Capítulo 9 - Camila

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Chego no saguão e Anderson estava me esperando. Se ele tem carro, por que ainda estaria aqui? Esse negócio de me fazer de step está me cansando, viu? Nunca achei que sentiria isso, mas a aflição de minha amiga me deixou com nojo de mim mesma.

Como posso amar tanto a um homem que nos faz tão mal?

— Camila?

Seguia até o Anderson, que me esperava com a mão esticada, quando ouço a voz de Nícolas. Giro em meus calcanhares e lá estava o sorriso que me fez acordar de um feitiço que eu mesma me lancei: a maldição de amar alguém que nunca me amou.

— Já vai? — Nícolas continua a caminhar, parando bem perto e me embriagando com seu sorriso de molecão.

Nem sei por que ele me deixa assim, sendo que sempre preferi homens mais velhos, mas ele realmente me faz suspirar.

— Já... preciso ajudar outra modelo. — Respondo, quando sinto o Anderson se aproximar e colocar a mão em meu ombro.

Como não sou a Irene, não sou abraçada. Como não sou a mulher que ele ama, não sou reivindicada... É, acho que já passou da hora de te ouvir, amiga. Realmente preciso começar a me valorizar.

— E a Irene? — O Nícolas não dá a menor importância para a presença do Andy.

Me ensina a ser assim, garoto fofo? Estou precisando me livrar deste sentimento irritante.

— Vou contar com vocês para cuidar dela, posso? — Me aproximo ainda mais dele e o acaricio na bochecha... escuto um resmungo atrás de mim, mas ignoro e isso me faz muito bem.

Ele sorri, olha para o Anderson, vê algo que o faz ficar com as sobrancelhas juntas, mas volta a me olhar e sorri novamente.

— Faço tudo o que você me pedir. Sempre. Entendeu?

Confirmo com a cabeça, porque os olhos dele não falavam sobre a Irene, mas gritavam que estariam ali para me salvar, bastava apenas um sinal e ele me tiraria dali na mesma hora.

Me salva de mim, garoto? O problema não é o Anderson. O erro é todo meu. Sabe por quê? Eu sei que ele não presta, mas sou viciada nele. Sou mais que dependente.

— Trouxe isso para você. — Ele me entrega um girassol e aperta uma das minhas mãos, quando o pego. — Vi que você os olhava e, como sou para frente, te trouxe um. Espero que ele faça você lembrar de mim... pelo menos até murchar.

Volta a balançar a cabeça em afirmação e acabo sorrindo mais do que deveria.

Uma mão grande e forte aperta minha cintura, me puxando dois passos para trás e um Anderson muito irritado fica entre nós dois.

— E você, quem é?

— Alguém que não precisa de nome ou ternos bonitos para ser importante para elas. — Nick sorri de lado, inclina o corpo para o lado direito para que seus olhos encontrem os meus, pisca, me joga um beijo e sai.

Sim. Ele simplesmente saiu e não respondeu ao Anderson.

Quando a fúria do meu chefe passa, me sinto fuzilada por olhos densos como o chumbo.

— Quê? — Pergunto, como se não soubesse seu estado, giro e sigo até meu carro.

— Me dá a chave. Mandei um garoto levar meu carro, para voltar com você.

— Se vira. Não te convidei e não quero ser seu travesseiro essa noite. — Continuo a andar e cheiro meu girassol.

Certeza de que ele me lembrará de você, Nick. A coragem que me faltava para mudar minha vida.

Entro em meu carro, ouvindo passadas pesadas me seguindo. Tranco as portas quando me sento. Não estava nem aí. Todas as coisas que ele costuma fazer para me intimidar, eram menores que poeira. Aquela flor me levava à um nível diferente de amor-próprio. Sei lá. Ou era uma boa coluna de sustentação.

— Abre essa porta, Camila! — Andy bate no vidro e eu apenas olho para minha flor. — Camila, não me faça perder a cabeça.

Dou a partida, passo a marcha e o olho.

Achando que eu iria abrir, ele sorri e se afasta da porta. Eu sorrio de volta, aceno e acelero meu carro deixando-o para trás. Nunca fiz meu carro cantar pneu, mas admito que adorei a sensação.

Assumo que te amo, Anderson. Mas me amo ainda mais... quer dizer: o Nick me ensinou a me amar.

Continuo meu caminho, sem correr muito, até porque não estou com a menor vontade de ajudar a Lívia. Alguns minutos depois um carro me ultrapassa, quase me fechando na estrada.

Preciso frear rapidamente e quando olho para frente, tentando descobrir quem poderia fazer aquele tipo de besteira, vejo o carro dele. Que mentiroso, não? Ele só queria me levar para algum motel de beira de estrada...

Ele sai batendo a porta com força e caminha na minha direção com a feição de um psicopata.

— Abre esse carro agora, e sai daí!

Ele esbravejava, batendo na minha porta e me vejo encurralada. O idiota esperou o lugar perfeito para fechar a rua, sabendo que eu não conseguiria fugir.

Estávamos entre montanhas, em uma estrada estreita e de chão, então não tinha como fazer o contorno e eu só poderia sair na base da ré.

O que eu faço? Será que consigo correr de ré? Nunca tentei, vai que...

— ANDA, CAMILA. Aproveita que estou calmo.

Me encosto no banco e rio. Calmo? Calma estou eu, meu bem. Você está parecendo um louco.

— Agora que um moleque sem futuro te deu uma flor de 1,99 você está achando que pode me esnobar? É flor que você quer? Te dou uma floricultura. Agora sai e vem conversar comigo. — Ele me chama com uma mão e alisa a cabeça para se acalmar. — Eu te perdoo por me trair.

Acho que ele não entendeu o motivo da minha gargalhada. Como assim ele me perdoa? O homem ficou doido?

— Camila... estou perdendo minha paciência.

Ele está? E eu?

Ah... mas ele vai descobrir e vai ser agora.

Ligo meu carro novamente, acelero em seco, o olho bem no fundo dos olhos e passo a primeira. Sorrio, deixando claro minha paz interna e faço meu carro andar, ainda o olhando.

Sinto um solavanco em minha coluna, mas não foi o suficiente para me fazer parar. Passo a ré, ouvindo-o me gritar e consigo vê-lo colocar as mãos na cabeça pelo espelho.

Vou um pouco mais longe e, ainda o encarando, sigo em direção ao carro dele novamente.

— Camila, Para! — Ele se enfia na frente do meu carro, mas não paro. Não vou parar e não quero nem saber. — MILA?

Ele sai da frente, praticamente se jogando, e me choco ao seu carro importado novamente. Acho que enlouqueci, porque estou sentindo um prazer imensurável em fazer isso.

— Camila. Para! Pelo amor de Deus! Você vai acabar se ferindo.

Ele segue meu carro, enquanto eu dava ré novamente e meus olhos ainda estavam fixos aos dele.

— Mila, me desculpa, eu não vou fazer mais. Sério. Por favor. Sai do carro. Não quero que você se machuque.

A quem ele quer enganar? Ele não se importa comigo. Está com medo de perder seu carro amado. Seu troféu... assim como tem medo de perder a Irene.

Paro o carro, passo a primeira novamente, acelero em seco e, me sentindo no filme velozes e furiosos, arranco em direção ao carro dele. 

Irene - Sob a Lente do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora