idas e vindas do amor

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— O que aconteceu pra você estar com essa carinha triste? — É a primeira coisa que ouve quando a mãe atende a chamada de vídeo. Oito da manhã e Piper sentia como se estivesse morrendo sufocada. A noite mal dormida não tinha diminuído em nada seus sentimentos — Achei que você estava feliz por aí, aproveitando Verona e a culinária italiana que você parece tanto amar.

O silêncio que se segue enquanto Piper tentava não chorar resulta apenas na mais velha entendendo que alguma coisa havia saído do controle. Os olhos inchados e vermelhos entregavam que ela não tinha dormido direito e que, provavelmente, tinha chorado bastante.

— Só liguei pra dizer que eu vou voltar para Los Angeles — Mais um suspiro cansado. Estava com saudades de casa, mas não era dessa forma abrupta que pretendia voltar — Eu comprei uma passagem para amanhã. Você pode mandar alguém para me buscar no aeroporto?

— Claro, filha — Louise franze o nariz, da mesma forma que Piper fazia quando estava pensando em como dizer alguma coisa. — Você tem certeza que está pronta para voltar? Que quer voltar?

— Não tenho mais o que fazer aqui. Acho que não tem mais nada que possam dizer de mim aí que eu já não tenha escutado — A morena dá de ombros. — E não tem como me sentir pior do que já estou me sentindo, de toda forma. Eu só... ao invés de ficar sozinha, quero ficar com vocês. Não tem muita diferença entre ser miserável aqui ou ser miserável aí.

— O que aconteceu, mon chéri? — A pergunta que nem Piper sabia direito como responder finalmente vem à tona e ela suspira. — É aquele garoto? Jason, o nome dele, né?

— Na verdade, o problema sou eu, acho — Piper conseguia ouvir o tique taque baixinho e regular do relógio na parede. Fica em silêncio por um minuto inteiro, enquanto pensa em como colocar em palavras o que estava acontecendo. — Acho que Verona me entregou um cenário perfeito e eu escrevi o roteiro dia após dia, enquanto fugia da realidade e vivia num mundo cor de rosa que criei para mim. Talvez eu tenha enxergado mais do que o que realmente existe e agora que eu fui jogada no mundo real de novo, não vejo mais motivos para ficar por aqui. Melhor eu ir antes que... eu me machuque ainda mais.

— Você tem certeza, meu amor? — Louise tinha visto, aos poucos, nesses últimos meses, a filha voltar a ser a pessoa de antes de todas aquelas críticas. Tinha visto ela se empenhar, cheia de ideias que desenvolveria depois, tinha a visto parar de se preocupar a todo instante com o que os outros estavam dizendo e só aproveitar a vida, tinha visto como ela estava vivendo em função de si mesma, pela primeira vez desde que tinha, de fato, dado sua alma para fazer parte dos bastidores sujos, competitivos e glamourosos de Hollywood, mas agora... alguém tinha a quebrado de novo.

— Tenho — Pelo menos a voz sai firme. — Eu me diverti me apaixonando, mas... acabou. Acho que é assim que termina — Piper suspira, ponderando as palavras, tentando não soar mais dramática do que se sentia. — É como se existisse essa falha geológica gigantesca entre nós e o desencontro gerou uma turbulência que eu não quero prolongar. Não quero mais me jogar nessa bagunça como se eu fosse o The Rock em San Andreas.

— Eu entendo, querida — Sorri para a filha. — Estou te esperando, então, com muita saudade e alguns potes de sorvete.

— Tudo bem se eu passar umas semanas na sua casa, mãe? Só até eu... juro que vai ser rápido, eu só não quero ficar sendo miserável sozinha. — Seu apartamento era ótimo, tinha uma vista incrível, era amplo e arejado, mas ela se lembrava de como tinha se sentido sufocada lá dentro, olhando seus trabalhos, suas ideias, seus filmes, tudo exposto nas paredes, nas prateleiras, lembrando-a constantemente do que ela mais amava e de como tinha conseguido estragar tudo.

— É claro que você pode ficar aqui o tempo que quiser, minha querida. Também é sua casa. — Louise não podia não perguntar, porque conhecia a filha que tinha, afinal, havia criado a garota e sabia que tinha muito de Tristan nela. Piper também era reativa, fazia antes de pensar, levava as coisas para o coração até demais. O marido e a filha, os dois se machucavam sendo assim, porque queriam abraçar o mundo e se ressentiam quando o mundo não os abraçava de volta. Piper sentia demais, como uma boa filha dela e de Tristan, como a própria irmã. Eram exemplos perfeitos de pessoas que se emocionavam fácil demais e que causavam uma tempestade com a mesma facilidade. — Você tem certeza que quer abrir mão sem nem tentar mais um pouquinho? Eu não quero que você esteja aqui, mas esteja infeliz, Piper.

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