Capítulo 11 - Irene

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Conclui mais um trabalho e os aplausos da equipe me fazem sorrir. Retribuo o gesto aplaudindo a todos, aproveitando os últimos minutos de sonho antes de voltar à minha realidade: lutar pela minha liberdade, nem que isso me torne uma desempregada.

Não que eu seja cheia de mim, mas sei que fome não posso, porque consigo trabalhar em outras agências. O problema é a multa da rescisão que terei que pagar. Está mais que certo de que venderei minha casa para arcar com os custos da algema contratual que foi assinada quando eu era uma criança.

Quem olharia isso, quando descobrem que a filha ganharia uma bolsa de estudos para ir para Milão e um baita dinheirão por mês? No mínimo imaginaram que eu nunca me cansaria disso tudo. Não os culpo, eu também assinaria se fosse maior. A família sempre foi nossa prioridade.

Eu tenho dinheiro guardado, claro, mas não é suficiente para aquele valor. Geralmente uso meu salário para obras sociais, ficando apenas com o necessário para viver e dar uma velhice digna aos meus pais.

Como não paro em casa, eu pago para uma governanta cuidar deles enquanto viajam para onde querem ir. Nesse momento eles estão em Caldas Novas, curtindo em um hotel de águas termais, totalmente alheios aos meus problemas. Espero que continuem assim, porque não quero que eles saibam o que estou passando.

Guardo um pouco do que ganho para a hora do desespero, que seria uma doença súbita ou algo pior, como um acidente ou coisas assim... Temos que ter reservas. Mas nunca pensei em guardar o valor da rescisão, exatamente por nunca me ver fora da AndyStar...

Mas agora não tem jeito. Algo em mim mudou e sinto que não devo mais ficar lá.

Aproveito que todos vão cuidar de suas coisas para pegar meu celular e mandar uma mensagem para a Maria estender a viagem de meus pais. Não quero que eles voltem para casa agora, preciso de tempo e espaço para resolver esse problema.

— A Camila chega que horas para te pegar? — Max se aproxima, segurando um refletor e me tira de um transe que nem sabia que estava.

Acho que depois do escândalo que o Reitor deu aqui, jogando na minha cara que eu roubei o lugar da filha dele, os participantes do evento ficaram desanimados. Me olhavam com uma expressão triste, mas de muito carinho e apoio.

Estou tão preocupada com minha vida que o senhor Petrônio nem me incomodou. Ele é um peixinho dourado em meio ao meu oceano de problemas.

— Acho que a Mila não virá. Vou chamar um taxi ou algo assim. — Ficamos bem próximos desde o passeio de bugre, mas não o suficiente para pedir favores depois do trabalho. Pelo jeito que ele e o Nick foram tratados pelo reitor, algo de ruim também vai acontecer com eles...

Quando eu ia tentar oferecer ajuda, Max deixa o refletor no chão, se afasta para pegar algo em uma cadeira, se aproxima de mim novamente, coloca um casaco pendurado em meus ombros, vai até uma mesinha, volta e me entrega um copo com chá de hortelã.

Eu queria ajudar e acabei ajudada... Nível de ilusão de romance do tipo Netflix? 100% e subindo... sim, no meu mundo é possível passar da porcentagem máxima.

Como minha vida é dura.

— Vou te levar, desde que não ligue de ser de moto. Sua mala não é tão grande...

— Moto? — O interrompi, deixando-o meio perdido com minha súbita empolgação.

— Sim, não te ofereci de noite, porque o Nick ficaria de fora e não seria justo. — Max volta a pegar o refletor e me encara. — Te pego na portaria em uma hora?

confirmo sorridente e vou para meu quarto ansiando pela emoção de deixar o vento levar toda a angústia que toma meu coração.

***

Irene - Sob a Lente do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora