8. Man on a mission

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Trazendo mais uma att de fic que tava esquecida no churras...

***

O café da manhã foi insosso. A presença carinhosa e cheia de atenção de Namjoon foi insalubre. Não por ele, mas por tudo o que enchia a mente de Seokjin. Tinha sido muito custoso para ele fingir costume e felicidade quando em seu coração havia um peso quase impossível de suportar. Mas fingiu bem por causa de Namjoon. Seu marido estava muito feliz. Acreditava que tinha tido uma noite de amor incrível com aquele que amava. Que podia confiar totalmente no homem que escolheu para dividir a vida. Namjoon era bom, bom demais para ser verdade, e Seokjin não queria o magoar lhe comprovando o quanto podia ser manipulador e mentiroso — sendo esses os mais leves adjetivos, considerando seu passado.

Em sua defesa, nunca tinha sido intenção de Seokjin mentir para Namjoon, machucá-lo da forma que fosse. Omitiu a maior parte de quem já tinha sido, mas o fizera por amor. E egoísmo, também, mas principalmente por amor. Amava muito Namjoon e sabia o quanto era amado de volta. Se contasse a ele que tinha sido "filho da Máfia", ele não suportaria. Não queria viver num mundo em que Namjoon não estivesse ao seu lado, e não queria deixá-lo triste lhe premiando com um rancor e uma ausência. Omitiu aquela parte sombria de sua história, porém com a melhor das finalidades. Tinha acreditado que nunca mais iria precisar lidar com o passado, que estava livre, que podia deixar tudo para trás e simplesmente se esquecer. Pensou que as garras da Família jamais o alcançariam de novo, e que poderia ser marido, pai, artesão e confeiteiro em tempo integral, para o resto da vida.

Devia ter sido mais esperto. Devia ter sabido que algo assim era impossível para pessoas como ele. Sequer merecia ser tão feliz para sempre. Mas tinha cometido o erro de ter esperança. E agora estava perdido.

Ainda cogitou pedir ajuda de Namjoon, mas não iria adiantar muita coisa. Por melhor policial que ele fosse, não iria saber lidar com a Família. Quem saberia disso era ele, Seokjin. Em outra circunstância simplesmente se recusaria, mas não havia como. Eles tinham total acesso à sua princesinha. Han Seo não corria risco real de morte, mas o perigo que a rodeava era milhões de vezes pior. Tinha certeza de que Hoseok e Heejin não iriam se livrar dela assim. Era sobrinha deles, afinal. Os três não tinham o laço de sangue, mas eram irmãos. Tinham uma ligação que jamais se desfaria. Não importava que Seokjin tivesse fugido da Família, eles ainda eram três irmãos que se amavam. Sim, Seokjin ainda os amava, apesar de tudo, e estava convicto de que era recíproco. Eles não iriam querer matar Han Seo. Iriam querer dar a ela a melhor vida que podiam imaginar, e para eles, essa vida era com a Família, com seus tios e seu avô, aprendendo os truques da Máfia para, um dia, ser a melhor dentre eles.

Não os culpava por pensarem assim, não de verdade. No fundo, compreendia. Já tinha sido como eles, entendia de onde vinha a sensação. Mas Jane e sua pureza perdida — por sua culpa — tinham feito com que reconsiderasse e percebesse que havia muito mais do que uma vida de crimes e sangue nas mãos. Seokjin lutou pelo direito de buscar a sua própria felicidade, mesmo que lhe cortasse por dentro abandonar a única referência de família que ainda podia se lembrar. Tendo conseguido sair dali, não queria mais voltar, de jeito nenhum. Mas voltaria, se isso poupasse sua borboletinha de experimentar o que ele viveu. Não correria o risco de que ela fosse submetida a um mundo com tanta violência e horror. Não suportaria ser o responsável por destruir sua vida.

Por Han Seo, voltaria a ser quem era. Por sua filha, sujaria as mãos outra vez. Por sua borboletinha, correria o risco de magoar mortalmente Namjoon — e isso o mataria por dentro. Mas faria de tudo por sua menina, se preciso fosse. Qualquer coisa.

Despediu-se de Namjoon com imenso sorriso e um beijo apaixonado. Aproveitou-o como tinha aproveitado os primeiros beijos que trocaram. Sabia o que precisava fazer e sentia que seus atos manchariam tudo para sempre. Queria sentir o sabor dos lábios de Namjoon com a doçura que se acostumara a tirar deles. A partir dali, não estava certo de que as coisas continuariam como sempre foram entre eles. Se sua vida como amava chegasse ao fim... Tentaria ter dela as melhores lembranças. Assim que se viu só, se sentou no sofá e rememorou, novamente, o que precisaria fazer. Infelizmente ainda era muito bom em traçar planos e agir sorrateiramente, de forma que idealizou como iria trabalhar para conseguir garantir a segurança de Han Seo. Tinha vontade de chorar, mas já chorara todas as lágrimas pela madrugara, não lhe restara nenhuma. E, mesmo que ainda tivesse o que chorar, não era o momento. A hora era de agir.

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