Após se beijarem, os olhos castanhos de Ana encaram a infinidade contida nos olhos de Vitória, os mesmos estavam levemente avermelhados devido ao choro recente. Os lábios de Vitória se curvam de leve, puxando Ana com delicadeza e selando seus lábios brevemente.
— Eu também gosto de você, Vi. – Ana sussurra contra seus lábios. — Tipo… Eu já disse isso. Mas de novo. Aquela história de te amar é verdade, sabe? Pra caralho. Meio que… completamente apaixonada. – a morena riu ao perceber que se perdeu em suas próprias palavras. — E sobre isso que você disse, nós podemos… Descobrir juntas, talvez?
Vitória ficou em silêncio. Sentiu uma lágrima solitária escorrer pela sua bochecha. Gostaria de olhar nos olhos de Ana e despejar tudo, todas as dores, os traumas, deixar que ela lhe colocasse o dedo na ferida. Gostaria de abrir sua alma, mostrar as cicatrizes e aquelas feridas que ainda não haviam cicatrizado.
Mas sabia que estragaria por completo o momento. Então, ao invés disso, só limpou a lágrima, assentiu com a cabeça e falou:
— Sim, vamos descobrir juntas. – segurou na mão de Ana Clara, a levou até os lábios, depositando um beijo nas costas da mesma. Gostaria de dizer desculpa, mas não conseguiu verbalizar a palavra. — Preciso ir. Nos vemos por aí?
Ana suspirou, pois não sabia quanto tempo demoraria para “vê-la por aí”. Mas assentiu com a cabeça, e curvou seus lábios em um pequeno sorriso.
— Uhum, nos vemos por aí.
E então, observou a cacheada sumir de vista, no meio da chuva que havia enfraquecido. Ambas pensavam que, às vezes, o silêncio era a melhor opção. Mas eram jovens demais para entender que certas palavras, quando não ditas, envenenam mais que qualquer verdade dolorida.
Vitória não contou de suas dores e traumas. Engoliu as desculpas que não conseguiu pedir. Ana queria dizer: fica, talvez possamos assistir um filme enquanto a chuva não passa. Ou: será que posso saber quando te vejo de novo?
Vitória foi embora com suas palavras que não conseguiu dizer. Ana ficou com as palavras que engoliu. Ambas guardando uma a outra no peito, se prendendo a palavras que poderiam ter dito.
A menor entrou em casa novamente, ignorando o olhar confuso de sua mãe ao vê-la molhada pela chuva. Subiu para seu quarto, foi direto até sua cama e se sentou. Assim que sentiu a primeira lágrima escorrer, cobriu seu rosto com as mãos. Não sabia porque estava chorando, já se sentia perdida em meio a um mar de sentimentos. Não percebeu quanto tempo passou ali, mas quando se olhou no espelho de seu quarto, percebeu que seus olhos estavam inchados.
Enquanto isso, Vitória passou direto por sua casa, indo até uma pracinha e se sentando no primeiro banco que viu em sua frente. Suspirou ao sentir seus olhos marejarem novamente. Logo suas lágrimas se misturaram com a chuva mais uma vez, então não se preocupou em impedi-las: chorou toda a dor que tinha guardado dentro de si.
Podiam estar juntas: compartilhando de suas histórias, medos, sonhos. Poderiam contar sobre a infância, sobre a primeira vez que se apaixonaram, o primeiro coração partido. Poderiam ter dito tanta coisa, mas ao invés disso, Vitória foi embora como sempre o fazia, deixando entre as duas a interrogação de quando se veriam novamente.
E essa interrogação é deixada cravada no peito juntamente a um questionamento que machuca: vou vê-la novamente? Ana amava Vitória, realmente a amava, mas às vezes era exaustivo nunca ter respostas para suas perguntas.
Após tantos dias se perguntando, guardando para si inúmeras questões, seus olhos desavisados encontraram a cacheada, mais de duas semanas depois, sentada na mesa de uma biblioteca, onde Ana tinha ido pegar um livro.
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Todas as noites
RomansaNuma cidade pacata, tudo se transforma em novidade, então, a chegada da nova aluna no tradicional colégio de Araguaína passa a ser comentada por todos. Ana Caetano não se importava o suficiente pra isso, ou ao menos pensava que não. Um pouco de álco...