— Tu quer repassar o plano? – Ester pergunta para Ana, ainda no caminho da balada.
— Não. – ela responde, mesmo assim repassando o plano mentalmente.
"Por que é que eu fui inventar isso?", perguntou a si mesma. Chegando no local, pararam a alguns metros antes da entrada. Ana olhou para o grande portão onde tinham dois seguranças, e então suspirou fundo, caminhando até a entrada com Ester, aguardando sua vez na fila.
— Documento, por favor. – o segurança pediu. Ana deu seu melhor sorriso e entregou seu documento, esperando que ele não fosse tão bom assim em matemática. — Você não tem dezoito anos. – o homem disse como se fosse óbvio, devolvendo seu documento. — Não pode entrar.
— Tem certeza que olhou direito? – disse Ana, tombando com a cabeça para o lado, sem retomar o documento.
— Você não pode entrar. – disse o segurança, como se fosse óbvio, e direcionou o olhar para Ester.
— Ela tá comigo, ok? E tem dezoito anos. – nesse momento, Ester entregou seu documento. — Não vou beber. Só... me deixa entrar, por favor. – pediu Ana, juntando suas mãos.
— Não pode entrar. – repetiu o homem, dando passagem pra Ester, que suspirou, se dando por vencida e se virando para ir embora. Ana segurou seu braço.
— Não. Entra. – disse a menor, olhando fixamente pra amiga.
— Ana, mas... – ela contestou, enquanto o segurança esperava impaciente que elas se resolvessem.
— Entra, ok? – disse Ana a encarando fixamente, então Ester entendeu o recado. A soltou e entrou na festa, enquanto Ana saiu da fila e deu a volta no quarteirão, na parte dos fundos do galpão.
Levou alguns minutos andando em torno do ambiente até descobrir o ponto mais baixo; na área dos fumantes, havia um muro não tão alto quanto no restante do ambiente. Se não estivesse errada, era pouco maior que ela.
Ana respirou fundo, precisava entrar. Se apoiou na parede e agradeceu mentalmente por ter dispensado os saltos da amiga, apoiando seu pé em um vão que havia na parede. Com um pouco de dificuldade, impulsionou seu corpo e jogou uma das pernas para cima do muro, logo se jogando para o outro lado. Com sorte, caiu na grama, mas rolou pateticamente, caindo sentada logo depois.
— Merda. – disse, passando a mão pelo joelho que sangrava e ardia. Seu braço também tinha alguns ralados, mas nada demais. Se levantou, tentando recuperar a dignidade, arrumou a roupa e foi até a porta dos fundos da balada, a empurrando, então finalmente entrou no local, logo escutando a música alta.
A primeira coisa que reparou foi no letreiro grande e em neon que havia no alto com o nome da balada, Tavern 201. Respirou fundo, adentrando ainda mais ali.
Passou os olhos rapidamente pelas pessoas, procurando algum rosto familiar. Após alguns segundos, reconheceu Ester no meio da multidão. Foi até ela, esbarrando em algumas pessoas no caminho.
— Deu certo? – foi a primeira coisa que a amiga perguntou ao vê-la se aproximando.
— Deu. – Ana responde, respirando fundo ao se lembrar dos ralados pelo seu corpo. — Tu viu a Vitória? – ela pergunta, voltando a olhar ao seu redor.
— Não vi ela ainda não. – a amiga responde, também olhando rapidamente ao seu redor. — Já já tu deve achar ela.
Ana sorri e sai de perto da amiga, indo em direção ao open bar. Seu pedido foi apenas uma caipirinha de limão, que rapidamente ficou pronta. Com o copo em mãos, tomou um gole da bebida, sentindo o ardor refrescante descendo pela sua garganta.
Se virou novamente, voltando a observar as pessoas. Após alguns segundos, o que viu a fez tremer da cabeça aos pés. Era Vitória dançando na pista de dança ao som de um funk que tocava. A cacheada vestia uma camiseta branca de botões preto e uma calça preta, e Ana reparou no all star preto que ela calçava.
