Tenho uma bag monsieur Tapioca que carrego nas costas livros, água, barras de cereais, caneta, caderneta de anotações (ainda uso), pão, bananas e o que mais cabe a depender do peso e de quantos quilômetros vou caminhar. Durante a noite, me situo no tempo, choveu forte em Salvador com raios e trovões a espocarem no céu do mar aberto de Ondina, mas, o dia seguinte amanheceu limpo, sol iluminando a Barra - onde moro - e decidi carregar a bag para uma caminhada.
Já havia colocado 6 exemplares do meu livro "Catarina Paraguaçu, a Mãe do Brasil" e mais 3 exemplares do "Sua Eminência o cardeal - Panegírico de Dom Lucas Moreira Neves", uma banana da terra, uma barra de cereal YJoe, uma garrafa d'água de 300 ml, um lenço de cambraia (ainda uso), quando a senhora Bião de Jesus, minha distinta esposa, cutucou-me com o polegar nas minhas costas perguntando onde iria. - Ao Pelourinho, respondi secamente completamento a arrumação da bag. - Não me tragas cocadas e acarajés - advertiu-me e perguntou se gostaria de uma carona ou usaria o Uber. - Não, vou a pé, no meu ritmo. - Benza-te Deus, acalentou-me.
Pigarear - diz ela que é uma das minhas muitas manias - e acomodei a bag nas costas, o bastão de andarilho na mão direita, ajustei o chapéu com abas protetoras para o gorgominho e disse: - No retorno, no Campo Grande, lhe ligo para uma boleia.
Parti para o meu destino final que era levar os livros para o Espaço Cultural da Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, e para a Alamoju livraria de mesa-de-rua do Maciel de Baixo.
De minha casa até o Porto da Barra são 3 km, que venço numa hora. Do Porto ao largo da Vitória, praça Rodrigues Lima, mais 1km, onde paro para descansar um pouco, beber água e comer a barra de cereal. Daí até o Campo Grande, ao lado da antiga residência do arcebispo, mais 1 km; e seguindo adiante até a praça Castro Alves, mais 2,5 km; e para completar o percurso até o Maciel mais 1k. Total: 8,5 km. De retorno até o Campo Grande mais 3k, perfazendo 11,5 km.
Ora, direis o nobre leitor que é moleza. No Caminho de Santiago partindo-se de Saint Jean Pied de Port, na França, até Compostela, na Espanha, são 800 km e há 33 paradas neste percurso, cada uma delas distante uma da outra entre 22 e 29km, e jovens vencem todo o caminho em 33 dias. Os mais fortes, em 30 dias. Portanto, o meu percurso entre o Morro do Gato (Barra) e o Maciel de Baixo (Pelourinho), 11.5 km, com uma bag de 6k nas costas não tem dificuldade.
Sim, sem dúvida, para um jovem nada demais. Mas, leve em consideração que o andarilho que escreve essas linhas tem 77 anos de idade, já passou por 4 cirurgias, tem 'stents' no coração, aprecia a boa mesa e o copo, e não é mais o atleta dos anos 1960 da Olimpíada Baiana.
*****
Destaco essa minha performance - que também vem sendo feita por milhares de vovôs e vovós no Brasil, diariamente - porque integro um grupo enorme de pessoas na faixa entre 75 a 85 anos de idade que leva uma vida normal, trabalha, namora, bebe uns uisquinhos, usa bike, monta cavalo, frequenta academia, veleja, joga peteca, come de tudo (moderadamente) e não se entrega a pijama e a cadeira de balanço em casa.
Mas, afinal, que grupo é esse que tem chamado a atenção de especialistas e do mercado de consumo?
Na divisão clássica, as faixas etárias são 3: jovens (até 19 anos), adultos - 20 a 59 anos; idosos - indivíduos de 60 anos em diante. Há, uma série de subdivisões na prática da medicina e da psicologia como crianças (até 10 anos), pré-adolescentes (11 a 15 anos), adolescentes (16 a 19 anos), adultos (a partir de 21, maior idade), trintões, maduros (40 a 50), idosos (melhor idade, a partir de 65 anos) e velhos (depois de 77 anos). No Brasil, a expectativa de vida para as mulheres é de 80 anos e para homens 73 anos.
A geração dos nascidos entre 1940/1960 é chamada de "Baby Boomers" e a idade avançada só começa a partir dos 77, segundo novo estudo do Marist Institute for Public Opinion realizado para a Home Instead Senior Care. Mas, isso depende de cada país. No Japão, a expectativa de vida para os homens é de 84 anos e 88 para as mulheres. E, hoje, dados do OCED Better Life Idex, há milhares de japoneses tenho vida relativamente normal na faixa entre 90 e 110 anos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Cadeira e o Algoritmo - A Convivência Entre as Velhas e Novas Tecnologias
General FictionNo mundo competitivo dos dias atuais com as novas tecnologias em cena e a robótica abocanhando os empregos dos humanos, a cada dia é preciso se qualificar mais para enfrentar essa competição no mercado de trabalho e na vida cotidiana. Em "A Cadeira...