Capítulo 18 - Irene

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O dia do julgamento chegou e fui obrigada a vir de taxi, porque meu querido assessor não pode me buscar. Falou que se atrasaria, mas chegaria a tempo de me levar para casa.

O que pode ser mais importante que fazer o trabalho dele?

Ai... que feio, Irene. Não desconte sua ansiedade no pobre menino. Ele deve estar as voltas tentando cancelar o bendito vídeo como você pediu.

Entro vendo uma mensagem de bom dia do Max, que não foi me ver, mas falou comigo todos os dias. Ele é tão fofo que sinto vontade de matá-lo por ser tão distante.

Como pode dizer que sente minha falta e não vai me ver?

As ações precisam condizer com os atos ou deixa de ter valor.

Escuto meu nome ser chamado e caminho até o lugar que me foi indicado para me sentar. Preciso fazer um juramento de que não mentiria, com a mão sobre a bíblia e isso me faz suar frio, porque mesmo sabendo que não vou mentir, vou acabar prejudicando mulheres que contavam que eu mentisse para somar em uma batalha que não faço e nem quero fazer parte.

Sempre achei essa parte do juramento o máximo, mesmo vendo nas series que todo mundo mentia mesmo assim. Sei bem que não as apoiar vai me colocar no olho do furacão... só que a verdade está acima de tudo para mim.

Meus princípios estão acima de tudo.

Fixo meu olhar na bíblia que está na mão do policial e aproveito para fazer algo que pouco faço. Peço a Deus para me dar forças e que ajude o Anderson a sair desta. Farei isso pela Camila e para pôr fim ao que devo ao meu ex-patrão. A partir de hoje, estou livre de tudo que me liga a esse homem... Pelo menos psicologicamente.

Eu sei que ele é cachorro, safado, ordinário, maluco, tem uns surtos e se acha o centro no universo, mas realmente não merece ser acusado de coisas que não fez. Ninguém merece passar por isso. Ele nunca tocou naquela menor e não estuprou a secretária, porque era ela quem corria atrás dele e tenho como provar.

— Senhorita Irene, ou prefere ser chamada de Irina? — O Advogado de defesa já começa na posição de ataque, porque não faz ideia de que estou aqui para ajudá-lo.

— Prefiro ser chamada pelo meu nome real. Hoje não estou aqui para tirar fotos ou desfilar. Vim para livrar meu ex-patrão das garras de pessoas que não sabem ouvir um simples não... — Preciso parar de falar porque um monte de gente começou a fuxicar e Anderson me encarou como se estivesse alucinando. — Não que o senhor Anderson goste de ouvir esta palavrinha, né, fofuxo?

Ele abaixa a cabeça novamente e o Advogado de defesa vai rapidamente a mesa pegar uma pasta.

— A senhora não veio acusá-lo de agressão verbal, abuso de poder, atentado ao pudor, assédio moral, sexual e...

— Que isso, meu Deus? — Falo por cima do advogado e começo a rir, mas recebo uma olhada do Juiz e fico até bamba. Foi mal aê, tio. — Não. Gente! O Anderson colocou na cabeça que eu seria a mulher da vida dele, porque eu vim de baixo como ele e, por isso, não seria gananciosa ou golpista como algumas mulheres que o procuravam eram. Então ele meio que me perseguia, mas nunca foi tão sério, nada que eu não soubesse cuidar sozinha.

A defesa começa a fazer reclamações e sou obrigada a parar. O Juiz toma as rédeas da situação e permite que eu volte a falar.

— Talvez eu pudesse acusá-lo de perseguição, mas não chegava a tanto. Era só um garoto que não conhece nada do mundo tentando achar alguém semelhante.

Fico calada, pensando no que falei, mas logo volto atrás.

— Não estou protegendo-o, tá? Por mim ele que se vire com os problemas que causou. Mas não acho justo essas duas meninas o acusarem do que não fez... Ah, e tenho conversas salvas para provar que ele realmente não fez nada do que elas estão falando.

Irene - Sob a Lente do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora