-Quem é o pior deus?-Kore perguntou tirando as flores dos cabelos e botando em uma cestinha na sua cama.
-Zeus.-Deméter respondeu friamente.
-Zeus... Não, não. Eu sei quem é Zeus. Não era ele.-A jovem respondeu pensando no homem.
-Então não era o pior deus. Você não fez nada com ele certo?
-Só conversei.
-E ele?
-Conversou de volta.
-Só? Nada de flertes?
-Não, fique calma mãe, ele nem dirigiu um olhar.
-E quem deu?
-Nunca mais irão dar, assim como não dei atenção.
-Ótimo.-Deméter se sentou ao lado da filha.-Estive pensando.... Você precisa ficar mais forte e eu não sou uma boa guerreira, Atena e Ártemis concordaram em te treinar. Em Atenas.
Kore quase engasgou e sorriu de felicidade.
-Muito obrigada mamãe!-Ela disse e deu um beijo na bochecha de Deméter.
-Não precisa agradecer. Faço tudo para proteger minha filinha.-Deméter respondeu a abraçando.
***
Kore suava como nunca. Seu corpo inteiro doía e Ártemis e Atena estavam plenas como sempre.
Aquele treinamento estava matando ela. Kore era muito magra e delicada para aquilo, ela não tinha os músculos de Atena nem a flexibilidade de Ártemis.
-Kore, endireite as costas!-Atena ordenou durante uma das flexões da outra.
-Sim, senhora!-Kore disse ofegante e com dificuldade.
-Queixo alinhado ao chão, Kore!-Ártemis avisou.
-Sim, senhora!
O corpo de Kore parecia que ia rasgar. Seu rosto estava vermelho e seus olhos lacrimejavam. Ela desabou.
-Me perdoem...-Kore gaguejou.
-Está tudo bem. Você está melhor do que ontem.-Ártemis respondeu a ajudando para levantar.
-Vá beber água e lavar seu rosto.-Atena disse.-Depois, você e eu vamos duelar.
-Duelar? Cadê as espadas de madeira?-Kore reclamou.
-Ninguém ataca com espadas de madeira.-Atena respondeu.
-E se eu me machucar?-Kore perguntou.
-Se levante. Você se machucou, não morreu.
***
Atena deu uma espada para Kore, ela a segurou firme, ficou de lado com sua perna esquerda na frente, joelhos levemente dobrado, o braço da espada num ângulo de 90° graus, e o outro braço do mesmo jeito, apenas um pouco para trás e com a mão fechada.
Ártemis havia lhe ensinado bem.
-Dê tudo de sí, deusa da guerra!-Kore desafiou Atena que riu áspera.
Atena ficou em posição.
-No seu comando, Ártemis.-Atena disse.
-Em posição?-Ártemis gritou.
-Sim, senhora!-As outras duas responderam.
-Andem em círculo, explorando o oponente!-Ártemis ordenou e elas o fizeram.
Atena observou as fraquezas de Kore. Seus ombros tremiam, ela podia atacar ali, ou em suas pernas bambas, Kore estava cansada, Atena via pela respiração ofegante da oponente.
Kore fez o mesmo que Atena. A mais velha era orgulhosa, com certeza atacaria primeiro.
"Atena costuma dar um pulo para impulso para atacar..." Kore pensou. Era isso. Se Kore percebesse quando Atena iria se preparar pro pulo, ela atacaria antes. "Posso prender as suas pernas, invocando raízes e pular em cima dela para o abate" Continuou pensando. Essa seria sua estratégia.
-Parem!-Ártemis ordenou e elas pararam.-Lutem!
Atena atacou primeiro. Mas não pulou, ela girou se abaixando com as duas mãos na espada e braços esticados, assim pegando no quadril de Kore no qual teve um grande corte rasgando suas roupas. Atena foi rápida, mas Kore foi mais ainda. Quando foi atacada, ela empunhou a espada na perna de Atena que estava na frente.
Atena colocou sua espada na de Kore no momento que foi atacada e jogou a espada de Kore para longe. Ela deu uma rasteira em Kore e subiu em cima dela com a espada em seu pescoço.
-Atena ganhou!-Ártemis anunciou.
Atena se levantou e ajudou Kore a se levantar.
-Aguenta mais um round, donzela?-Atena debochou.
-Só para ganhar de você!-Kore retrucou.
-Então lutem!-Ártemis gritou.
Kore pegou sua espada e dessa vez resolveu atacar primeiro, correndo até Atena com a espada em sua direção. Atena bloqueou com sua espada e atacou, mais Kore a bloqueou e começou a fazer pressão contra a espada de Atena que fez pressão de volta. Kore quase caiu, e deu um passos para trás. Então Atena deu seu pulo. As raízes de Kore agarraram suas pernas no ar a puxaram para o chão. Kore se jogou nas costas de Atena, puxou seu cabelo e colocou sua espada em seu pescoço.
-Kore ganhou!-Ártemis anunciou.
-Invocar raízes espinhosas é trapaça.-Atena riu.
-Nunca me disseram que não podia.-Kore respondeu com um sorriso travesso. Ela saiu de cima de Atena e fez as raízes voltarem ao chão. Atena se levantou e pegou a espada de Kore.
-Boa garota.-Atena disse e Kore corou. Atena tinha gostado de seu ataque.
-Peguem seu néctar.-Ártemis disse dando um vidro do líquido para cada uma que beberam e se curaram na hora.
-Kore, você está liberada. Amanhã vá para a escola. Irei te ensinar outras coisas.-Atena disse.
Kore assentiu. Ela estava animada, ela estava se tornando uma deusa de verdade. Ela sempre foi, mas nunca se sentiu como uma, nunca até agora.
***
No dia seguinte Kore foi a escola e viu uma mulher negra com cabelos longos tão negros quanto sua pele, seus olhos misteriosos e sábios se destacavam numa cor de roxo. Kore se sentiu intimidada e com medo, até que Atena apareceu atrás da mulher. Era a primeira vez que Kore via Atena sem armadura, apenas com um leve vestido castanho e com os cabelos soltos. Ela estranhou a sua visão.
-Kore, entre.-Atena chamou e Kore foi até ela e a outra mulher.-Kore, essa é Hécate, a deusa da magia. Hécate, essa é Kore, a deusa do crescimento natural.-Atena apresentou. As duas abaixaram a cabeça se cumprimentando.
-Ouvi muito sobre você, Kore.-Hécate disse.-Ártemis e Atena me contaram sobre seu potencial e força e Hades me contou sobre o quão encantadora você é.
-Hades?-Kore perguntou confusa.-Me perdoa, mas quem é Hades?
-E como ele conhece Kore?-Atena perguntou séria.
-Hades, meu colega de trabalho e melhor amigo, é o rei do Submundo, deus dos mortos. E ele conheceu Kore num festival de Ostara.-Hécate respondeu.
-Então esse era aquele homem...-Kore disse com um sorrisinho.
-Esqueça ele, Kore. Ele não é bom e já está comprometido. Não que isso importe.-Atena disse.
-Comprometido? Não, não. Ele e Minthe romperam faz semanas.-Hécate disse.
-Minthe?-Kore exclamou.
-Ela é uma ninfa. Hades tem um ponto fraco por ninfas.-A negra respondeu.
-É eu também...-Kore murmurou.-E por Minthe também. Minthe e eu namoramos na adolescência.-Ela disse para Hécate.
-Que mundo pequeno vivemos!-Hécate exclamou.
-Meninas, chega!-Atena ordenou.-Kore tem que aprender sobre caos.
-Claro que tem!-Hécate disse sorrindo.
***
Certo dia, Deméter foi chamar Kore em seu quarto, mas a menina não estava alí. Ela saiu para o jardim e viu uma onda de sombra. Deméter correu para ver o que era e viu que vinha de Kore. A menina estava nua e flutuava na sua escuridão. Deméter viu as cicatrizes no corpo da filha, ela percebeu que o abdômen da menina estava bem definido e ela podia ver músculos em seus bíceps.
-Kore!-Deméter chamou. Sua filha desceu na escuridão grandiosamente. Ela cessou aquela onda mágica que foi entrando nela e formando um longo vestido negro.
-Sim, mamãe?-Kore respondeu com um sorriso.
-O que foi isso?-Deméter perguntou preocupada.
-Meu caos.-Kore respondeu calma.-Ele é mágico, muito mágico e poderoso! Assim como eu.
-Aonde aprendeu isso?
-Com Hécate. Achou mesmo que eu não teria progresso nesse tempo todo?
-Óbvio que você teria! Mas você está parecendo...-Deméter parou e olhou para a filha. Sua pele havia clareado e seus cabelos estavam ficando rebeldes e mais escuros.-Você está parecendo uma deusa do submundo.
-Obrigada. Elas são as mais poderosas.-Kore disse.
-Elas são as mais perigosas!
-Pois sabem usar o caos! E isso as faz serem grandiosas, até mais grandiosas que você e os outros filhos de Cronos.
-Kore...-Deméter disse cautelosamente.
-Por que acha que as jóias ficam no Submundo? Porque elas são preciosas! Belas, intocáveis e valiosas, assim como quem vive lá. Eu serei uma jóia assim como Hécate! E até mesmo você, mamãe, terá que se ajoelhar.
Deméter não conseguiu falar nadas. As palavras simplesmente não saiam. Kore passou por ela e foi até a casa aonde entrou no seu quarto.
Não foi atoa que ela falou de jóias. Ela tinha uma caixa de ouro cheia delas e cada dia aparecia cada vez.
Kore pegou a caixa e viu mais um bilhete negro escrito em grego antigo em sua tampa.
"Para Kore,
Eu estou lhe dando esse anel de pirita para você conseguir mais riquezas na sua vida.
Riquezas como você.
Espero que goste, minha donzela.
Do seu rei, Hades."
Quando Kore leu com um sorriso, e quando terminou de ler, o bilhete se queimou sozinho.
Ela abriu a caixa e lá o anel no topo de tudo.
Kore o colocou junto do colar de olho de tigre e ouro que Hades também havia lhe dado. Ela trançou seus cabelos com fios de prata e a enfeitou com sua dama da noite.
Kore foi até jardim para cuidar do solo, mas Deméter a segurou pelo braço.
-Anel novo?-Deméter perguntou desconfiada.
-Gostou? Foi difícil de fazer. Demorei dias nele.-Kore mentiu. Sua mãe suspirou e a soltou.
-Kore, eu olhei nos seus escritos... Caos não cria jóias.
-O meu cria!-Kore retrucou para reforçar a mentira, nunca que sua mãe ficaria de boa com Hades a presenteando todo dia.-Hécate disse que meu caos está no nível de Nix e que se eu fosse uma deusa do submundo eu seria mais poderosa que ela.-Isso era verdade.-Então sim, meu caos cria jóias.
Deméter acreditou. Sua filha era sim poderosa e ela podia ver isso de longe. E agora que estava treinando e estudando ela havia ficado mais. Deméter estava ficando com medo do que a própria filha podia se tornar. Mas quando se virou e a viu ajoelhada no chão com as mãos no solo brilhando com uma energia verde que aos poucos ia consumindo toda a plantação deixando todas hortaliças, flores e todo o resto mais forte, mais vivo e mais saudável. Deméter lembrou que aquela era sua garotinha e que ela não faria mal a ninguém. Kore era muito pura para isso, Kore era uma deusa da natureza, uma donzela, uma fazedora do bem. Assim como a mãe.
Deméter sabia que Kore sempre seria como ela, Kore era sua filha, estava no seu sangue ser igual a Deméter... Mas também estava no seu sangue ser igual a Zeus e Zeus não tem filhas benevolentes e donzelas, ele tinha filhas guerreiras e mandonas que não ligavam se destruíssem algo ou alguém.
Deméter não quis acreditar que Kore seria assim, até o momento que viu a filha indo colher maças e a macieira caiu em seus pés na hora, com todas as maçãs podres e mortas.
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A verdadeira rainha
SpiritualEsqueça tudo que viu, escutou e leu sobre Perséfone, pois aqui se encontra a verdadeira história sobre ela. Durante várias projeções astrais, leituras de runas e tarot, meditações e canalizações com a deusa, eu resolvi compartilhar a verdade por trá...