15 ▪︎ Seis horas da matina

172 36 0
                                    

Lucas acordou no leito do hospital sentindo uma pressão maior no braço. Ouviu:

— Já passou o efeito da anestesia.

No quarto estavam o médico, bem próximo dele, o enfermeiro que já conhecia, e uma pessoa, mais recuada, que não conseguia identificar. O médico sorriu:

— Foi tudo bem. Meia hora na mesa.

— Vou ficar com o braço em ordem?

— Vai, mas daqui um mês mais ou menos.

A pergunta seguinte era muito importante:

— Quando posso sair do hospital?

O médico embaraçou-se um pouco.

— Bem... Daqui poderia sair em dois dias.

A pessoa ainda não identificada, um homem magro, vestido modestamente, com a gravata mal-ajeitada no colarinho, aproximou-se. Trazia uma caderneta na mão. Lucas a reconheceu.

— Isto é seu? — o homem perguntou.

— É — respondeu Lucas.

— Aquela mulher veio para pegar isso?

— Suponho que sim — respondeu Lucas, já tentando adivinhar as perguntas seguintes para formular respostas pouco comprometedoras.

— Que endereços são esses?

Lucas hesitou.

— Ele é um agente da polícia — esclareceu o médico.

— Endereços de traficantes de tóxicos e viciados.

— O que você fazia com ela? — perguntou o policial.

Lucas perdera sangue, mas não a esperteza:

— Pretendia entregar à polícia.

— Por isso o balearam?

— Por isso me balearam.

— Então não foi bala perdida?

— Nas circunstâncias eu não podia dizer outra coisa — respondeu Lucas, como se pedisse compreensão.

O policial já estava de posse de outras informações.

— O ferimento que sofreu teria algo a ver com um tiroteio numa galeria?

— Foi lá que me alvejaram — confessou Lucas.

— E a sua arma?

— O quê?

— Perguntei onde está sua arma.

Dizer que a entregara ao maninho? Nunca.

— Eu estava desarmado.

— Mas houve um morto.

— Houve? Naquela escuridão não vi nada. Fiquei escondido algum tempo enquanto atiravam. Nem sei quantos homens eram, se dois ou três... Quando percebi que um deles estava ferido, escapei.

— Por que quiseram matá-lo?

— Por causa dessa agenda. Sabiam que eu ia fazer alguma coisa com ela.

— Então você pertencia à quadrilha?

— Pertencia... Mas rompi e comecei a organizar essa agenda.

O policial não nascera ontem.

— O motivo desse ajuste de contas foi só esse?

— Foi. É o que eles chamam queima de arquivo.

Doze horas de terror • Jjk + PjmOnde histórias criam vida. Descubra agora