Capítulo 3

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Assim que Ana acorda, sente uma dor de cabeça como nunca havia sentido antes. Ela abre seus olhos lentamente, tentando se acostumar com a luz do sol que entrava no quarto.

Enquanto se sentava na cama, ouviu três batidas leves na sua porta e não respondeu, pois sabia quem era.

— Bom dia, flor do dia! – Pedro falou animado enquanto entrava no quarto.

— Bom dia... – Ana o respondeu baixo. Ela fecha os olhos fortemente, tentando aliviar a dor de cabeça, em vão. — Como tu entrou aqui?

— Seus pais me conhecem, e eu que te trouxe pra casa ontem, então eu meio que tenho passe livre.

— Ah... – foi a única coisa que Ana conseguiu dizer.

— Tem remédio pra dor aí na mesinha de cabeceira, a água tá aqui. – Pedro a entrega o copo de água e ela engole o comprimido, agradecendo logo depois. — E aí, qual é a sensação de ter uma ressaca pela primeira vez?

— Não é a primeira vez que eu fico bêbada. – ela rebate rapidamente. — Já fiquei em uma festa de 15 anos que eu fui e trouxeram bebida escondido. Ok, eu não fiquei exatamente bêbada, mas foi a primeira vez que eu bebi.

— Uau, quem diria, hein? Ana Clara Caetano infringindo a lei. Não esperava isso de você, Ana... – o garoto finge desapontamento, arrancando uma risada da mais baixa. — E como foi a festa? Acabei te perdendo de vista.

— Percebi. – ela disse rindo baixo, se lembrando da cena dele e de Ester na pista de dança. Sentiu o estômago embrulhar quando lembrou que minutos depois, beijava Vitória Falcão na mesma pista.

— Que foi? – perguntou o amigo.

— Que foi o quê? – rebateu Ana.

— Tua cara. Tá igual a Thais do BBB com essa rápida mudança de expressão. – Ana nem riu da piada do amigo, porque estava pensando se comentava sobre o que aconteceu na noite anterior. Ela sabia que não conseguiria simplesmente não contar pra ninguém.

— Fecha a porta. – pediu. O amigo não entendeu nada, mas levantou e fechou a porta.

— Aconteceu alguma coisa? – ele pergunta, começando a ficar preocupado.

— Não. Quer dizer, sim. – Ana cessa sua fala, tomando coragem para dizer o que aconteceu na noite anterior. — Tu sabe que eu fiquei bêbada ontem, e acabei fazendo coisas que... eu provavelmente não teria coragem de fazer se tivesse sóbria.

Pedro assente, atento a tudo que a garota o dizia. Ele esperou Ana prosseguir, porém nada mais foi dito.

— O que aconteceu lá, Ana? – ele pergunta, e apenas vê a garota o olhar. — Se tu não quiser me falar, tudo bem, eu entendo...

— Não, eu quero. – ela o interrompe rapidamente. — Eu beijei a Vitória ontem.

— A Vitória, Vitória?

— Vitória, Vitória. – Ana concorda e Pedro volta a ficar em silêncio. — A gente ficou na festa, Pedro.

O tom de voz de Ana era meio baixo, como se ela estivesse conversando consigo mesma. A garota abaixa seu olhar e começa a mexer em seus dedos, sentindo Pedro continuar a olhá-la. Temia a reação do amigo, que ele a julgasse de alguma forma.

— Não vai falar nada? – perguntou após um tempo, o encarando. Ele não havia esboçado reação alguma, e aquilo realmente assustou a garota.

— Desculpa. Eu só fiquei sem palavras. Nunca imaginei. Mas... – Ana o cortou.

— Eu nunca imaginei também.

— Mas aconteceu, não é? Nós sempre fazemos loucuras quando bebemos, ainda mais quando não estamos tão acostumados.

— Pedro, tu não entendeu.

— O que?

— Eu quis dizer que a bebida me deu coragem pra fazer isso. Mas não é como se... sei lá, fosse uma coisa que eu não quisesse e fiz por diversão naquela festa, sabe? Eu quis beijar ela. E eu gostei. – Ana disse e suspirou fundo. — Gostei muito. – completou ela baixinho.

— Isso significa que... – a amiga o cortou novamente.

— Que eu sou... bi?! Eu não sei. – Pedro se sentou na cama, e abriu um pequeno sorriso pra Ana, que frustrada, enterrou a cabeça entre as mãos.

— Ei, que foi? – perguntou o amigo, pegando sua mão. Ana ergueu a cabeça, o encarando.

— Eu sinto que assinei um termo consentindo que vou me ferrar. E o pior ainda é que eu gostei disso. Agora eu acabei de acordar e já estou questionando a atração que senti por pessoas a minha vida toda, e olha que nem foram muitas.

— Ana, calma. É muito pra você. Só... respira. Ok? – ela obedeceu e tomou uma suspirada profunda. — Esse é o tipo de descoberta que leva mesmo um tempo. Não quer dizer que você vai se ferrar. E se você se ferrar, a gente se ferra junto. Ok?

— Hm? O que tu quer dizer com isso?

— Ana, tu nunca percebeu? – o amigo riu, e Ana negou com a cabeça. — Bem que a Ester diz que tu é muito ingênua.

— Para, Pedro. O que eu não sei?

— Ana, eu sou bi. – o amigo disse e deu de ombros.

— Que? Por que tu nunca me disse?! – a amiga perguntou incrédula, quase se jogando nele e o abraçando, no fim das contas, feliz por ele ter compartilhado com ela.

— Achei que fosse óbvio. – ele riu, a abraçando de volta.

E então a tormenta dentro de si se acalmou por hora, sabendo que tinha um ponto de segurança em Pedro, e que não deveria temer falar sobre nada — inclusive coisas do seu agora confuso coração —  para o amigo.

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