Capítulo 10 - Andy

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— Vai ficar tudo bem com ela. Não se preocupe, senhor Stern. As feridas foram superficiais, mas a pressão dela ainda precisa se estabilizar e...

O doutor para de falar e pende um pouco para o lado, tentando ver algo atrás de mim. Me viro lentamente, sentindo um frio na espinha e vejo os olhos que mais me assustaram nas últimas horas, me encarando com frieza. Pelo menos agora ela estava mais calma. Graças a Deus!

— Cami? — Corro até a cama e me sento segurando sua mão. — Está melhor, meu anjo?

Ela parecia não me reconhecer e aquilo me apavorou. Será que ela perdeu a memória? Não sei se consigo viver sem a Camila. Ela é indispensável... o que estou pensando?

— O que faço aqui? O que você faz aqui e... que merda é essa de meu anjo? Desde quando você tem carinho por mim, seu babaca? — Ela puxa a mão e a esfrega no lençol, mostrando um nojo que eu jamais tinha visto em seu rosto.

Ela bateu a cabeça com tanta força assim? Preciso cuidar melhor da minha novinha.

— Doutor... ela não me parece bem. Ela ainda está estranha. — Olho para trás, mas ela agarra minha mão novamente e pressiona meus dedos com tanta força, que vejo estrelas. — Camila, por favor, não precisa me machucar. Você não está bem.

O som gutural de sua risada e olhar que parecia de um gato no escuro causam um arrepio que subiu por todo o meu corpo e me fez deslizar meu bumbum sobre a maca procurando segurança.

— Eu nem comecei, Anderson. — Camila se senta na cama, me dando alívio por não estar mais sentindo suas unhas contra a pele de meus dedos. — Doutor, poderia chamar a segurança e tirar este homem de perto de mim? Estou ferida assim por culpa dele.

O médico me olha e o pânico que isso me causa me faz saltar da cama e negar desesperadamente.

— Ela jogou o carro contra o meu. Posso provar. Meu carro tem câmera de bordo. Pode não mostrar a cena, mas tem os áudios e os choques. Com certeza que tem. — Olho para a Camila, não a reconhecendo e seu olhar frio me causa uma sensação de abandono ainda maior que a de meus pais. — O que fiz para você me tratar desta forma?

— O quê? Quer que eu te fale por ordem alfabética ou cronológica, Anderson?

Gente... de onde surgiu tanto ódio em uma mulher tão pequena e lindinha?

— Cami... eu...

— Sim. Você. Eu te odeio tanto, Anderson, que não existem palavras o suficiente para definir o tamanho do desprezo que comecei a sentir por você. Eu fui sua amante por anos e o que recebi? Apenas humilhações. Nem vem me dizer que você me deu sua sinceridade, porque vou fazer você engolir essa merda de sinceridade com esse soro irritante.

Ela arranca o cateter do braço e se livra do soro. O médico nem se movia, porque a ira desta mulher é capaz de paralisar qualquer um. Se eu estou apavorado, imagina ele.

— Camila, você precisa se acalmar. Sua pressão está muito alta e isso pode...

— Vai pro meio da merda, Anderson! A quem está tentando enganar? Ao médico? Você não se importa com nada e nem ninguém que não seja você e a Irene. Agora vai fingir que se importa comigo? Acha que bancando o bonzinho vai me levar para a cama de novo? Você me ameaçou e ameaçou a minha melhor amiga para que eu transasse com você. Você é um monstro, Anderson Souza!

— Credo... — Olho para trás ao ouvir a voz do médico falar algo similar ao que acabei de dizer, morrendo de vergonha e raiva. Sim, raiva, porque nunca passei tanta vergonha em minha vida.

Acho que todas as enfermeiras deste hospital estão na porta do nosso quarto.

— Credo? Você não tem nem vergonha de tentar se fazer de vítima? Vai lá, Anderson Stern. Use todo seu poder para me destruir. Prove que sou uma mulher louca que não suportou um fora seu, como você fez com todas as mulheres que você usou.

Vejo um flash e só aí percebo que estou sendo filmado e fotografado por alguns pacientes. Estou arruinado, pode apostar que estou... Nem todo dinheiro do mundo vai fazer este povo desistir de postar estes vídeos.

— Camila... não passe dos limites. Minha paciência e preocupação com você estão acabando. — Pego meu celular e envio uma mensagem rápida para meu advogado.

Não morrerei antes de lutar.

— ISSO! Mostra quem você realmente é. É tudo o que quero.

Nem consigo pensar. Ela está descontrolada e eu... apavorado. Nunca me vi em uma situação semelhante, então não sei o que fazer.

Espera... tive uma ideia.

— Ok. Você venceu. Não vou mais correr atrás da Irene. Vou ficar só com você e mais ninguém. Até me caso com você se for o que quer. Feliz?

Ela riu? Ela está rindo de mim? Rindo não, gargalhando! O que aconteceu com a minha Camilinha?

— Você é podre. Como não vi isso antes? Bem que a Irene me avisou: "Ele não presta, amiga. Esse homem não gosta de ninguém e só quer te usar." Sabe o que eu pensei? Que ela queria roubar você de mim. Que só estava esperando nós terminarmos para ficar com você. E o que fiz? Me mantive ao seu lado sem perceber quão burra eu fui. Lutei por alguém que não me queria e hoje estou aqui. Quebrada por dentro e por fora. Sabe o que é pior?

Nego... porque minha mente parou de funcionar quando ouvi o que a Irene achava de mim.

— Eu acho que a Irene está errada.

Camila está me confundindo. Ela me odeia ou não?

— Você é muito pior do que tudo que ela me descreveu e estou morrendo de nojo de mim por ter lutado tanto por um traste como você.

— Eu não sou um traste e nunca menti para você, Camila. Deixei claro que não gostava de você, mas que não queria ficar saindo com esse bando de golpista que só queria meu dinheiro e status. Estava satisfeito com você, não te traia e nem pretendia te trair. Até porque você sempre soube que amo a Irene e que se ela me aceitasse, o que tínhamos acabava. Então não é traição. Pelo menos eu não te enganei em momento algum.

— Mentira! — Ela grita e me joga o travesseiro.

Meu Deus! Ela se levantou da cama e está vindo na minha direção. Olho para trás, pedindo socorro as enfermeiras, mas ninguém se moveu. Quer dizer, agora o povo que filmava já estava dentro do quarto.

Eu só posso estar em um pesadelo realista. Não é possível!

Acabei de descobrir que estou bem acordado e meu rosto está ardendo com um tapa que tomei. Gente, de onde esta garota arranjou tanta força?

O pior é que a dor em meu rosto não é maior que a em meu coração. Estava decidido a me casar com esta mulher e agora ela me trata assim?

O que fiz para merecer tanto ódio?

Dei uma casa para ela, um carro e um cartão de crédito. Tirei ela da casa da Irene, onde vivia de favor e é assim que ela retribuiu a tudo o que fiz?

Se ela quer amor, por que não tenta conseguir de uma forma mais carinhosa? Se ela continuar a me tratar desta forma, vai acabar me perdendo de verdade. Não vou deixar alguém que sequer contribuiu para meu crescimento me desmerecer desta forma... menos ainda alguém que decidi entregar algo que não queria dar a ninguém: meu coração.

— Eu tenho nojo de você. N.O.J.O. — Ela falou cada sílaba deixando evidente todo seu rancor por mim. — Você é a pior coisa que já aconteceu na minha vida e te quero bem longe de mim. SOME ANDERSON. SOME AGORA!

Ela me empurrava, mesmo eu tentando segurá-la. Eu apanhava de todas as formas possíveis, mas não conseguia me defender. Acho que não consigo nem raciocinar.

Como a Camila pode estar me jogando fora?

Ela não pode me jogar fora. Eu não posso ficar sem ela. Como ela ousa me afastar assim?

— Para, CAMILA! — Seguro seus braços e, só agora, alguém aparece e sou eu quem sou puxado. — Me solta, não sou o vilão aqui!

E quem falou que os enfermeiros me ouviram?

— Camila. Para com isso. Você é minha, como pode dizer que não me quer mais?

— SUA? Eu sou um objeto, por acaso? Some, Anderson e não espere que eu volte para a sua empresa. Eu-me-demito. Quero mais que você, sua empresa, seu amor doentio pela Irene e sua falta de amor-próprio vão para o inferno!

Irene - Sob a Lente do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora