Capítulo 13 - Irene

17 3 0
                                    


Agora eu sei como um saco de milho se sente, enquanto o micro-ondas teima em aquecê-lo até transformá-lo em pipoca. Sei lá, acho que nem como mais essas pobrezinhas, sabendo quão duro é ter que pular daqui para lá, embaixo de um sol escaldante.

Max nos enfiou no meio de um matagal esburacado e com o terreno cheio de costelinhas. Dou graças a Deus por estar usando calça jeans, ou estaria toda cortada e me coçando por causa do mato alto que nos chicoteava em meio aos pulos.

Quicamos muito e quase caímos algumas vezes, mas conseguimos fugir do Anderson. Na realidade, nem sei ao certo por que fugi, mas sei que não quero ver a cara dele agora. Não tenho forças para brigar com uma criança mimada...

— Max, sabe onde estamos? — Pergunto, assim que ele para a moto embaixo de uma árvore muito linda e alta.

Parece uma árvore centenária, de tão grossa e perfeita. A natureza é a coisa mais linda mesmo, porque certamente não tem humano algum que venha aqui regar, podar ou até colher de seus frutos, mas sei que Deus cuida muito bem de toda a sua criação.

Deixo de focar na árvore e olho em volta, vendo uma plantação de milho ao longe, perto de uma montanha, e um pouco depois dela um tipo de casa muito conhecido por mim. Vivi em uma casa de estuque por muitos anos e essa é bem parecida com a nossa: paredes de barro e estrutura de bambu, mas esse teto aqui é de telha de amianto, a nossa era feita de lona preta e, por cima de tudo, tinha palha de coqueiro para ficar uma casa mais bonita. Toda vez que chovia precisávamos cobrir os móveis de madeira e refazer o telhado....

Lembranças tristes, mas, ao mesmo tempo, muito gostosas fazem meu coração se sentir saudoso. Era difícil, mas, naquela época eu passava fome porque não tinha o que comer, hoje passo fome para estar em um padrão de beleza absurdo... cara, isso não faz mais sentido para mim.

— Não faço a menor ideia. — Ele me olha pelo espelho e ri, me fazendo voltar a realidade e encará-lo, ele é tão bonito de se ver. Agora que percebi que ele tem os cabelos em um tom de loiro escuro. — Acho que você devia ir com o Anderson. Quando o avisarem que estamos juntos, essa situação vai ficar pior.

Dou de ombros e ele sorri, mas dava para sentir que ele me repreendia com esse sorriso. Os olhos dele dizem muita coisa, mas vou fingir que não vi nada, porque sou dessas.

— Não seja tão inconsequente, Irene. Sua carreira vale mais que uma paixonite por um estudante de fotografia.

Belisco a cintura dele, mas acabo rindo da expressão de: "Estou falando sério, mesmo rindo" que ele faz. Depois quer que eu não me apaixone? Faz um favor... Sou uma iludida, meu bem.

Só sabe quão solitário é ser como eu, quando vive na pele o que é ser considerada uma intocável. Tem gente que nem sequer me olha, com medo de se aproximar do impossível... Que impossível? Eu também gosto de beijar na boca... Eu, hem!

Falando nisso...

— Podemos não dar certo... Pode ser que eu nem te beije, mas vale a pena viver esse tipo de aventura.

Saio da moto e caminho naquele lindo gramado tentando imaginar como conseguiríamos sair dali... Se bem que não tenho tanta vontade de voltar a realidade. Acho que entrei no modo defesa.

Acho, não. Tenho mais que certeza.

Me abraço em busca de abrigo, mas um calor diferente me causa uma sensação de lar. Deixo minha cabeça repousar em seu ombro e sinto o carinho de seu rosto se arrastando no meu.

Ele é tão doce... Como não me apaixonar?

Ele é tão carinhoso que sua rala barba, que estava nascendo outra vez, não me machucava. Pelo contrário, até ajudava a deixar o carinho ainda mais gostoso.

Irene - Sob a Lente do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora