+ 26 +

32 2 1
                                    

Angélica nunca se atrasava, ser pontual era uma questão de honra e respeito, acreditava que uma pessoa podia ser julgada moralmente por sua pontualidade e por isso odiava aguardar por quem não pensava como tal, mas por se tratar de seu chefe quarenta minutos atrasado para anunciar sua demissão ela não podia simplesmente ir embora

—Desculpe o atraso...—Disse doutor Dirk ao tirar a chave do bolso do paletó e abrir a porta da sala —Pode entrar!—Acendeu a luz esperando pela mulher

Angélica jogou os cabelos para trás e passou pelo chefe

—A última reunião foi um pouco mais longa do que eu esperava! —Ele respirou fundo ao puxar a cadeira e sentar, o homem parecia ainda mais pesado ao se mexer desconfortavelmente na cadeira—Pode sentar!

—Não, eu prefiro ficar de pé!—Colocou a bolsa na cadeira a frente de seu corpo

O chefe a olhou sem entender, mas não retrucou, Ange tinha ensaiado um pequeno monólogo e para que tudo saísse religiosamente como planejado, precisava emanar respeito e não faria isso naquela cadeira

—Vamos direto ao ponto!—Ele respirou fundo ao olhar para o relógio no pulso —Tive duas conversas com o Andrey, uma ontem a noite e outra hoje pela manhã...

—Antes de mais nada peço desculpas por impedi-lo de continuar, mas preciso que me escute!— Notando que o homem não diria nada, ela prosseguiu —Doutor Dirk, trabalho para seu escritório desde que me formei, comecei com uma estagiária e com muito esforço e dedicação alcancei um bom cargo. Tudo que tenho feito, os casos que ganhei, a força que meu nome tem tido no mercado são reflexos de um trabalho árduo, tenho estado aqui por mais horas do que passo em meu apartamento, não estou reclamando, há um retorno financeiro satisfatório para as minhas funções e eu sou grata por toda experiência e relevância que essa empresa trouxe a minha carreira. Minha permanência aqui também é benéfica para o Gena, o senhor deve entender que a troca entre mim e a sua firma vai muito além do dinheiro, quantos dos seus colaboradores tem os mesmos números que eu? Quantos receberam casos cujo o desfecho era inevitável e reverteram a situação? Antes de...

—Doutora Lovietcha, não precisa continuar! —Ele disse a interrompendo, Angélica evitou encará-lo por muito tempo enquanto falava e por isso não sabia se ele tê-la parado era um bom sinal —Antes que nossa conversa se estenda, preciso tranquilizá-la, não vou demiti-la por um capricho do Andrey!

Angélica engoliu a leve onda de alívio somada a euforia e continuou quieta

—Por outro lado não tenho motivo para manter a doutora no caso do Arnaturov, confiei no seu profissionalismo e pensei que ignoraria o laço sanguíneo que tem com a esposa do nosso cliente, foi uma falha minha e da Anna não ver que isso seria um problema!

Com o ego ferido e mantendo a calma Angélica decidiu defender-se —Eu não confundi as coisas, não vejo Andrey Arnaturov como parte da família, muito pelo contrário, mal o conhecia o vi pouquíssimas vezes e quanto a minha prima, não a encontrava desde janeiro, tanto que me surpreendi ao saber da gravidez

—Misturou a vida pessoal a profissional por um laço familiar distante? 

—Não disse que não sou próxima dela, só não tinha conhecimento a que pés estava o relacionamento dela com Andrey!—Ange tentou ignorar o fato de que não fazia visitas ou atendia as ligações de Ilana com frequência por estar focada demais no trabalho —Tirei minha prima daquela casa, mas faria o mesmo por qualquer mulher. Andrey a ameaçou e eu acatei um pedido de socorro, não sou pouco profissional por proteger uma mulher!

Dirk pensou no que dizer e o silêncio de segundos foi quebrado pelo barulho que sua cadeira fez assim que ele se mexeu—Eu deveria ter pensado nisso antes... De qualquer forma, peço que envie todas as suas anotações ao doutor Voronin, ele será o responsável pelo caso a partir de agora, quero todo o progresso que fez com o caso no e-mail dele até amanhã de manhã!

As Justiceiras - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora