E cá estamos de volta! =D
***
_ Em algum momento antes da rebelião _
Não era a primeira vez que Namjoon pagava uma visita para alguém numa penitenciária. Quando ainda trabalhava como policial nas ruas, vez ou outra era convidado pelo delegado para lhe fazer companhia na tomada do depoimento de algum encarcerado. Namjoon era alto e forte, achavam que ele faria boa figura em ocasiões assim. Depois que enveredou pelas funções burocráticas isso foi ocorrendo em menor frequência, até parar de acontecer. Essa era, possivelmente, a única função da qual não sentia saudade. Presídios tinham uma energia muito carregada. Nesse aspecto, conseguiam ser piores do que um necrotério. Causava-lhe um mal-estar estar presente nesse tipo de lugar. Só que agora ele não tinha opção. Precisava estar num presídio, querendo ou não. Não se tratava de uma obrigação profissional que podia transferir para outro policial. Era uma questão de caráter pessoal. Não era um bandido que tinha prendido, ou alguém que pretendia, supostamente, auxiliar a polícia em troca de benefícios. Estava ali para visitar uma pessoa que jamais cogitou ver dentro de um prédio desses: Seokjin, seu marido. Ou ex-marido. Não tinha um nome para definir quem Seokjin era para ele agora.
Fazia muito tempo desde a última vez em que tinham se falado. Mais precisamente, desde o dia em que Namjoon conduziu Seokjin para a delegacia, quando ele lhe confessou toda a verdade que escondera até então. Dali em diante, delegou a colegas as funções relativas a ele, como a ética lhe exigia, e não se envolveu diretamente com nenhum aspecto do caso. Limitou-se aos bastidores, em busca de acordos e situações que pudessem, de alguma maneira, auxiliar o pai de sua filha. De resto, não fez movimento algum. Não se informou sobre o caso, não acompanhou as investigações, nem procurou Seokjin para conversar.
No princípio, foi por raiva e indignação. Não podia aceitar que Seokjin o tinha levado a se firmar com um mafioso. Para Namjoon, naquele momento, não fazia diferença se Seokjin tinha largado aquela vida; ele não achava existir algo como ex-mafioso. Já tinha atuado em tantas operações desse tipo em sua carreira que tinha feito sua cabeça em relação a tais estirpes de bandidos. Eles simplesmente não deixavam de ser quem eram, não importava o tempo de inatividade. Depois que a raiva passou, foi a tristeza que o impediu de tentar se encontrar com Seokjin. O rancor saiu e deu lugar à mágoa. A mera lembrança de Seokjin o tirava do eixo, o fazia chorar como uma criança cujo brinquedo preferido tinha sido quebrado. No final, o empecilho era a falta de coragem e o receio de seus sentimentos o levarem a uma situação que preferia evitar. Seokjin sempre tinha sido o dono da relação que viviam. Não que ele fosse dominador ou algo similar, mas era ele quem coordenava tudo, e Namjoon se permitia ser conduzido porque, para ele, isso era incrível. Em sua inocência, acreditava que Seokjin era incapaz de tomar uma decisão que levasse alguém a se machucar, e se deixar levar por sua liderança emocional era um privilégio, não um abuso.
Por conta disso, Namjoon não sabia mais como poderia se referir a Seokjin. O que tinham passado a ser depois de tudo? Nunca perguntou, nunca quis saber. Sequer pensou a respeito, evitou com todas as forças. O que podia dizer era que ele seguia sendo o pai de sua filha, sem dúvidas. Muito embora, perante a Lei, somente Namjoon fosse o pai dela — a adoção tinha sido feita apenas em seu nome, por conta das normas do país —, jamais conseguiria tirar dele o direito que tinha como pai de HanSeo. Não seria possível nem se desejasse. HanSeo tinha adoração por Seokjin, e isso não mudou após saber que o pai estava na cadeia. Namjoon até gostaria que isso mudasse, mas não tinha conseguido fazer nada. HanSeo não se importava com quem Seokjin tinha sido; ela só se recordava do quão amoroso Seokjin era, e isso lhe bastava. Namjoon, ao vê-la ainda tão apegada ao outro pai, queria ter a mesma convicção que ela. Queria, tal qual sua filha, não se importar com o passado de Seokjin antes de se conhecerem, e contar apenas com o que tinham vivido juntos. Não podia, porém. Sua personalidade o cobrava sempre que sua razão vacilava. E era por isso que, naquele instante, seria capaz de dar uma parte do corpo para não estar naquele presídio, sentado numa cadeira, esperando pela chegada de Seokjin. Sua mente e seu coração duelavam diariamente para decidir quem venceria, e sem ter Seokjin por perto, era fácil fazer a mente vencer. Vendo-o outra vez, Namjoon já não sabia como iria ser. E não queria ceder ao coração. Sua maldita moral não permitia isso. Entretanto...
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Tricks and threats
FanfictionEra para ser mais um dia comum na vida de Seokjin e Namjoon. Devia ser apenas mais um Halloween a ser comemorado na escolinha da filha, com fantasias mal feitas, os biscoitos amanteigados e temáticos de Seokjin, e os atrasos costumeiros de Namjoon...