Capítulo 14

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— Tá acompanhada do Bruno, com um galã de olho em você… A coisa tá boa, hein. – Vitória diz assim que vê Ana se aproximando, controlando uma risada irônica. Enquanto eu pensava em como agir com ela, já estava nos braços do Bruno, de novo, pensou, engolindo a seco.

— É o irmão do Bruno.

— Ah, é? Manda um beijo pra ele, pra ele e pro seu namoradinho. Vi o beijo de vocês, foi lindo! – ela aumenta o tom de voz na última frase, se levantando dali.

— Vitória! – Ana tenta a impedir de ir embora uma vez. Sabia que a cacheada não estava sóbria e por isso não fazia questão daquela conversa acontecer naquele momento. — Beijei ele sim. Tu fez o mesmo, porra!

— O quê?! – Vitória para de andar, se virando novamente para Ana e indo em sua direção.

— Ah, vai se fazer de santa agora? – a morena ri ironicamente. — Eu vi tu beijando a Luiza, todo mundo viu. – Vitória fica em silêncio, não sabendo o que dizer. — E ainda acha que tem moral pra ficar puta comigo porque me viu beijando outro... – ela vira o copo de caipirinha de uma só vez, cruzando seus braços.

A cacheada abre e fecha a boca várias vezes, ainda sem saber o que responder.

— Eu acho melhor a gente conversar depois, Ana.

— Nem pensar! Tu insistiu tanto pra gente se encontrar no fim da festa, depois que todo mundo fosse embora, e agora não quer mais?

— A gente não tá sóbria, Ana. Amanhã vamos estar arrependidas de termos conversado nesse estado. – ela insiste em parar a conversa por ali, mas não convence Ana. Elas ficam em silêncio, apenas se olhando.

— Tu beijou a Luiza e gostou. Depois, veio pedir pra me encontrar no fim da festa, longe de todo mundo. – ela diz, dando uma pausa logo depois. Vitória franze o cenho ao ver que o queixo de Ana havia começado a tremer.

— Ana… – a cacheada diz, mas logo sua fala é cortada por Ana.

— Se você quer ser o meu amor de fim de festa, eu preciso de alguém que queira me amar a festa inteira. – a morena fala lentamente, sentindo seus olhos marejarem e logo as lágrimas que tanto havia tentado evitar desceram pelo seu rosto.

Vitória travou o maxilar, sentindo seus olhos marejarem também. Ela se aproxima, ainda com os olhos nos olhos de Ana. A cacheada entorta os lábios na tentativa de impedir o choro. Ela deposita um beijo na cabeça de Ana, se virando logo depois.

— Tu não vai dizer nada?! – a morena quase grita ao vê-la indo embora. Continuava chorando, porém agora, em um misto de tristeza e raiva. Ana havia falado o que estava sentindo para Vitória, e ela simplesmente iria virar as costas e ir embora?

— A gente tá bêbada, Ana. – a cacheada responde após um suspiro, ainda de costas. — Depois conversamos sobre isso. – e começou a andar de volta para a festa. De longe, Ana conseguiu ver Luiza indo até ela assim que passou pela porta.

Colocou a cabeça entre as mãos, libertando o choro, já que estava sozinha. Dentro da casa, Vitória ia em direção às bebidas, e Luiza ia atrás dela.

— Onde você tava?

— Lá fora. Tava me sentindo sufocada aqui dentro. Ainda tô. – ela responde rapidamente. — Eu vou no banheiro retocar a maquiagem. – a cacheada diz, se afastando rapidamente.

Vitória entrou no cômodo, verificou se estava sozinha, e após concluir que sim, parou em frente ao espelho. Observou a maquiagem que foi feita cuidadosamente pela mesma ser desmanchada pelas lágrimas que ela agora não precisava mais controlar.

— Vitória? – Maju entra no banheiro lentamente, logo a vendo. — Ô, meu Deus… Aconteceu algo? – ela pergunta indo até ela.

— Aconteceu. – a cacheada respondeu simplesmente, encarando o seu reflexo no espelho e negando com a cabeça, rindo para si mesmo de forma irônica. 

— Vi… – a morena diz, se aproximando preocupada. Se sóbria, Vitória se culparia por aquela cena no meio de um dia especial para a amiga, mas estava bêbada demais para sequer pensar nisso.

— Não, Maju. – a loira disse encarando os olhos da amiga. — Eu vou indo, tá bom? Vou me trancar no meu quarto, e é melhor eu ficar lá, sozinha, pra sempre… Porque é isso que eu faço quando fico perto das pessoas. – deu um soluço de choro, logo continuando. — Eu estrago as coisas.

— Não tem que ser assim. – a amiga disse, encarando a mais alta pelo reflexo do espelho. — Você sabe que não tem.

— Maria, olha. – ela se virou, olhando pra garota de frente agora. — É seu dia, você está radiante. Não se importe com a sua irmãzinha problemática. Eu sempre estrago tudo, não é? Alguém tem que assumir o posto de problema da família. – ela disse, enxugando uma das lágrimas de seu rosto, borrando ainda mais a maquiagem. — E eu sou essa pessoa. – terminou, e então saiu do lugar, deixando a amiga sozinha e  voltando para a pista de dança, praticamente vazia àquele horário.

Se sentiu patética procurando por Luiza, pois ela provavelmente era a única pessoa que queria vê-la naquele momento. Talvez por efeito da bebida e da pequena discussão que teve com Ana alguns minutos atrás, queria alguém para curar a carência que ela sentia naquele momento. Também se sentia ainda mais culpada por querer isso.

— Ei, você sumiu… – a ruiva diz ao seu lado, a assustando pois a cacheada não tinha visto ela chegando.

— É, eu acabei… demorando um pouco. – Vitória sorri fraco, a olhando. Era mesmo uma boa ideia?

— Tu quer ir num barzinho que tem aqui perto?

— Eu acho que vou ficar por aqui mesmo, Luiza. – Não, era definitivamente uma péssima ideia.

— Ah, ok… – a ruiva entortou os lábios e olhou para frente, não era essa resposta que ela esperava depois de ter beijado a cacheada naquele dia. — Pode me levar em casa?

— Uhum, vamos. – a cacheada respondeu, acenando com a cabeça para fora da festa. Luiza estendeu sua mão, pegando a mão de Vitória, que apenas caminhou para fora junto da ruiva.

Quando saíram, andando, na esquina passaram por Ana Clara. A garota ignorou as duas, olhou para outro lado, e colocou seus fones de ouvido, dando play em seu celular, a música começando a tocar.

“Eu vou te amar como um idiota ama
Vou te pendurar num quadro bem do lado da minha cama
Eu espero enquanto você vive
Mas não esquece que a gente existe”

Sentiu a lágrima escorrer pelo seu rosto ao mesmo tempo que a chuva caiu do céu. Ana não se importou, e voltou a caminhar em direção à sua casa, se deixando molhar.

Sempre quis tanto amar, sempre esperou a vida toda por um amor daqueles de tirar o fôlego. Só não imaginava que ele chegaria assim, e que quando ela pudesse finalmente então amar, seria do jeito que um idiota ama.

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