Festa de aniversário.

3.3K 450 99
                                    

A porta fechou-se em um baque surdo assim que a desconhecida revelou sua identidade e Lena foi desperta da névoa em que estava, submergindo em um ira interna que queimava seu corpo de dentro para fora.

Filha da puta.

Filhos da puta.

Os nervos de Lena pareciam tremer sob o corpo, sua mente pesou e seus olhos fecharam-se em uma vontade de chorar, as lágrimas ferviam de raiva pelo seu rosto e transbordavam o pequeno bule que eram os seus olhos, enchendo as xícaras que eram as maçãs do seu rosto; vermelho sangue de ódio.

Seu queixo tremeu com indignação e logo seus lábios se uniram em um bico bravo enquanto ela soletrava mentalmente todos as palavrões que conhecia.

Lena levou as palmas da mão até o rosto e limpou as lágrimas com agressividade, como se quisesse descontar a raiva do mundo em si própria e suas bochechas avermelhados pelo toque rude na pele macia comprovaram isso.

Ela se jogou sobre a cama e tentou lutar com todas as forças contra as ondas de lembranças que tentavam apossar a mente dela, ela lutava contra elas todas as noites.

Ironicamente sempre perdia.

National City – alguns anos atrás.

Lionel Luthor celebra aniversário de herdeira Lena Luthor.

ou

Festa de cinco anos da Lee.

(das princesas!)

Como Lena sussurrava para todos os convidados que era levada para comprimentar. Ela estava estonteante em seu vestido de tule vermelho com pequenas borboletas entalhadas e um sorriso brilhante de quem iria comer o primeiro pedaço do enorme bolo de chocolate.

O sol estava radiante e o vento soprava brisas leves e refrescantes, o clima se tornava perfeito, mas nada superava a pequena criatura de cabelos negros saltitando pelo jardim, jardim secreto, como ela dizia com uma entonação sussurrada em segredo.
O quintal estava repleto por flores coloridas, uma única mesa de madeira com bancos acoplados continha o bolo, salgados e todas as espécies de doces que deixavam uma criança eletricamente elétrica, haviam toalhas xadrez espalhadas pela grama verdinha recém aparada para as crianças fazerem piqueniques, alguns brinquedos infláveis e músicas clássicas que pareciam ser cantadas por princesas, os detalhes eram mágicos e aquele ser minúsculo de pele branca e olhos esverdeados, usando um vestido vermelho que a destacava, a fazia parecer um ser mitológico acabado de sair dos contos de fadas.

— Hey, você é uma fada? — uma garotinha de cabelos dourados perguntou.

— Não, eu sou uma princesa! — Lena afirmou, colocando as duas mãozinhas na cintura e a olhou inquisitiva. — E você quem é?

— Eu... eu posso ser Napoleão Bonaparte. — a garotinha disse sorrindo, enquanto empunhava a espada no ar, mas ao ver a outra desviar a atenção para as flores, ficou sem graça. — Mas sou só a Kara.

Kara sentia-se encantada pela menina que dizia ser uma princesa e não era loucura que de fato fosse, ela parecia mesmo com uma do livro de figuras que sua mãe lia, ela havia encontrado uma princesa! era um ótimo tesouro para uma aventureira, mas a princesa parecia não se importar muito com ela e Kara queria tanto sua atenção que não sabia como tê-la e talvez fosse como nos filmes, Kara teria que conquistá-la, mas ela não sabia como fazer isso... se ela ao menos tivesse um cavalo branco.

— Ou também posso ser uma pirata! — Kara exclamou, tinham tantos personagens legais e ela queria ser todos ao mesmo tempo.

Lena achou a garota engraçada, ela tinha cabelos dourados bagunçados, um chapéu de papel na cabeça, uma espada de madeira na mão e não tinha um dente e parecia bastante com com um príncipe encantado, mas só que menina.

— Não, você é minha príncipe. — Lena disse decisiva, quase zangada e o erro gramatical a tornou mais adorável e deixou Kara com dúvidas em inglês.

Kara ficou radiante, o título a fez estufar o peito orgulhosa, mas logo o orgulho se desfez quando a princesa voltou sua atenção para o meio das flores.

— O que você está fazendo? — Kara perguntou soprando pela fresta do dente, enquanto olhava encucada para a princesa.

— Estou procurando um fadinha. — Lena respondeu sem desviar a atenção do jardim, seu vestido se sujando pelos joelhos estarem no chão.

— Uma fada? — Kara disse surpresa, abrindo a boca em um "O" adorável.

— Sim, tenho certeza quê a vi por aqui. — Lena afirmou com plena certeza enquanto levantava e batia as mãos, limpando a sujeira.

— Hey, a onde você vai? — Kara perguntou curiosa e com o coração pulando igual pipoca, mas a princesa não escutou.

Aparentemente toda as suas tentativas de terem a atenção da princesa estavam falhando e quando ela se afastou pelo jardim segurando um urso, Kara não sabia o que fazer, até...

— É meu, devolva! — a princesa falou brava e olhando diretamente para Kara.

Kara havia conseguido sua atenção, total atenção e então se tornou fácil saber como consegui-lá, sempre disseram que ela era uma menina esperta, mas nesse momento ela se achou uma gênia.

— Não. — Kara respondeu simples.

— Sim. — Lena disse dando um passo a frente.

Em questão de segundos ambas travaram um cabo de guerra onde o frágil urso era a corda, de um lado uma garota loira gargalhando e do outro uma morena zangada, mas nada as fazia soltar o urso.
O pobre Senhor. Hugo teve o corpo separado da cabeça e sua espuma rolou bem abaixo dos sapatos de verniz de Lena e então um soluço alto saiu de seus lábios inconformados, fazendo Kara soltar a pelúcia completamente e a princesa cair no chão e chorar até o coração de Kara se transformar em um trem, acelerado e desesperado.

As proporções das coisas que aconteceram a seguir foram rápidas demais para as pequenas crianças assimilarem, Lena foi pega no colo e ninhada no peito  de Lilian e Kara foi pega pela mão e colocada atrás das pernas de Alura e então enormes adultos ficaram tampando suas visões e palavras muito altas começaram a ser ditas.
Lilian afastou Lena da discussão e Alura afastou Kara, mas os pequenos olhos seguiam atentamente tudo o que estava acontecendo.

Lionel estava com o rosto vermelho e Zor-El tinha o cenho franzido, eles falavam tão alto que doíam os ouvidos e logo as pessoas começaram a se afastar e outras crianças a chorar e Kara olhou preocupada para Lena, mas ela parecia aterrorizada, então Lilian simplesmente a largou em um castelo inflável e andou até Lionel e tudo parecia muito assustador para Lena, era sua festa, seu dia e estava tão especial e agora ela não conseguiam se mexer e então uma borboleta pousou no seu nariz e ela simplesmente saiu do estado de torpor com um grito quebrado e a última coisa que ela viu, antes de ser levada para a mansão por Lex foram sombras, Lionel caindo, Lilian a olhando brava e um corpo pequeno se debatendo nos braços e gritando "princesa."

Lena levantou de supetão, essas memórias não eram bem-vindas, ela é uma Luthor e um Luthor não tem tempo para sentimentalismos, limpando o rosto com as mãos e pulando para fora da cama, Lena reiniciou sua mente e a colocou para trabalhar ao seu favor, trancando todos os sentimentos e memórias em pequenas caixinhas.

A Primeira DamaOnde histórias criam vida. Descubra agora