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Sirena



"Quando eu disse para você tomar cuidado. Eu não estava falando de ir para a Itália". Ana gritou em meu ouvido. Eu precisava ir, eu tinha que ver como estava por lá. Já faz seis meses que eu não ia lá. Tentei colocar um vestido preto na mala.

"Vai ter um draft em cinco dias, Rivera". E eu amava cada detalhe dos drafts. Os carros, as corridas. Até o cheiro da gasolina me deixava animada na época do draft.

"Uh sinto falta". Ana suspirou olhando para o meu teto com as mãos em sua cintura.

"A de Nova York está próxima". A lembrei. Ela logo se animou. Todos os anos fazíamos corridas para decidir as entradas de novos pilotos. Pessoas ansiosas para entrar na Famíglia e na Camorra. Tolos sonhadores. Logan escolhia os melhores, eu escolhia os melhores.

"E a partir desse ano, eu irei comandar". Ana falou orgulhosa. Sorri.

"Assumiu?". Perguntei. Ela assentiu. Ana bateu em sua tatuagem e depois passou a mão acariciando por conta da dor.

"Iniciada e comandante do draft". Ela fez arminhas com as mãos.

"Fitz está animado?". Perguntei. Ana riu e soltou seu cabelo do coque, os cachos caindo perfeitos. Ela comemorou quando viu.

"Ele sempre está. Allie vota todos os anos e a carga das drogas chegam no mesmo dia". Fitz sempre se preocupava, porque no mesmo dia acontece a chegada de encomendas e também porque Allie se estressava todo draft. Um erro em um carro, um piloto inconsequente, um pneu furado…

"Não é só as drogas". Comentei. Joguei um rímel em uma bolsinha.

"O que mais?".

"Fitz está preocupado. Ele está quebrando a cabeça com os caixotes que foram para o Brasil". E isso quase me enlouqueceu também. Ana franziu as sobrancelhas.

"Por que ele não falou com meu pai? Ele se aposentou, mas não negaria ajudar….". Ela estalou a língua. "Claro que ele não vai querer pedir essa ajuda". Óbvio que não. Fitz é orgulhoso e só pediu ajuda quando se tratou da Allie.

"Allie não pode ajudar? O que ele vai fazer? Entrar em um avião e ir para São Paulo?". Perguntei.

"Ele não quer ir pra São Paulo mais". Ana deu de ombros. Agora eu fiquei curiosa.

"Por que?". Perguntei.

"Porque dormiu com uma policial. E ela descobriu que ele é da máfia e tem provas contra ele". Allie respondeu da porta.

"Como era o nome dessa mulher mesmo?". Ana perguntou. Joguei mais uma bolsinha na mala.

"Andréia Oliveira". Allie falou e Ana resmungou.

"Detesto essa mulher". Eu não faço ideia de quem seja. Onde está meu colar com a serpente? Procurei dentro do closet.

"Uma vez ela me encarou de cima a baixo e ainda me pediu que eu segurasse sua arma. Como se eu fosse cair na onda dela". Ana resmungou novamente. Um truque velho, o jeito que se segura uma arma é o jeito que muitos policiais em Nova York percebem um criminoso. Se o segurar com afinidade, com total confiança, e familiaridade com arma. Aí já seria uma prova.

"Essa aqui". Peguei o celular que ela me entregou. Uma foto de uma loira de cabelos curtos, óculos escuros, bochechas coradas por conta do sol e uma marca de nascença perto da orelha.

"Andréia, ela trabalha com o Fernando. Ele me contou ontem que ela está investigando sobre o Quartel". México? Fabrício deve está amando isso.

"Parece que o Jorge estava recebendo uma encomenda da cidade do México". Allie falou cruzando os braços. Um, então quer dizer que meu querido cunhado tem negócios com Jorge Carvalho. Eu odiava a forma como ele administra, aff, é como se tudo ali fosse uma brincadeira. Querido é a máfia, não se pode brincar dentro da máfia. Jorge nunca levou nada a sério.

Um desejo incontrolávelOnde histórias criam vida. Descubra agora