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Nicolas

Faltavam dois dias. Dois dias para um jantar desastroso. Ele não poderia ser mais ridículo? Me convidando para jantar em um restaurante protegido pela famiglia? Ele só podia estar tramando algo. Minha mãe costumava acreditar que meu pai tinha um espírito livre, nada o prende. Mentira, mentira, mentira.

Nicolas, 10 anos de idade.

"Sabe, eu pensei que ele lembraria". Comentei observando mamãe mexer a massa em uma bacia.

"Ele é muito ocupado". Ela respondeu sem tirar os olhos da massa. Ele tinha saído cedo para o trabalho, todo animado porque tinham achado uma pista sobre uma máfia italiana. Quanta besteira.

"Não poderia me desejar parabéns?". Afinal é o meu aniversário.

"Aposto que ele vai aparecer aqui com um presente para você". A animação dela é até cativante. Mas eu sabia que não seria assim, ele entraria por aquela porta, e contaria sobre seu dia na agência, e pode ser que até me traga um presente, mas será como das últimas vezes. Algo relacionado a CIA.

"De quê vai ser esse bolo?". Qualquer coisa, qualquer coisa, por tanto que mudemos de assunto.

"Cenoura, o seu preferido". Me deu água na boca só de pensar.

"Com cobertura de chocolate?".

"Sim". É disso que estou falando.

"Ela virá?". Mamãe sorriu para mim. A filha do Jones é a minha melhor amiga no mundo todo. Éramos amigos porque meu tio se tornou amigo da mãe dela. Então sempre brincávamos juntos, às vezes com Cecília. Mas eu não sei o que os pais dela trabalham.

"Mamãe, com que Jones e Avery trabalham?". Ela congelou no lugar.

"Jones é chefe de uma cidade, ele cuida de tudo por lá. Avery apenas fica em casa cuidando da família". Como uma pessoa se torna chefe de uma cidade? Isso não faz sentido.

"Essa semana temos que ir comprar um terno para você ir no casamento de sua prima". Bufei irritado.

"Mais? Pra que isso? Eu detesto essas roupas". Era chato usá-las. Mamãe riu.

"Vai ver que um dia você só vai viver de terno". Que idiotice. Que tipo de pessoa vive de terno?

"Pode apostar que não". Ela riu mais ainda.

"Quero estar aqui para ver você mudando de ideia". Me dá uma dor só de pensar que ela não estará aqui.

"Não diga isso mamãe, você estará. E eu não vou mudar de ideia".

Nicolas, hoje aos 28 anos de idade.

Abri a porta do meu closet. Uma mistura de tons de preto, azul, cinza e branco. Abaixei minha cabeça rindo. Espero que esteja feliz mãe, você estava certa. Você sempre estava.

"Porra!". Jade gritou assim que entrei em sua sala. Ela avaliava seu dedo furado, ela tinha sérios problemas com as agulhas. Meus olhos foram atraídos para seu dedos finos, algumas manchinhas de sangue. Ah Jade, porque não larga logo isso de uma vez?

"Estou pensando seriamente em arrancar essa porta daí". Todos pensam essa mesma coisa, e no final? As portas permaneciam onde estão.

"Tenho um jantar com meu pai em dois dias". Comentei. Ela me avaliou por um instante. Seu cabelo amarrado em um coque, sua mesa de trabalho está coberta por papéis com desenhos de roupas.

Um desejo incontrolávelOnde histórias criam vida. Descubra agora