sangue de ébano

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Sangue de ébano 

Quanto olhos julgam?

Quantos olhares dos pés à cabeça?

Rádio comunicador quando o primeiro passo é dado, tiro antes do aviso mandado.

Espancado sem perguntar, acusado sem errar.

Bancos vazios ao meu lado em ônibus lotado, celular guardado quando me vêem caminhando gingado.

Cabelos amarelos recebem elogios, cabelos carapinho deboche e sorrisinho.

Olhos azuis são venerados, peles rosadas reverências e palmas, pele escura, xingamento e chibatada.

A raiva cresce, o ódio empata, quantas vezes imaginei pagar com a mesma nota.

Um dia será diferente, um dia nos verão como gente.

Enquanto a igualdade é sonho, eu respondo com os punhos, dor e medo, criando lutos.

Lágrimas correm do meu rosto, enquanto eu vejo eles no fogo, emocionado e feliz com dor em seu rosto agora humildes implorando, uma chance que eu sempre quis.

Dizem que tem mãe, pai, esposas, filhos e família.

Eu penso se eu também não tinha.

Com medo em seus olhos, eu saboreio o momento, enquanto vejo seus olhos estourando, sua pele queimando, seu cabelo fumegando. 

As chamas brilham em meus olhos, as cinzas voam com o vento. Eu sentado no banco apenas admirando o doce momento.

Sangue foi derramado, sangue será ainda mais chorado. Eu queria que a paz entre nós reinasse, que os sorrisos se encontrassem.

Mas só querem a diferença, só querem a indiferença, imploram por violência.

Então eu jogo do mesmo jogo, e acabo dando o mesmo troco.

Sangue por sangue, olho por olho, Hamurabi é tão antigo e ao mesmo tempo tão novo, se fazendo presente um dia após o outro.

Enquanto eu estiver de pé, nosso sangue de ébano jamais terão, pois antes de nós, eu farei eles irem ao chão.

Sangue de ébano.


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