Prólogo

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Já passava das 13 horas quando finalmente saio da biblioteca da escola e me esgueiro pelo portão principal para não ser vista pelo trio de nojentas que amam me humilhar.

Estou cansada de ser a fonte de diversão dessas meninas, mas não faço ideia do que fazer para as três-nojentas-demais pararem com isso.

Moro na comunidade Vila Esperança, considerada a única favela de Nova Esperança e sou filha de catadores de lixo. Na verdade, meu pai é gari, mas ele melhora o orçamento do nosso lar com a venda de alguns reciclados que junta enquanto trabalha. Minha mãe lava roupa para fora e, durante a madrugada, cata latinhas e garrafas depois que os bares e a boate da cidade fecham.

Vi muitas vezes o sol nascer na praia, me divertindo pelas ruas vazias, enquanto meus pais ganhavam a vida. Eles precisaram me levar junto porque foram denunciados para o conselho tutelar por eu passar a noite sozinha em casa. Mas depois os denunciaram novamente por eu passar a madrugada fora... Não era nada fácil para meus pais tentarem me dar uma vida um pouco melhor, mas graças a Deus eles não desistiram.

Por isso tenho apelidos como lixeirinha, reciclada, herdeira do lixão, musa da reciclagem e outras coisas do tipo, mas nada disso me envergonha, só me mostra quão vazias essas meninas dessa escola são. Até porque metade das que me perturbam levam uma vida ainda pior do que a minha...

O que não gosto mesmo é quando elas jogam o lixo delas em mim ou quando querem se aparecer e dizem coisas como: "Aí, desculpa. Achei que era a lixeira."

Minha mãe lava e passa meu uniforme com muito carinho e eu sempre volto para casa suja, porque elas fazem questão de me molhar com resto de refrigerantes e sucos.

Como não tivemos dinheiro para comprar uniformes novos este ano, decidi me esconder e me manter bem longe de todos, porque não quero que minha mãe, cansada como fica, tenha que se matar de esfregar para tirar manchas de minha blusa branca.

Eu até tento lavar, para que ela não se canse tanto, mas não sei como ela consegue fazer essas manchas irritantes sumirem.

Estou cansada disso tudo e, com o pouco de fé que tenho, acredito que Deus vai nos honrar e me livrar deste inferno. Ouvi dizer muitas vezes que: os humilhados serão exaltados. Estou esperando essa hora chegar, mas não é para pisar em cima de ninguém, apenas para ter paz e dar uma vida melhor para meus pais. Eles merecem um descanso.

Continuo caminhando pelas ruas, carregando meu caderno de 20 matérias e uma bolsinha de lápis quase nova que meu pai achou em um dos seus dias de trabalho, quando vejo um furgão parar um pouco depois de mim. Meu coração acelera e eu fico olhando de um lado para o outro, em busca de socorro, porque as pessoas que estavam lá dentro não paravam de olhar para mim.

Tento correr, porque eu estava na entrada do meu bairro e sei que, ao chegar, qualquer casa me serviria de abrigo, mas ao ver um homem alto, forte e muito bonito sair do carro, acompanhado de uma Mulher bonita e vestida de um jeito muito estranho, minhas pernas começam a tremer e param de me obedecer.

— Você mora ali? — Ainda não entendi porque o vestido dela parece ter sido feito com o tecido do meu sofá...

— Acho que ela se assustou, Marcela. — O homem alto se aproxima de mim e se abaixa, ficando basicamente na minha altura. — Me chamo Anderson, mas todos me chamam de Andy. Qual o seu nome?

Olho para todos os lados, implorando que venha alguém para me salvar, mas o povo decidiu sumir logo agora? Pior que não tem nem os garotos do tráfico que ficam para lá e para cá de bicicleta.

— Como se você, com essa cara de malvado, fosse deixar a menina mais calma. — E logo a moça se aproxima e o perfume dela agrada as minhas narinas. — Sou Marcela Duncan Ayad, sou fotografa da TVNE. Virmos aqui, no seu bairro, para promover uma competição entre meninas para um programa de auditório do nosso canal.

Irene - Sob a Lente do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora