Trabalho

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Acordei cedo e me vesti, tomei café o mais rápido que pude e fui para o trem. Até o fim da linha. Assim que eu entrei, vi Lucas, Matilda, Jaimee e Matthew, os quatro haviam sido os piores do grupo, por isso foram obrigados a seguir para o muro. Um outro homem, pele escura, cabelo raspado, olhos negros e brilhantes, cavanhaque e um piercing no queixo também estava lá, ele era pelo menos dois anos mais velho que nós. 

- Qual de vocês escolheu estar aqui? - Perguntou ele. - Ouvi rumores de que alguém teria se prontificado a ficar de vigia.

- Eu... - respondi com a voz fraca.

- Eu não sei qual é o seu problema, mas bem vinda ao Muro. Nós temos ordens expressas para matar qualquer um que esteja fora da cerca fazendo o que não se deve, como por exemplo, roubar o trem de suprimentos. Isso é bem característico dos sem facção. Meu nome é David e eu vou auxiliar vocês nesse primeiro dia.

Depois de conhecermos as "instalações" do meu novo local de trabalho descobri que a minha função seria ficar de guarda no portão. Graças a Deus. Não tinha muito o que fazer, era só ficar atento, conferir o que saía e entrava na cidade e, em caso de uma eventual ação dos sem facção, agir sem piedade. Eu podia fazer isso, havia sido treinada pra isso e era boa com uma arma na mão.

- Sexto lugar? Nada mal Hippie! E por que escolheu por ficar aqui? - David parecia curioso.

- Não sei... Acho que proximidade com o que um dia foi meu lar.

- Da pra sentir o cheiro daqui. - Falou Jaimee, ela era muito bonita, cabelos loiros, lábios fartos, olhos verdes e atentos, mas fraca, não conseguiu muitos resultados na primeira fase da iniciação. - Sente saudades?

- Um pouco. - Eu respondi segurando o fuzil.

- Eu sinto falta da Franqueza... Pra quem achou que não ia conseguir uma classificação... Vigiar a cerca não é tão ruim assim. Afinal, Zacky acabou ajudando alguns de nós.

Meu coração apertou, ela estava, realmente, agradecida pela morte de Zachary, isso era inconcebível pra mim, todo o desespero que envolvia esse episódio me deixava desconfortável. Não esbocei nenhuma reação, nem positiva, nem negativa, somente continuei na minha posição.

Após algumas horas de puro tédio, ouvi um barulho familiar. Caminhões. Meu coração acelerou, alguém estava vindo, e então pelo ponto eletrônico no meu ouvido, ouvi David dizer para nos prepararmos.

- Você confere? - Jaimee perguntou e eu assenti feliz.

O caminhão parou no portão e eu tentei não mostrar a alegria em meu rosto, mas ser totalmente profissional, Eric sempre me disse que não era bom mostrar apego a minha antiga facção. Desci da guarita enquanto o caminhão era desligado, olhei rapidamente e não conhecia nenhuma das  duas pessoas que estavam do lado de trás.

- Bom dia - Uma menina de cabelos negros disse sorrindo

- Bom dia. - Eu respondi.

- Melody? - A porta da frente se fechou e eu vi pés dando a volta no caminhão.

- Ancel! - Eu exclamei um pouco mais animada do que deveria.

- Meu Deus, olhe pra você... Me de um abraço. - Ele disse vindo em minha direção com um sorriso no rosto.

- Receio que não posso, mas sinta-se abraçado.

- Esses são Pedro e Julia. 

- Transferidos? - Eu perguntei.

- Erudição. - Julia respondeu sorrindo.

- Abnegação - Pedro acenou de cima do caminhão.

- Vamos Hippie, não temos o dia inteiro... Não estamos aqui para socializar, há trabalho a ser feito - David apareceu atrás de mim - O que trazem?

Contos de Uma AudaciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora