NATASHA ROMANOFF
Saí até a calçada para esperar Clint no início da noite. Ele me daria uma carona, como vinha fazendo no último ano. As reuniões do grupo de auto ajuda aconteciam semanalmente e eu tinha o conhecido ainda no primeiro dia. Ele foi designado para ser meu padrinho e desde então tínhamos desenvolvido uma boa amizade.
Clint não era alguém que julgava, tendo sido uma pessoa com sua parcela de erros durante a vida, ele conseguia ver o lado bom de qualquer pessoa. Era por isso que ele conseguia enxergar em mim, mesmo quando eu não tinha essa capacidade.
- Você parece uma merda. -ele disse rindo quando entrei no carro.
- Nossa, você sabe como alegrar uma mulher. -ironizei. - Foi assim que Laura se apaixonou?
- Na verdade foi o charme que veio com a sobriedade. -ele brincou, conseguindo ser muito mais leve com seus próprios problemas do que eu.
Deixei o assunto morrer, Clint tinha razão, eu provavelmente parecia uma grande bagunça, porque o exterior costumava refletir como você se sente por dentro. Os dias não eram normalmente fáceis, mas quando eu tinha que confrontar alguns erros do meu passado, eles se tornavam especialmente mais difíceis. Aparentemente o mundo queria jogar Wanda Maximoff diariamente na minha cara.
Durante as primeiras sessões do grupo, Clint me disse que conseguir o perdão daqueles aos quais você feriu e tentar amenizar as suas dores era um bom caminho para começar a perdoar a si mesmo. Foi por isso que, com esse pensamento, fiz uma listinha em uma agenda antiga com todos os nomes que passaram na minha mente.
É claro que os nomes dos meus pais estavam em primeiro lugar, os meus antigos amigos, pessoas que eu lembrava de ter magoado de alguma forma durante todos aqueles anos, todos eles estavam lá. Aos poucos, no último ano, fui riscando diversos nomes, através de conversas dolorosas ou simples pedidos de desculpas. Mas alguns deles continuavam la, nomes que eu nunca seria capaz de riscar.
Wanda era um deles.
- Ela realmente mexeu com a sua cabeça, não foi? -Clint voltou a falar, puxando minha atenção de volta para si.
- Não...-menti mesmo sabendo que ele não acreditaria nisso.
- Qual é o problema? -ele perguntou mais uma vez, sabendo que precisava tirar aquilo de mim.
- Ela me olha com tanto ódio, Clint. E não me entenda mal, sei que mereço. Mas me faz realmente pensar em como eu fodi tudo. Como fodi com a vida das pessoas ao longo dos anos. É claro que eu já sabia disso, ainda mais depois do acidente. Mas eu vinha tentando me enganar, tentando dizer que eu era capaz de reparar os danos, mas é óbvio que não. Eu nunca vou conseguir reparar os danos que fiz na vida de Wanda. Assim como nunca vou conseguir reparar os danos que fiz a... a ela.
Ele desviou o olhar para mim por alguns segundos e então voltou a dirigir, encarando a estrada a sua frente. Eu podia dizer que ele estava pensando nas suas próximas palavras, então aguardei.
- Nat, buscar o perdão é importante, tentar amenizar as consequências dos seus atos também. Mas mais importante do que isso é saber que nem sempre se terá uma resposta positiva.
Eu sabia que ele tinha razão, mas isso não era suficiente. Já havia muito sobre as minhas costas, já havia danos irreparáveis, lidar com mais um deles, um que estava perto e me olhava com ódio e desprezo era mais pesado do que eu poderia aguentar.
Entramos na reunião em silêncio e naquele dia decidi não falar. Clint, vez ou outra, desviava a atenção para mim e eu apenas dava um sorriso amarelo, tentando fazê-lo acreditar que tudo estava bem.

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Mistakes
FanfictionWanda é obrigada a retornar para sua cidade natal e enfrentar seus medos. Natasha é o maior deles