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Mila entrou no restaurante e procurou por Zobinin, o homem engomadinho e com um cavanhaque cheio de fiapos brancos, era um funcionário antigo de seu pai e sempre a tratou muito bem, provavelmente não tinha muita escolha quanto a isso, porém Mila não podia negar que ele era extremamente gentil

—Senhorita Arnaturova...—Ele falou ao contornar a mesa e puxar a cadeira para que ela sentasse, Mila agradeceu ao faze-lo e cruzar as pernas, observando o grisalho voltar ao seu assento, ficando de frente para ela 

—O Dirk foi ao toilette, creio que já esteja voltando!—Disse ao pegar a garrafa de vinho e encher a taça que pertenceria a ela—É um vinho suave, espero que goste! Tem idade para beber?

Ela anuiu com um sorriso singelo —Obrigada!—Disse ao aproximar a taça dos lábios

—Não há o que agradecer!—Ele tentou sorrir, mas seus olhos ganharam um toque carregado e seu rosto antes iluminado, parecia ter escurecido de repente —Eu nem imagino o quão difícil deve estar sendo, lidar com a morte do pai e ver o Andrey nessa situação difícil...Falei com ele rapidamente hoje na empresa...Como alguém pode ter acabado com sua família dessa forma?

Mila colocou a mochila no colo e não disse absolutamente nada, o que poderia dizer? Qualquer resposta que desse seria mentirosa e falha, as pessoas viam Artem como um homem respeitável e protetor, o pai perfeito, como explicar que ela se sentia aliviada em andar pelo corredor do segundo andar e saber que o pai não estava no quarto?

—Ai está ele!—Zobinin sorriu ao ver Dirk voltar do banheiro e cumprimentar Mila com um breve aceno com a cabeça 

—Tenho que dizer que eu esperava uma ligação do Andrey, mas quando atendi e ouvi sua voz me surpreendi!—Falou Dirk ao desabotoar o paletó que espremia sua barriga avantajada e sentar a esquerda da jovem—Você me parecia séria ao dizer que precisava me ver!—Arrumou a postura na cadeira um tanto impaciente—Fiquei curioso!  

—Vamos comer primeiro? Artem costumava dizer que bons acordos não são feitos de estômago vazio! 

Mila deu uma risada baixa apenas para acompanhar os outros homens, o homem que dizia aquilo sobre comida era o mesmo que deixava os filhos sem comer por dois ou três dias como punição, com a desculpa de ensiná-los sobre aguentar a dor e barganhar pelo o que precisa

—Vai querer pedir algo?—Questionou Zobinin—Eu pago!

—Não, obrigada

—Se ela pedir eu faço questão de pagar!—Dirk sorriu—Será uma honra para mim!

—Realmente não precisa!—Ela disse com firmeza, tomando mais um gole do vinho, por mais que estivesse preparada para encontrar com eles e houvesse treinado o que dizer,agora lhe faltavam as palavras certas e a oportunidade, em sua cabeça achou que seria bem mais simples tirar a câmera da bolsa e revelar o que sabia para que eles aceitassem que a próxima no comando seria ela e assim, quem sabe, a ajudarem a tirar Andrey de cena, na verdade ela não havia pensado muito sobre o final do plano e essa insegurança mascarada pelos sorrisos e gestos amigáveis, tornava tudo ainda mais difícil . Talvez Denis estivesse certo e ela devesse se manter longe de tudo aquilo

"NADA DE DESISTIR, VOCÊ CONSEGUE"

—Quero que saiba que mobilizei os melhores advogados do escritório para cuidar do caso! Seu pai e eu fechamos um acordo benéfico para nós dois antes da morte dele e eu vou cumprir a minha parte, o Andrey não será preso, confia em mim!

Mila se controlou para não revirar seus belos olhos azuis por puro tédio, aquele homem gordinho que era um dos advogados mais respeitados da Rússia agia como uma criança em busca de um elogio, mas Mila não acariciou o ego dele, não estava ali para isso, na verdade pensou em como responder a ele, mas não teve tempo de dizer nada, Eugene, seu último convidado daquela tarde, aproximou-se da mesa e sorriu para ela

As Justiceiras - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora