ANTI-FRÁGIL, UM LIVRO QUE AJUDA A PENSAR

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       Há livros geniais e alguns romances do século XIX se inserem nesse contexto e outros que ajudam os leitores a ter uma visão diferenciada do mundo em que vivemos. É interessante observar esse aspecto porque a linearidade da vida ou a compreensão de determinados fatos históricos e fenômenos da natureza por apenas um ângulo nos limita muito o pensar. Daí que um novo olhar, uma nova dimensão para o que se passa no planeta é sempre aconselhável e bom além de instrutivo e relevante para entender essa nova realidade aos nossos pés.

Entendo que o livro "Anti-Frágil - coisas que se beneficiam com o caos", de Nassim Nicholas Taleb (Editora Objetiva, 609 páginas, tradução de Renato Marques) ajuda nesse entendimento de ver o planeta e sua gente, sua história e os fatos que marcaram épocas, de uma maneira diferenciada. Primeiro que Taleb é libanês e sua cultura, em si, já permite ter uma visão diferenciada do mundo ainda que sua formação acadêmica esteja vinculada aos Estados Unidos onde lecionou na Universidade de Nova York por 7 anos, e depois que ele é especialista em probabilidade e incerteza.

E o que é isso mesmo? Alguma picaretagem em cena? Algum guru querendo ganhar dinheiro com teses estratosféricas? Não. Taleb além de ter pés no chão e abominar benesses fortuitas tem um conhecimento vasto sobre a cultura da humanidade, se autointitula um devorador de livros, e o que ele (o filósofo) fala e prega no seu livro tem todo o sentido da vida. Aliás, o que mais ele aborda é exatamente a simplicidade da vida fugindo dos conceitos acadêmicos e das teses de doutorado e outras, as quais têm pouca utilidade prática no dia a dia das pessoas.

Essa é a diferença fundamental na abordagem de Taleb em "Anti-Frágil" com observações valiosas sobre a fragilidade, os fragilistas, os especialistas em tudo, e um mundo que se vende como fantástico quando não é. Por isso mesmo, a percepção diferenciada é relevante para esse alerta de que estamos submetidos a ditames pré-estabelecidos, arraigados, gente comprando coelho por lebre e se dando por satisfeito. E Taleb prega a rebelião no bom sentido da palavra que é um olhar diferenciados dessas lógicas reinantes.

Exemplo: os grandes inventos da humanidade (os atuais e os antigos) não passaram ou saíram dos bancos dos 'sábios' das universidades e sim de pessoas que atuaram no campo intuitivo e do saber localizado em esforço próprio, como foi o caso do computador e da internet que surgiram em oficinas; ou coisas do passado mas ainda extremamente úteis nos dias atuais como a cadeira e a cama objetos que já eram utilizadas pelos 'sapiens' desde antes do Império Romano mais de 400 a.C.

Diz Taleb (Pág 263, Anti-Frágil) "Leve em conta as tecnologias têxteis. Mais uma vez, as principais tecnologias que deram o salto para o mundo moderno não devem nada à ciência, de acordo com Kealy. Em 1733, John Kay inventou a lançadeira volante, que mecanizou a tecelagem; e em 1770, James Hargreaves inventou a fiandeira múltipla mecânica, mecânicas que mecanizaram a fiação, avanços de grande envergadura na tecnologia têxtil". Segundo Taleb foram incrementos empíricos baseados em tentativa e erro e experimentações de hábeis artesãos que estavam tentando melhorar a produtividade de suas fábricas, e, consequentemente, os lucros.

O livro está repleto de exemplos em vários campos do saber e da prática da vida, na medicina, na engenharia, na arquitetura, na economia e assim por diante. Comenta a observação de John Kay sobre o termo obliquidade - o uso da aspirina mudou diversas vezes - e indica o livro de Charles Bohuon e Claude Monneret intitulado "Acasos Fabulosos, História da Descoberta de Medicamentos; e Gás Hilariante - Viagra e Piptori. de Jie Jack Li.

Taleb é um crítico mordaz do academicismo e e da tecnologia corporativa de sistemas que, para ele, não servem para coisa alguma embora sejam estudados em escolas de Economia como, por exemplo planejamento estratégico que considera uma "conversa fiada supersticiosa". O livro é, também, uma leitura bem agradável e divertida diante dos exemplos que o autor coloca em cena, como o personagem Tony Gordo (e seu debate com Sócrates), o grande problema do peru de ação de graças diante do seu amigo açougueiro que o alimentou o ano todo para ser degolado, "A Lógica dos Cisnes Negros" - os burocratas engravatados das bolsas de valores que podem lhe levar ao caminho da fortuna ou da bancarrota; lições sobre a desordem; a história escrita por perdedores; quando duas coisas não são a mesma coisa e outros.

Vê-se, portanto, que estamos diante de um livro que prega conceitos (ou aletas) ao avesso e muitas das observações da Taleb são corretíssimas e bem usadas na vida prática. Ou como ele mesmo diz, não adiante a pessoa ter PhHs e doutorados, ser um sábio de artigos em revistas especializadas, defensores de teses e outros, que, na vida prática esses ensinamentos não servem para coisa alguma.

Coloquei esse comentario no contexto da "A Cadeira e o Algoritmo" porque o "Anti-Frágil" é uma lição de vida, uma boa oportunidade para você refletir e mudar alguns dos conceitos (ou preconceitos) que estão arraigados em sua mente . E ainda é possível a convivência entre as novas e as velhas tecnologias tendo o cuidado em manter tradições, seguir pelo com bom senso e não se impressionar com tudo o que é novo ou aparentemente novo, pois, muitas dessas inovações são garrafas de vento.

A Cadeira e o Algoritmo -  A Convivência Entre as Velhas e Novas TecnologiasOnde histórias criam vida. Descubra agora