Foi em sua direção lentamente, não desviando seus olhos dela um segundo sequer. O jeito que Vitória balançava seu corpo e jogava seu cabelo no ritmo da música a deixou vidrada. Se aproximou sem pressa. Quando finalmente estava próxima o bastante, ficou atrás dela.
— Finalmente consegui te encontrar. – Ana disse, fazendo Vitória se assustar com a repentina aparição.
— Achei até que tu demorou, viu. – ela se vira para a mais baixa, sorrindo de canto enquanto a cumprimentava com um beijo em cada uma de suas bochechas.
— Não era beijo na bochecha que eu queria. – Ana sorri, Vitória sente seu hálito levemente alcoólico.
— Vai ter que esperar um pouco pra algo melhor. – a cacheada diz ao pegar na cintura da menor, começando a dançar mais lento quando "Várias Queixas" começa a tocar.
"Pode fazer o que quiser, até me machucar
Transborda no meu coração só amor"— Essa música seria literalmente minha pra você. – Ana ri ao falar no ouvido da cacheada.
— Que? Por que? – perguntou ela.
— Vem comigo que eu mostro. – riu, oferecendo a mão pra Vitória, então a levou pra um local mais claro e menos silencioso. — Já ouviu falar que essa balada só entra maior de idade? – riu.
— Sim, claro... Por que? – Vitória não se lembrava que Ana era alguns meses mais nova.
— Pois é... eu tenho dezessete anos. – riu Ana, levantando seu joelho e apoiando num pufe, mostrando o ralado para Vitória.
— Ana! – a cacheada exclamou ao ver os machucados, não conseguindo segurar o riso. — Se tu é de menor, como teus pais deixam você beber? Eles são religiosos, não são?
— São. – Ana suspira. — Mas eles não precisam saber de tudo. – Vitória arqueia as sobrancelhas com aquela resposta. — Tu me chamou aqui só pra gente ficar falando do que eu faço sendo menor de idade?! – a mais nova abaixou o tom de voz, se aproximando de Vitória.
— Não... tem muita coisa melhor pra gente fazer.
Ana se sentia vulnerável sob o olhar da cacheada, que a engolia com o olhar.
— Tipo o quê? – ela pergunta, deixando os rostos a milímetros de distância. Ana morde seu lábio inferior, colocando uma mecha do cabelo de Vitória que estava caído em seu rosto atrás de sua orelha.
— Tipo... – sorriu a maior, deixando um selinho demorado nos lábios de Ana. — Queria dizer que quero te ver mais vezes.
— Hm? – perguntou Ana Clara.
— Tipo, fora daqui. Fora de festa. Dos finais delas, principalmente. Quero te encontrar nos corredores. Nas bibliotecas. Nas sorveterias. – dizia a cacheada, pausadamente entre selares. — Só quero te ver, seja lá onde quer que tu esteja.
— Eu quero te ver também. – o coração de Ana batia a uma velocidade tão alta que temia que Vitória escutasse. — Em qualquer um desses lugares... – Vitória a puxou, começando um beijo de entrega.
Ana se entregava sem temer perdurar; só entregava todos os seus infinitos para aqueles finitos segundos de beijo.
— Eu te amo, Vi. – as palavras saem antes que Ana consiga segurá-las. Apesar de ter dito aquilo em um tom de voz baixíssimo, tinha quase certeza de que a cacheada havia escutado. Vitória se afasta minimamente, vidrando os olhos marte nos castanhos. Ana esperou uma resposta, mas não recebeu. — Desculpa. Desculpa por ter dito isso. – pediu, se culpando.
— Tudo bem. – Vitória respondeu depois de algum tempo, então suspirou profundo e saiu, deixando Ana Clara sozinha.
Ana e suas malditas palavras que não foram seguradas.
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Todas as noites
RomanceNuma cidade pacata, tudo se transforma em novidade, então, a chegada da nova aluna no tradicional colégio de Araguaína passa a ser comentada por todos. Ana Caetano não se importava o suficiente pra isso, ou ao menos pensava que não. Um pouco de álco...