Capítulo 20 - Max

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Sigo o Anderson pelas ruas, mas por muita sorte ninguém o aborda. Alguns comentam, apontam, mas nada de grave acontece.

O acompanho até um café e vejo ele tentar comprar algo, mas o cartão que tinha em sua carteira, que ele retirou de um saco plástico, não passa.

— Cobra aqui, por favor. — Recebo um olhar gelado, mas logo um leve manear de cabeça aparece para me agradecer. — Quer comer também?

— Não. Só preciso de um café para ver se acordo deste pesadelo.

O sigo até uma mesinha e ele se senta, amuado.

— Você acabou de ser absorvido, cara. Deveria estar feliz. Seu corpinho não vai ser deflorado na cadeia.

Ele me olha com surpresa, mas acaba deixando escapar um triste e leve sorriso.

— Acho que preferia a cadeia que saber que a Camila me trocou por aquele garoto. Que futuro ele pode dar a ela?

— Ele será meu novo gerente... na empresa que era sua. Foi mal. — Coço a cabeça, mas não encontro o olhar altivo daquele Anderson que conheci. — Enfim, você pode lutar por ela.

— A Camila não trai. Já tentei diversas vezes fazê-la desistir de mim. Paguei homens muito bonitos para darem em cima dela. Fiz de tudo para ela me ver a traindo e mandei os caras, mas ela não me traiu. Então ela não vai trair alguém que a faz sorrir por causa de uma flor toda estragada.

Não entendi absolutamente nada do que ouvi, mas era estranho ver este homem assumindo derrota.

— Eu não posso nem pagar um café. Como darei a vida que prometi a ela?

Ele enfia a mão na sacola de pertences que pegou ao ser solto e tira uma caixinha da joalheria da minha família com um anel de noivado maravilhoso. Então era verdade?

— Será que vendo e tento recomeçar?

— Nossa loja aceita devoluções...

Não sei porque eu sempre falo a coisa errada e no momento mais inoportuno. Onde foi parar a minha sensibilidade? A é... nunca tive, sou um Debbouze.

— É. Acho que vou lá pedir o reembolso. A nota está meio amassada, mas ainda está aqui...

Eram tantos zeros, que começo a sentir pena dele. O Anel é mais caro que o apartamento que comprei para morar perto da casa da Irene.

Eu precisava cuidar dos meus sogros na ausência dela, mas não queria me apresentar como pretendente, então ser o vizinho legal foi a melhor opção.

— Você tem onde morar? — Anderson nega e eu puxo a caixinha do anel para perto de mim e só aí vejo o velho olhar assustador. — Ficarei com isso e você com isto.

Tiro um molho de chaves do meu bolso e o entrego.

— O que é? — Ele ainda olhava para o anel, como se tivesse medo de perdê-lo. Coitado, devia ser sua última esperança.

— Um apartamento perto da casa da Irene, que vai te deixar bem perto da Camila. Também tem um carro popular na garagem. Você começa na agência amanhã, às 9. Você não é mais o dono, mas ainda é um ótimo agente. Vou te colocar como olheiro. Você viajará e isso te ajudará a esquecer tudo o que passou. Aceita?

Ele me encara, parecendo querer negar, mas tinha mais alguns sentimentos naqueles olhos.

— Por que você me ajudaria?

Sabe que eu nem sei? Às vezes acho que pago para me dar mal.

— Porque graças a você eu fui expulso da faculdade.

Ele ri e parece constatar algo em meu olhar. Tenho certeza de que ficou bem óbvio que menti. Não menti, só não sei bem explicar o motivo.

— Sabia que era para se vingar. Mas que tipo de vingança me dá uma casa? É para jogar na minha cara?

Nego e ele fica sem entender.

— Voltei a viver em família, tendo a amizade que sempre sonhei ter com meu pai. Ele aceitou que amo fazer fotografia e conseguiu minha vaga na faculdade novamente. Ainda vou estudar, ainda farei tudo o que sonhei. Tenho a Irene e ainda a ajudo a ser quem ela quer ser, sem ter que abrir mão do que gosta. Você não faz ideia do bem que me fez, então estou retribuindo... só isso.

