Capítulo 16 - Max

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Assim que voltei para a faculdade, recebi a triste notícia de que a bolsa de moradia e minha vaga, que tanto batalhei para conseguir, foram tiradas de minhas mãos.

Eu amo fotografia, mas meu pai me obrigava a trabalhar com o que está em nossa família há gerações: as Joias Debbouze.

Meu pai se casou com uma estrangeira cristã e teve que sair do Marrocos por causa de muitos fatores étnicos e religiosos, mas o legado se manteve aqui no Brasil, terra de minha mãe.

Nossas joias são vendidas em todos os países, o que nos torna uma multinacional. Aquelas coisas enormes e que não me atraem a menor atenção são muito amadas por mulheres de todas as classes, algo que nunca entenderei. Gosto de delicadeza, de beleza minimalista, mas meu gosto não é ouvido, eu só tenho que fazer o que me mandam.

Por esse e outros motivos escolhi fugir de casa e passei a viver do que ganhava fotografando alguns Digital Influencers. Sou bom nisso e consigo fazer milagres com um simples celular e alguns aplicativos de edição de foto.

Nunca precisei de muito para viver, até porque não sou adepto ao luxo e glamour que meus primos e conhecidos da família vivem. Sou bem simples e isso sempre enlouqueceu os repórteres que perseguiam a nossa família.

Meu rosto estava sempre estampando manchetes e enlouquecendo meu pai, que me via comendo em barraquinhas de rua ou em restaurantes de periferia. Os paparazzis amavam mostrar o: "riquinho com mania de pobreza" e especulavam se eu me candidataria a algum cargo político.

Não tenho mania de nada, só aprecio muito mais comida caseira e alguns lanches de rua, que as comidas dos restaurantes que meus pais vão. O valor pago por um jantar naquele lugar poderia assalariar, pelo menos, umas três famílias. Acho uma loucura gastar tanto dinheiro assim por um pratinho mirrado de comida.

Depois de algum tempo que passei a viver por mim mesmo, um dos meus clientes me ofereceu uma bolsa de estudos e ajuda de custos, já que minha faculdade me geraria gastos e me atrapalharia a trabalhar, por causa de seus horários irregulares, então eu aceitei.

Não foi fácil passar, tive que tentar duas vezes e o pior foi conseguir fazer o patrocinador entender que mesmo eu sendo um Duncan Debbouze, não tenho um tostão furado. Tudo o que tenho é uma moto que comprei de segunda mão, depois de fotografar muita gente.

Tive que sumir por meses, porque o patrocinador avisou ao meu pai sobre sua ajuda, tentando se vangloriar pelo ato ou conseguir alguma vantagem com isso, e os seguranças dele foram me procurar para me levarem de volta para a masmorra que chamavam de lar, mas me escondi e continuei lutando pelos meus sonhos.

Depois de um bom tempo escondido, vivendo apenas das economias, voltei a fotografar e em uma nova tentativa, procurei meu cliente, expliquei que meu pai não poderia saber e, um ano e meio depois, finalmente consegui o patrocínio... Só que tive que fazer o vestibular novamente e passei a ser fotografo freelancer da empresa dele como pagamento.

Deus foi tão fiel que me ajudou a passar e, desta vez, comecei a estudar. Foi complicado entrar, principalmente por não poderem saber quem sou, mas o patrocinador usou toda a influência que tinha para me ajudar, principalmente porque se sentiu culpado por ter dificultado minha vida na última vez.

Vivo e trabalho na faculdade pra ampliar meus ganhos. Sou mais feliz lavando pratos no RU que fazendo algo que não gosto. Ou vivendo ao lado de um pai que nunca me ouviu. Eu não passo de um meio de manter o legado de Joias horríveis e enormes. O pior é que tem mulheres que sonham com essas coisas.

Agora estou sendo obrigado a deixar tudo o que tanto amo, porque um cara que seria um filho melhor para o meu pai, não sabe perder uma mulher que nunca lhe deu bola.

Irene - Sob a Lente do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora