9 ▪︎ Depois da meia-noite

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Ficaram em silêncio, ambos imaginando se da rua se podia ver a luz dos abajures da sala. As cortinas pesadas talvez a vedassem. Mesmo assim Jimin desligou um deles e empurrou um tapete pequeno até a fresta inferior da porta. Ouviram passos, provavelmente de duas pessoas, depois um toque de campainha. O toque pareceu multiplicar o silêncio interior.

Os cães começaram a latir. Um imprevisto incontrolável e assustador. Colaram os ouvidos na madeira à escuta. Novo toque de campainha, seguido de um terceiro. E os dálmatas latindo.

— Será que ela saiu? — ouviram. — Não pode ser.

— Se saiu foi com os dois, mas para onde?

— A ordem era para reter os pivetes aqui. O que teria havido?

— Está ouvindo os cachorros?

— Estou.

Novos toques de campainha.

— Onde aquela louca foi a esta hora!

A voz que soou em seguida denotou apreensão.

— E se dominaram a doutora? Lá na igreja deram uma cadeirada na ruiva.

— Ou ela fugiu com o dinheiro.

— A perua velha?

— Quando telefonou não sabia que os dólares estavam com os garotos.

A conversa passou a se expressar mais pelas pausas que pelas palavras.

— Descontente com dinheiro ela andava — o outro admitiu.

— Pode ser ainda que tenha entrado em acordo com os dois...

Dentro, os dois trocaram-se novos olhares. Ouvia-se bem o que se dizia do outro lado da porta, a não ser quando os cachorros latiam demais.

— Vamos tirar a dúvida na marra — decidiu um deles.

— Como?

— Arrebentando a porta.

— Vamos, Kwan.

Esse nome provocou nos um dois verdadeiro choque elétrico.

— Arrebente a fechadura.

Jungkook e Jimin recuaram, dando-se as mãos. Um precisava da força do outro, da energia. Logo ouviram ruídos metálicos na fechadura. O loiro puxou o outro rapaz para a porta da cozinha. E falou pela primeira vez durante a situação:

— Não vamos deixar os cachorros passarem pra sala.

Quando ele cuidadosamente abriu a porta os cães voltaram a latir e com muito mais estridência. Jimin entrou na cozinha, seguido de Jeon. Estava às escuras mas o menor se arriscou a acender a luz. Havia uma porta, no fundo, que devia dar para um quintal ou jardim. Mas, azar, estava fechada a chave.

Jungkook apontou para outra porta, ao lado do fogão, e abriu-a. Era uma pequena despensa, ocupada por prateleiras cheias de alimentos enlatados ou embrulhados. Não havia outro lugar para se esconderem. Jimin desligou a luz e os dois entraram no estreito e abafado compartimento. Para caberem tinham de ficar colados, corpo a corpo. Jeon sentia o perfume que o outro usava e, logo mais, as batidas de seu coração. Atrás da porta da despensa os dálmatas fungavam.

— Os cães vão nos denunciar — temeu Park.

Minutos depois ouviam um forte estalido. A porta da rua cedera. Aí a tensão chegou ao máximo. Ouviram vozes já na sala.

— Abajures acesos. Alguém deve estar aqui.

— Vamos subir.

— Não, é melhor olhar primeiro a cozinha.

Doze horas de terror • Jjk + PjmOnde histórias criam vida. Descubra agora