4. Here come the rooster

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_Outubro de 2021_

Seokjin girava a aliança em seu anelar esquerdo, pensativo. Ainda usavam as mesmas alianças com as quais Namjoon fez a proposta de casamento, mesmo que já tivessem condições de comprar anéis novos, mais bonitos e com mais valor. Era assim por vontade de Seokjin, que tinha transformado a delicada esfera num objeto capaz de o acalmar e desestressar. Por isso girava a aliança no dedo: queria destravar a mente para, enfim, conseguir trabalhar direito.

Tinha disposto seu conjunto de biscuit em sua frente, na mesa do pequeno ateliê que montaram no apartamento. Não era bem um ateliê, se pensasse bem; ele e Namjoon tinham dividido o quarto em três partes, com o uso de dois biombos hospitalares, para que cada um tivesse sua área de trabalho. Antes tinham montado seus escritórios no segundo quarto, mas com a chegada de Han Seo, deixaram-no para ela e criaram esse ambiente. Naquele local estava sentado, diante de uma mesa, olhando para as massinhas como se, assim, elas fossem criar formas sozinhas e produzir as encomendas do dia.

A verdade era que Seokjin estava inquieto, e a sensação não o deixava relaxar. Sem relaxar, não conseguia produzir. Por tal razão, se encontrava estagnado. Aquele dia tinha começado com essa energia, como se algo sério estivesse prestes a acontecer. Com honestidade, não só naquele dia, mas o sentinento tinha ficado muito pior.

Sempre acordava cedo, mas daquela vez algo tinha o impedido de continuar dormindo. Não quis compartilhar a sensação com Namjoon, mesmo sabendo que podia fazê-lo. Tampouco quis deixar que sua filha percebesse seu verdadeiro estado de espírito. Não sabia dizer se era apenas uma impressão ou um sentimento a ser levado em conta, e isso, muito mais que a sensação em si, era o que estava o matando. Sua intuição não costumava falhar, mas se ela estivesse certa...

Havia muitos anos que Seokjin não enfrentava uma tempestade, tantos que já não se lembrava muito bem como deveria agir em meio a uma. Acreditar cem por cento em sua intuição seria aceitar que, depois de anos, as garras do passado ainda podiam o alcançar, e tinha um bom período que abandonara tal ideia. Se quisessem ter feito alguma coisa, teriam feito antes. Não seria agora que apareceriam para acertar contas, seria? Sua mente dizia que não, que não havia com o que se preocupar, que a ameaça deixara de existir eras atrás. Seu coração, contudo, parecia desconfiado, de um jeito que não ficava há muito tempo.

Em qual dos dois devia confiar?

Girou outra vez a aliança, devagar, suspirando. Geralmente não haviam batalhas em que a mente ou o coração estavam certos; na maior parte das vezes, os dois tinham razão, cada um ao seu modo. Seokjin só precisava enxergar em quais pontos cada um estava correto.

Se haveria uma tempestade ou não, era incerto. O que poderia fazer era estar preparado para a eventualidade, sem se deixar consumir pelo medo de a atravessar, ainda mais agora que não estava sozinho. Seokjin era pai e marido, tinha duas pessoas que precisava proteger, inclusive de si mesmo. Tomaria os cuidados necessários para que ninguém fosse ameaçado, se colocando também na lista. Não queria machucar as pessoas que mais amava no mundo, e nem se machucar.

Decidido que ficaria atento, mas não permitiria que isso atrapalhasse sua rotina, pegou a lista dos pedidos online e começou a trabalhar no primeiro enfeite. Despejou no biscuit todos os seus sentimentos negativos, e talvez isso tenha sido o seu melhor combustível. Sem se dar conta do tempo, conseguiu finalizar a primeira parte dos trabalhos com agilidade e perfeição. Deu uma boa checada em cada peça, procurando algum detalhe que devesse ser melhorado, e não achou nenhum. Sorrindo de satisfação, se encostou no apoio da cadeira e ficou admirando sua obra.

Um dia devia tentar trabalhar com gesso. Seokjin sempre fora bom em qualquer trabalho que envolvesse força, precisão e paciência. Por isso gostava de cozinhar, por este motivo resolveu aprender a trabalhar com biscuit. Talvez viesse a ser bom com gesso. E em bordado e costura também, não poderia se dar bem? O que lhe custava tentar? Trabalhar com gesso não era tão simples assim, não se podia obter todos os materiais de uma hora para outra. Com bordado e costura, porém, era outro departamento.

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