As Justiceiras - Série Crianças de Moscou

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Ilana voltou ao apartamento apenas para fazer as malas e mesmo contrariada, Angélica a ajudou a juntar as roupas,  não era um monstro, não deixaria uma grávida abaixar e levantar sozinha e carregar peso, independente de como se sentia sobre isso. 

—Está brava comigo, e mesmo que me ajude você não consegue fingir!

Angélica respirou fundo ao levar a taça com vinho aos lábios e arrastar a mala para o canto da parede

Ilana sentou-se na cama olhando para as malas, estava mesmo prestes a ir, mas não queria que a prima a odiasse por isso —Ficou quieta desde que voltou do trabalho, passou horas no banheiro e...

—Eu precisava lavar o cabelo! —Afirmou ao tocar o topo da cabeça—E... Tem momentos em que preciso de privacidade!

—Nossa..Não quer que eu vá e ao mesmo tempo não me quer aqui!

Ange respirou fundo —Não quis dizer isso!

—Sério? Porque para mim parece que você não gosta de gente!—Ela acariciou a barriga

—Eu gosto de vocês!

—De gente, não da gente!

Percebendo que sua frase soou pior do que esperava, Angélica balançou a cabeça negativamente —Eu admito que não estou acostumada com a bagunça e a confusão que você trouxe para o apartamento, mas isso não significa que eu quero que vá,  quero o seu bem, Ilana, mesmo que não saiba expressar isso da melhor forma.

—Você sempre se fecha quando algo não é como deseja, ontem mesmo, se trancou no quarto e hoje saiu bem cedo!

Ange não disse a ela sobre a visita a Erast no dia anterior e muito menos mencionaria o tempo que perdeu, analisando o caso de Aleksandra naquela manhã, de maneira alguma acreditaria na culpa daquela mulher e esperava que Kliment fosse bom no que fazia para tirar ela da cadeia. Mas quanto aos segredos, Ilana não podia reclamar, afinal não contou sobre a discussão com Denis naquela tarde

—Lembra quando falávamos sobre tudo? 

Suspirou ao contornar a boca da taça com a ponta da unha —Erámos crianças...

—Mas não precisa mudar tanto, pode me dizer se tiver um dia difícil ou me ligar as vezes!

Ange tentou sorrir, mas parecia relutante —Todos os dias são difíceis no meu ramo, trabalho resolvendo problemas dos outros, não tem como ser diferente!

—Você entendeu o que eu quis dizer!—Ilana insistiu

—Não estará mais aqui amanhã e desde que casou com o Andrey, não temos como antes, não pode esperar que eu vomite todos meus problemas assim!—Disse Ange sem esconder o incômodo ao dar outro gole no vinho

—Está sendo injusta comigo, tenho o mesmo número há anos e você nunca liga, eu sempre te procuro, não só em datas especiais...—Disse Ilana ao passar a mão em Milan que antes estava deitado dormindo na cama, o gato a olhou e girou preguiçosamente fugindo do toque—Eu sempre tento me aproximar de você!—Falou e antes que pudesse tocar de novo no gato, o felino desceu do colchão e ronronou ao se arrastar preguiçosamente na panturrilha de Angélica que sorriu ao observá-lo sair do quarto  —Não vai mesmo conversar comigo? 

—O que quer que eu diga?

—Só para de ser um robô, poxa... Será que não entende? Preciso tentar fazer as coisas funcionarem pelo bebê!—Seus olhos encheram-se d'água e notando o quão abalada a grávida parecia, Ange sentou-se ao lado da prima e pegou a mão dela que estava apoiada nas coxas —Preciso voltar para o meu marido!

Ange molhou a garganta com vinho —Não concordo com o que está fazendo e sei o que te disse ontem, mas não duvide, jamais virarei as costas para você, sei que tenta ser minha amiga e que quando o Bishop e a minha mãe faleceram eu fui grosseira, fechada e extremamente robótica, mas...Eu perdi tudo que eu tinha Ilana, eles eram as minha pessoas e essa é a mesma dor que eu sentiria se acontecesse algo com você. Eu te amo prima, você é uma irmã para mim e eu prometo tentar ser mais humana e estender a mão quando você precisar e eu espero mesmo que não precise, mas...