Aleksandra Orlova

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Aleksandra um dia acreditou no amor, por mais que fosse a filha indesejada de uma prostituta que nem sabia o nome de seu pai biológico e houvesse passado a vida inteira vendo a mãe em relacionamentos falidos, casos que não levavam a nada e um trabalho vergonhoso. Lembrava-se claramente das vezes em que a mulher dizia que ela havia a prejudicado sua vida e que deveria ser grata por ter nascido. E mesmo sem nenhum apoio ela tentou manter um sentimento bom em si, mas depois de tantas provas de sua falta de sorte a crença em dias melhores acabou.

Vivendo em um mundo que a odiava, desde bem jovem Ale percebeu que suas chances eram limitadas, a mãe não fazia questão de dar a ela a infância que merecia, a mulher a fez acreditar que ela não tinha valor, a deixava sozinha em casa por dias ou com estranhos para que pudesse trabalhar e ter de seguir os mesmos passos da mãe, que era sua pior referência, para sobreviver aumentava o seu descontentamento com a vida. 

Por muitos anos buscou ser diferente, tentou ter bons relacionamentos e amigos que a respeitassem, se candidatou a vagas de empregos comuns, tentou estudar, mas sabia que não era boa o suficiente. Seus namorados se mostravam ruins, seus amigos não estavam lá quando ela precisava e o fato de ter largado a escola antes de completar o ensino médio dava a ela um leque menor de oportunidades, e tão poucas chances a jogaram no colo de um submundo cruel, onde ela realmente não tinha valor e sim um preço.

E por mais que houvesse passado anos na escuridão, tendo a palavra esperança como uma peça perdida em seu vocabulário, ela pensou que podia resgatá-la ao conhecer Kazimir. Teria sido um dia comum de trabalho se aquele jovem universitário não tivesse aparecido para assistir seu show de pole dance, onde cada peça de sua roupa encontraria o chão. Ela geralmente não prestava atenção nos clientes, mas o achou lindo, os olhos em tom de mel escondidos atrás dos óculos e o sorriso encantador do rapaz aceleraram seu coração, podia facilmente dizer que dançou para ele naquela noite, admitiria que amou ser vista não apenas como uma mercadoria, mas como alguém que devesse ser admirado; Ka retornou outras três vezes até que finalmente pagou para passar uma hora com ela. Ela estava tão nervosa que não conseguiu encarnar seu alter ego e ao invés de ser a sexy e destemida Lori, foi apenas a Aleksandra, uma mulher de vinte e quatro anos que estava empolgada em conhecer alguém novo e gentil, conversaram durante todo o tempo que passaram juntos e isso se repetiu por outros dias, a ponto dela esperar pela presença dele e ultrapassar o horário permitido.

Estavam tão íntimos que ela já nem o cobrava, estar com ele se tornou uma necessidade romântica e não financeira e por isso decidiram se ver fora do prostibulo e foi em um desses encontros românticos que Aleksandra engravidou. Kazimir não esperava por aquilo, mas foi gentil e decidiu assumi-la como esposa e ao parar de se vender como um produto, Ale prometeu que não voltaria nunca mais para aquela vida. 

Porém, a paz e a tranquilidade de estar casada e criar a filha em um bom apartamento não durou mais de dois anos, Kazimir havia sofrido um acidente e com uma criança pequena em casa, um marido doente e contas altíssimas, Ale voltou a fazer aquilo que sabia e por ter escondido sua volta a prostituição, seu casamento não durou, seu lar ruiu e ela foi obrigada a se afastar da filha. Ficar longe de Viktória e ter direito apenas a visitas acompanhadas pela ex sogra que a odiava, minava ainda mais sua confiança, não podia ser mãe, não tinha mas o marido e nem uma casa para voltar depois de seu odioso trabalho, e ter tido o gostinho de como uma vida normal podia ser a deixava saudosa, nunca se esqueceria da sensação de ter um lar.

A fantasia de uma vida perfeita não fazia sentido para ela e aceitando essa dura realidade, passando noites longas com diversos homens que faziam com ela o que queriam, Ale voltou a crer que não tinha valor algum e foi esse pensamento que a fez sentar em um dos degraus da escada ao invés de tentar fugir da boate que pegava fogo. 

As Justiceiras - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora