2 - Não tenho medo

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Uma semana se passou sem que houvesse aula para o terceiro ano enquanto a escola tentava reformar a sala de aula para o retorno dos alunos. Nesse meio tempo, os pais de alguns estudantes buscaram o conselho escolar na tentativa de retirar Hoseok da escola e até tentaram acusá-lo de tentativa de homicídio, o incriminando pelo incêndio.

A mãe do Jung precisou lutar dias e dias pela inocência do filho, procurando câmeras e provas de que Hoseok já havia ido embora quando o incêndio se iniciou. E embora todos - até mesmo a mãe de Hoseok - soubesse que de fato aquilo tivesse algo a ver com o platinado, não haviam provas o incriminando, então ele não foi indiciado. Além disso, pelo vilarejo ser extremamente pequeno e só ter uma escola, Hoseok não pode nem sequer ser transferido, e sem provas contra ele, continuou ali.

Não que Hoseok estivesse feliz. Ele definitivamente não estava. Sentia que era um grande problema para todos ali. Sentia raiva das pessoas por, mesmo sabendo que teria uma reação, o provocarem, e depois o culparem por aquilo. Era como se tivessem tacado pedras em uma onça, sabendo que ela certamente reagiria, e depois ficassem reclamando e culpando a onça por tê-los atacado. Era ridículo, mas era assim que todos agiam. E ao invés dos pais brigarem com seus filhos por terem mais uma vez implicado e humilhado Hoseok, eles tentaram o atacar e culpar por tudo mais uma vez.

Às vezes queria que todo mundo naquela cidade se fodesse, mas as vezes só queria morrer logo e sumir. Nunca teve amigos ou uma vida normal. Sempre viveu isolado e sua única companhia sempre foi sua mãe. Aliás, a mulher era a única coisa que o mantinha vivo. Sempre o protegeu com unhas e dentes e sempre batalhou muito por eles dois. Hoseok sabia que ela sofria toda vez que algo assim acontecia com ele. Podia ouví-la chorar durante a noite e o prometer que trabalharia ainda mais para tirá-los daquele vilarejo. O problema era que a mulher quase nunca conseguia trabalho, o dinheiro deles era escasso e Hoseok era quase obrigado a ir para a escola todos os dias apenas para que pudesse se alimentar lá, sendo sua única refeição do dia.

A casa dos dois era simples, um quarto/sala/cozinha e um pequeno banheiro. Dividiam uma cama velha de casal e apesar de serem muito humildes, os dois sempre mantinham tudo muito bem arrumado e limpo. Eles já não pagavam as contas de luz ou água há meses, e só não era cortada pois Yongsun usou as histórias sobre seu filho a seu favor e ameaçou a todos que tentassem cortar a água e a energia dizendo que Hoseok os amaldiçoaria para sempre.

É óbvio que funcionou, e assim eles não precisavam mais se preocupar com essas despesas, mas também aumentou e piorou bastante as fofocas sobre o rapaz. No fundo Hoseok não se importava, as pessoas já falavam de si sem motivo algum, então ao menos dessa vez tinha um propósito e ajudava sua mãe.

Agora, Hoseok caminhava cabisbaixo até a escola com tudo isso rondando sua cabeça. Não prestava atenção em nada a sua volta e por isso não reparou num certo moreno que o observava passar.

Como sempre, após um grande evento como esse, Hoseok sabia que teria ao menos um ano de paz pela frente com ninguém sequer direcionando a palavra para si e assim a semana passou extremamente tranquila e solitária outra vez.

Foi apenas na quarta-feira seguinte que algo diferente aconteceu deixando Hoseok surpreso, mas também em alerta. Como sempre, dormiu do início da aula até o intervalo sem nenhuma intervenção de ninguém. Mas foi quando o sinal tocou anunciando a pausa das aulas, fazendo o platinado erguer sua cabeça para seguir até seu canto atrás da quadra, que sua surpresa veio. Um moreno de sua turma estava parado na frente de sua carteira. Hoseok riu fraco se ajeitando na carteira e cruzou os braços o encarando quase em deboche.

-Diz aí, qual a pegadinha da vez?

-Não tem pegadinha. - o outro disse calmo, puxando uma cadeira para se sentar de frente para o platinado.

Karma • yoonseok/sopeOnde histórias criam vida. Descubra agora