Sala de Treinamento

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Procurei na minha cabeça as poucas informações que eu tinha sobre Divergentes, eu havia ouvido algo sobre eles uma vez, mas eu era criança, não sabia de fato o que era. Me lembrei do que Tori disse sobre a Erudição os procurar a algum tempo... Mas por quê? Talvez um Erudito pudesse me responder isso. Eric? Talvez sim, mas... E se Tori estivesse certa? E se Eric tivesse matado Zachary? Eu estava completamente confusa.

- Não deveria ter falado daquela forma horrível com ela. - Eric não me respondeu, nem me olhou, continuou amarrando o cadarço de suas botas - Ela está fragilizada. Você foi rude.

- Acusar sem provas, não é uma coisa muito inteligente de se fazer.

- Mesmo assim... - Eric somente me olhou, com aquele olhar ameaçador que me fazia tremer por dentro. - Eu... - as palavras custavam a sair da minha boca, limpei a garganta e respirei fundo - Eu não achei legal.

- Está na hora de aprender que as coisas não são legais aqui. Você não está mais na Amizade. 

- Você não precisa me atacar. 

- E você não precisa ser tão frágil. - Eu abaixei a cabeça um pouco contrariada, o humor dele era muito instável e isso me deixava um pouco desconfortável - Ah, por favor, não fique assim... Quer dar uma volta comigo?

- Acho que não.

- Por favor. - Ele me estendeu a mão. Ao mesmo tempo em que me assustava ele me atraia, mas eu neguei - Ok, tudo bem... Eu estarei na sala de treinamento se mudar de ideia.

Ele sabia que o que eu sentia era forte, tanto quanto eu, eu só não havia decidido que tipo de sentimento era. De fato, toda a minha pureza havia sido tomada aos poucos na Audácia, eu via as coisas diferentes do que eu veria a alguns meses atrás e o Eric era uma prova viva disso. Eu o via como um homem que eu queria, e eu o queria de forma que eu preferia não especificar, até mesmo pra mim em meus segredos.

Andei pela Caverna durante um tempo com Joline, ela não era das mais delicadas, mas era a única amiga que eu tinha. Nos distraímos e rimos bastante, ser amiga de alguém com raízes na Franqueza era algo estressante, mais ao mesmo tempo divertido, ela sempre falava o que lhe vinha a cabeça, sem se importar muito com o que iam pensar. Apesar de Joline ter aprendido a se calar nos momentos certos, comigo ela voltava a ser espontânea e extrovertida.

- Não acho que ele tenha feito, ele é inteligente. - Joline falou - Mas ele me da medo.

- Eu espero que não.

- Você gosta dele, não é?

- Não sei. - Eu sabia, mas... Eu me sentia um pouco desconfortável de falar sobre isso.

- Seus olhos e suas mãos dizem que sim.

- Leitura corporal? - Joline sorriu e assentiu, não dava pra esconder muita coisa dela.

- Se quer saber o que eu acho... Faça o que você quiser. Ninguém tem o direito de te julgar pelas suas escolhas, só você sabe o motivo que te levaram a elas. - Joline dizia enquanto nos aproximávamos da sala de treinamento - Seus impulsos têm que ser levados em consideração, aliás, são a única coisa que importam. Eu sei que a Tori está triste e abalada com tudo o que aconteceu, todos estamos, mas ela não deve decidir o que você sente ou não, ou por quem sente. A Erudição é quem trabalha com fatos, nós somos da Audácia. 

- Mas ele era da Erudição.

- Não é mais. - Ouvi um tiro dentro da sala, eu já estava tão acostumada que eu nem me assustava mais - Se eu fosse você, abriria essa porta.

Estarei na sala de treinamento caso mude de ideia. Joline me deixou sozinha, como se realmente quisesse que eu estivesse com Eric, eu fiquei paralisada por alguns segundos e então puxei a porta sobre seus trilhos e o encontrei em frente a um alvo, atirando balas de borracha, ele olhou por cima de seu ombro e não parecia surpreso em me ver. A arrogância dele me irritava, mas atração era mais forte.

Contos de Uma AudaciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora