Deméter nunca sentiu tanta raiva na vida. Kore fugiu com um homem, partiu o coração da mãe, virou rainha, se casou e ainda mudou de nome? Ela tinha ido longe demais.
-Você vem comigo agora, mocinha!-Deméter gritou, correndo em direção a Perséfone.-Não irei tolerar essa palhaçada por mais um segundo!
Tudo ficou quieto.
-Ela é minha!-Hades finalmente gritou, abraçando Perséfone contra seu peito.-Ela comeu minhas romãs! Ela é minha.
Perséfone empurrou Hades.
-Não acredito que você fez isso!-Perséfone rosnou.
-Está vendo, Kore?-Deméter riu.-Ele mentiu e te manipulou.
Perséfone deixou uma lágrima cair.
-Kore não perdoaria isso...-Perséfone sussurrou.-Kore, não.-Ela agarrou os cabelos com força e os arrancou, deixando-os na altura da orelha. Agora não era mais amadurecimento, era rebeldia.-Mas Perséfone está pouco se fudendo!
-Kore...-Deméter começou com raiva mas Perséfone gritou:-Meu nome é Perséfone! Kore está morta!
-Filha.-Deméter continuou, mais calma.-Quantas romãs você comeu?
-Seis.-Perséfone respondeu sem paciência.
-Seis meses com Hades e seis meses com Deméter.-Zeus concluiu.
-Que porra é essa?-Hades exclamou irritado.-Vocês estão negociando minha esposa?
-Ela não é sua esposa!-Deméter rosnou.
-Eu já seria se você não se atrapalhasse tudo!-Perséfone retrucou.
-Eu só deixarei esse casamento continuar se você voltar comigo!-Deméter anunciou.
-Apenas nas condições de Zeus.-Perséfone concordou.
-Eu aceito!-Deméter concordou de má vontade.
-Eu aceito.-Hades falou revirando os olhos.
-Posso me casar agora?-Perséfone reclamou.-Ah e se possível gostaria de ter minha noite de nupciais também.
***
Depois de toda aquela dor de cabeça o casamento ocorreu bem. Mesmo todos indo embora Deméter e Hermes ficaram.
Os noivos não ligaram, apesar que de primeira eles terem xingado o universo inteiro por isso. Eles estavam felizes por finalmente terem se casado e Hades estava extremamente orgulhoso de sua esposa.
Naquela noite Hades levou Perséfone para seu próprio quarto pela primeira vez, afinal agora eles eram casados.
-Perséfone hm?-Hades riu.
-Qual é o problema?-Ela perguntou já na defensiva.
-Nenhum. Eu amei na verdade. Combinou mais com você.-Hades passou os dedos no cabelo curto da esposa, seus cachos ficaram mais bonitos daquele jeito.-A rebeldia caí bem em você.-Aquilo fez Perséfone sorrir.
-Eu sei.-Ela respondeu rindo.
-Minha Perséfone.
-Eu não conseguirei viver sem ser sua por seis meses.-Perséfone resmungou se jogando aos braços de Hades.
-Eu darei um jeito. Mas não ligue pra isso agora. É a nossa noite de nupciais.-Então Hades a beijou. Ele beijou Perséfone, ele beijou sua rainha, ele beijou sua esposa. E deuses, como aquilo era bom.
***
-Pérolas?-Perséfone indagou enquanto passava a mão no peito nu de Hades.
Eles estavam deitados na cama de Hades, bom, na cama deles. Deviam ter feito amor umas cinco vezes antes de terem aquela conversa.
-São discretas e bonitas.-Hades respondeu.-E assim a gente pode ter um tempo para nós mesmo quando você deve ficar Demetér.-Ele abraçou Perséfone para mais perto.
-Até que é uma boa idéia.-Ela sorriu se aconchegando no marido.
Perséfone podia ser o total oposto de Kore, mas ela ainda se abraçava a Hades como se ele fosse um ursinho. Aquele era o único momento que ela ficava vulnerável, o único momento em que a sua cabeça não ficava uma bagunça, era quando ela se sentia confortável o suficiente para não esconder quem era.
-Vou sentir saudades.-Perséfone chorou, enterrando a cabeça no peito do marido. Ele suspirou e beijou-lhe a testa.
-Eu também, Sef.-Hades respondeu.-Eu também.
***
Último dia no Submundo. Último dia com seu marido e último dia com seu reino. Perséfone vestiu o mesmo vestido que havia usado no seu primeiro dia lá, quantas lembranças...
Ela quis colocar sua coroa, mas aquilo não combinava com aquele vestido, ou com o reino de sua mãe. Perséfone suspirou e fez algo que não fazia a tempos, ela botou uma flor em seu cabelo. Uma dama da noite.
-Uma flor?-Hades riu se levantando da cama.
-Cala a boca!-Perséfone respondeu rindo.
-Você ainda está maravilhosa.
-E você ainda está nu. Se minha mãe entrasse aqui agora...
-Ela não vai.-Hades disse calmo e beijou o pescoço da esposa.
-Não me provoque! Eu tenho que ir embora, não te desejar mais.
***
E então Perséfone teve que ir. Ela andou pelo seu castelo lembrando da primeira vez que andou por aqueles corredores completamente desorientada. Passou pela sala aonde Hécate, Nix e Éris estavam e se despediu com apenas um aceno e um triste sorriso. Viu seus servos e agradeceu cada um por seus serviços e por fim, ela viu Cérbero.
Perséfone correu até seu grande cachorro de três cabeças que abanava o rabo para a presença da dona e suas cabeças latiam de alegria. Ela chorou e abraçou o peito de Cérbero.
-Vou sentir sua falta, garotão.-Perséfone disse o acariciando. Cérbero choramingou e uma cabeça se esfregou em Perséfone e uma outra lambeu seu rosto. Ela riu mesmo toda babada, beijou uma cabeça de cada vez e acenou indo embora.
Ela foi até Caronte aonde Hades, Deméter e Hermes a aguardavam.
Hades lhe deu um saquinho cheio de pérolas.
-Você sabe o que fazer.-Ele disse. Perséfone voltou a chorar e o abraçou com força.
-Eu te amo!-Ela choramingou. Hades segurou seu rosto, ele chorava também. A primeira vez que Perséfone o viu chorando.
-Eu também te amo, minha rainha.-Hades respondeu e a beijou. Perséfone quis continuar naquele beijo para sempre, mas teve que parar.
-Até breve.-Ela disse se despedindo e jogando uma draquema para Caronte.
-Até breve.-Hades respondeu.
Perséfone entrou no barco junto de sua mãe e Hermes. Deméter a abraçou.
-Senti sua falta, pequena.-Deméter disse acariciando os curtos cachos da filha.
Por mais que doía Perséfone ansiava por sua mãe e respondeu.
-Eu também, mamãe.-Ela beijou a testa de Deméter, que sorriu.-Mais do que você imagina.
***
Os humanos chamaram aquilo de primavera. Primavera foi quando Deméter recuperou sua filha, quando o solo recuperou sua fertilidade, quando os mortais recuperaram sua saúde e o sol nasceu iluminando tudo.
Todas as deidades terrenas trabalhavam duro naquela primavera. Devolvendo suas hortaliças, plantas e flores. O mundo estava vivo novamente.
Quando acabaram era tempo de celebrar, o sol brilhava mais e tudo estava na flor da beleza e saúde. Chamaram isso de verão.
Perséfone amava ver a paz se instaurando e não parava de pensar no quanto que agora seria mais fácil o trabalho no Submundo.
Ela se mostrava aos humanos sempre para ajudá-los, sempre vestida de vermelho com rosas no cabelo, rosas sem espinhos, ao contrário de quando usa sua coroa de rainha.
Perséfone gostava do sol na sua pele, quase sempre Apolo aparecia para ela naqueles momentos para lhe fazer companhia, a fazendo rir e se divertir cantando e dançando juntos.
Dionísio também a ajudou muito com sua amizade e principalmente com a bebedeira.
Sua vida estava como a de 2202 anos atrás e ela estava feliz, mas faltava Hades.
Na primeira vez Perséfone não quis usar as pérolas pois estava trabalhando duro na Terra e se divertindo também, mas quase sempre ela sentia falta da companhia do marido, mesmo assim não usava suas pérolas.
Em uma noite, Perséfone voltava para a casa da mãe depois de passar o dia com Dionísio e foi pega de surpresa.
-Hora de voltar para casa, querida.-Hades disse parado na porta da casa de Deméter.
Seis meses passaram como se não fossem nada e a rainha finalmente pode voltar ao seu reino.
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A verdadeira rainha
EspiritualEsqueça tudo que viu, escutou e leu sobre Perséfone, pois aqui se encontra a verdadeira história sobre ela. Durante várias projeções astrais, leituras de runas e tarot, meditações e canalizações com a deusa, eu resolvi compartilhar a verdade por trá...