Capítulo 16

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Termino de ajeitar meu vestido branco e dou um pequeno sorriso ao lembrar que foi Will que o comprou para mim.

Respiro fundo indo até a cômoda, me sento na cadeira e me olho no espelho enquanto penteio os cabelos.

As olheiras de noites mal dormidas já sumiram praticamente, e algumas marcas roxas na minha pele também. Os curativos dos vidros que perfuraram minha pele ainda estão em volta dos meus braços e das minhas pernas.

Fecho os olhos tentando não ficar emotiva outra vez, está sendo impossível viver esses dias por conta dos pensamentos.

A culpa, o aperto no peito, as lembranças...

Lembro de alguns dias atrás quando William e eu fomos até o cemitério para o enterro do nosso filho.

Eu estava completamente em choque, sem nenhuma reação ou sentimento; mas quando olhei a lápide do meu menininho... eu desabei.

Foi como se uma parte da minha alma tivesse morrido junto à ele, e tenho certeza que essa parte jamais poderá ser restaurada.

Limpo as lágrimas que deslizaram involuntariamente e me levanto, pegando minha bolsa ao caminhar para fora do quarto.

Desço as escadas tendo a visão de Will arrumado e brincando com Felicity, ele me levará até o consultório do psicólogo que marcou.

Quis dizer a ele que estava meio relutante pelo fato de ser um homem, mas desisti percebendo que era apenas bobeira da minha parte. Eu consigo ficar perto do Will... conseguirei fazer o mesmo com o médico, certo?

- Estou pronta... - minha voz sai baixinha e ele me olha com um sorriso radiante.

- Você está linda... - diz e sorrio levemente.

- Obrigada.

Vejo Fê vim até mim e a pego no colo ouvindo sua vozinha gostosa. A pequena garotinha colou no meu peito, mas infelizmente parei de produzir leite. É como se meu corpo soubesse de que não posso amamentar meu filho...

Jaque, a babá de Felicity, aparece na sala e fica ao meu lado esperando eu entregar a bebê a ela.

Dou um beijo na bochecha da criança que faz um biquinho choroso ao sair de meus braços.

- Mamãe! - ela grita chorando desesperada e meu peito se aperta com o que foi dito.

Mamãe...

Não... não mereço ser mãe de ninguém, não consegui nem proteger o meu filho; sou um monstro, é isso que eu sou.

- Desculpe, ela ouve Kai chamar nossa mãe assim e acabou aprendendo. - Will pega Fê com cuidado e vai até o grande jardim atrás na casa parecendo triste.

- Você...perdeu o seu filho, não é? - Jaque pergunta meio receosa e assinto com a cabeça. - Eu sofri cinco abortos espontâneos nesse ano... sei como é a dor.

A olho compreensiva e dou um sorriso singelo.

- Sinto muito... não desejo essa dor a ninguém. - sem que eu preveja, Jaque me abraça e meu corpo trava por alguns segundos.

Depois, me permito relaxar e receber aquele carinho e acalento de uma mãe que passou o mesmo que eu.

- Sabe... esse buraco que sentimos no peito, nunca vai embora... mas aprendemos a conviver com ele. Com o tempo vai se curando e restará apenas uma cicatriz interna. - fala com suas mãos entrelaçadas as minhas. - Se precisar de alguém com quem conversar... estou aqui.

A abraço novamente sentindo uma luz ser transmitida através dessa mulher.

- Agora tenho que ir, acho que a pequena já está com fome. - confirmo com a cabeça e Jaque se vai.

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