— Mas seu pai me fez ir parar na cadeia.

Ele estava ainda mais perdido. O que me fazia crer que meu pai deve ter ido lhe fazer uma visitinha nada amigável. Eu não posso responder por ele, apenas por mim.

— Meu pai me ama muito... e descobri isso graças a você. — Sorrio, mesmo ele ainda se mostrando incrédulo.

— Ok, ninguém faz nada de graça nesta vida. Além do anel, o que mais quer para que eu fique com tudo isso que me deu?

Sorrio, porque o Anderson pode estar abatido, mas não deixou de ser inteligente.

— Vá a um psiquiatra e trate de tudo que lhe impede de ser o homem que a Camila precisa.

Ele ri e volta a olhar para a caixinha do Anel.

— Estou falando sério, Anderson. Você não está bem e se quer ganhar do Nicolas, um cara super simples e gente boa, mesmo sendo podre de rico, precisa vir com armamento pesado.

— Até parece que vou acreditar que você está torcendo contra seu amigo.

É, faz sentido a dúvida dele, mas tem um detalhe que o Andy não sabe e nem precisa saber: o Nick não quer a Cami porque já tem a Luana.

Que está mexido pelo outro, ah... isso está, mas é melhor deixar para lá.

— Quer apostar? — Tiro o anel da caixa e o rodo em meu dedo.

Os olhos do Anderson o seguiam como uma águia segue a presa. Este homem é doido pela Camila e não faz ideia do tamanho de seu amor.

— Não tenho nada de valor e o que tenho você já tirou de mim. — Ele ainda encarava o anel, enquanto eu o devolvia para sua caixa e fechava. — Vai mesmo me ajudar?

— Você só precisa se tratar. Ela não quer ficar com um cara instável e que a trata como objeto. Você era cruel com ela. Do nível que merecia passar por muito mais do que já passou, mas se a Irene falou que você só precisa se tratar, acredito nela.

Ele abaixa a cabeça e depois volta a me olhar.

— Não entendo por que a Irene me ajudou. Se eu sempre fiz da vida dela um inferno. O tempo que passei sozinho naquela cela pensei tanto que pude ver que a Irene não tem culpa de nada. Apenas eu fui o responsável por tudo o que passei, mas ouvir a forma que ela me descreve como se pudesse me ler é assustador. Por isso acreditei que ela era perfeita para mim, mas hoje sei que não seria. Ela merece um homem como você, que também não guarda mágoa.

— Mágoa faz mal, amigo. Não vou ficar remoendo coisas que você esqueceria mais rápido que eu. A vida precisa seguir, senão o peso que carregamos fica insuportável e acabamos parando de andar.

Anderson confirma e em seu rosto estava escrito: "É, eu sei". Fico com um aperto no peito, mas o máximo que posso fazer por ele já estou fazendo. Garanto que metade das pessoas que conheço não fariam nem isso.

— Vou marcar hora com um psicólogo colega meu e pode deixar que arcarei com tudo. — Recebo um olhar de dúvida que me faz rir. — Eu sou louco pela Irene, sabe? E acho que ninguém neste mudo merece mais ela do que eu. Da mesma forma, eu sei que a Camila é louca por você, mas a dor que você causou transformou este amor em ódio. Enquanto o ódio existir, ainda há esperança. É um sentimento que pode voltar a ser amor, mas isso só vai depender de como você vai agir.

Ele concorda, relutante, mas concorda.

— O que vai fazer com ele? — Andy aponta para a caixinha de camurça e me encara.

Dava para ver que ele não confiava em mim, mas não o culpo. Também não confio nele, só estou fazendo o que acho que a Irene faria.

— Será que devo te contar o que farei com este lindo, brilhante e caro solitário?

— Você não o daria a Irene, não é? 

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⏰ Última atualização: Jun 06, 2022 ⏰

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Irene - Sob a Lente do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora