou agora com uma certa distância a pedido médico e torço para que nenhum aparelho conectado a você e faça um barulho estranho, hora após hora o médico vem aqui e seu olhar me diz que nada mudou, pode voltar quando estiver melhor? Não quero apressar sua recuperação, mas não sei por onde andar sem sua companhia, e a maldição do ser humano é lembrar de tudo que poderia ter feito diferente quando não podemos fazer mais nada.
Seus pais pegaram uma licença do trabalho, e como mencionei estão em nossa casa, mas os mesmos não conseguem ser tão fortes como gostariam e vê-los assim dói meu coração, ontem quando sai daqui e sua mãe chegou, fui até a farmácia com seu pai para comprar remédios para o sogro dormir receitado pelo médico, e no caminho lembrei de quando ainda éramos amigos e fomos até a farmácia para comprar remédios para seu tornozelo machucado, eu me sentia angustiado em te ver machucada fingindo ser forte, você sempre foi tão boa em parecer bem, mesmo sem estar... Ali foi nosso primeiro beijo ainda como bons amigos, mesmo após termos saído juntos, lembra como foi?
S2
Dirigindo lentamente pela avenida mais movimentada da cidade, me sinto bem com a menina mais bonita do mundo ao meu lado e percebo que minha timidez de meses atras não existe mais.
Estamos seguindo para a farmácia para comprar algo que possa ajudar o pé machucado da menina séria ao meu lado. E a proposito ela está com raiva de mim por que em uma conversa entre nós, esbocei ciúme e insinuei ser estranho a forma com que seu amigo de profissão a olhava, maldita hora que fui comprar o pão e passei por sua rua... Eu senti ciúmes pela primeira vez, por que naquele momento percebi gostar dela, e tudo havia começado no momento que meus olhos bateram nela, mas para ela sei que sou apenas um amigo.
— Obrigada por vim comigo, sei que ainda não gosta de dirigir em vias assim, não precisava. — Séria, ela falou encarando a avenida.
Precisava, te ver reclamando com seu pé e perceber que o remédio não servia me deixou aflito.
— Somos amigos há poucos meses, mas sei que não está bem com esses remédios e sobre dirigir, estou melhorando quando meu carro velho me ajuda. — Ela prendeu o riso e a encarei. — Não está mais brava?
Parei no sinal e fui ignorado por ela, a mesma estava chateada e não poderia falar o que senti aquela noite e arriscar perder sua amizade...
— Você é um dos homens mais gentis que já conheci, e como assim pensa pequeno? Uma mulher não pode ter amigos? Eu pareço fácil por que falei com você no bar? Se eu rir para alguém e aceitar uma carona, esse alguém terá chance comigo? Não sou otária... — Ela falou rápido, gesticulando e neguei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cartas que eu desejaria te entregar
RomanceCristine e Júlio eram opostos completos: ela, uma jovem extrovertida e sonhadora, determinada a conquistar o mundo como modelo. Ele, um rapaz tímido, focado nos estudos, que acabara de comemorar sua aprovação em jornalismo. Apesar das diferenças gri...