O varal

0 0 0
                                    

Me acordei com o tilintar das gotas pesadas de chuva que começavam a cair nas telhas velhas de zinco. Virei e comecei a fechar os olhos e pegar no sono novamente, quando bem longe, eu ouvi uma voz me chamar. Com os olhos pesados eu lutei pra entender quem me atrapalhava. Lá pela quarta vez que meu nome era repetido, eu percebi que era a minha mãe. Levantei de um pulo do sofá e corri pra janela. La de fora vinha a voz. No meio dos lençóis brancos amarelados, e outras tantas mudas de roupas, eu vi ela puxando roupa por roupa, e enrolado numa bola gigante de tecido, sob o seu braço. Corri e fui para o gramado do quintal dos fundos, ajudar ela a recolher as roupas quase secas, antes do temporal cair com força sobre nós. No horizonte escuro de nuvens pesadas, ele vinha cavalgando com rapidez.
Com rapidez e esmero, eu e minha mãe, pegávamos com agilidade peça por peça.
Olhei para ela e parada ela estava, me observando sem nada embaixo do braço. Seus olhos pareciam cansados. Estranhei, pois ela havia começado a recolher antes de mim, e nao vi o cesto de roupas perto dela. Me virei e continuei recolhendo.
Então, eu à ouvi gritar de novo, desta vez do lado oposto, distante de mim. Estranhei. Pra que gritar, eu estava na frente dela
Afastei o cobertor e vi ela parada na janela, seu olhar era assustado. Me olhando ela apontava para trás de mim. Seus lábios balbuciaram.
- Quem é a sua amiga, filha?
Gelei.
Me virei e estavam apenas as roupas emboladas e caídas no gramado molhado. Nelas haviam marcas negras, marcas feitas por mãos sujas de piche. Não havia mais. ninguém.

Ampolas De SustosOnde histórias criam vida. Descubra agora