Capítulo 1: Parte 1

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A neve rangia suavemente sob seus pés descalços. Harry entrou no parque, seu rosto erguido para o céu para ver a neve cair lentamente e cobrir tudo em seu casaco pesado. Era véspera de Natal, ele tinha sete anos e seu tio o havia expulsado de casa algumas horas antes, porque ele não queria que o menino estragasse a festa do filho com sua monstruosidade. Então ele colocou o pequeno Harry para fora, sem nem mesmo lhe dar tempo para pegar um casaco ou calçar os sapatos. Harry havia, portanto, tomado a direção do parque, pois sabia que receberia uma correção se ficasse na frente de casa.

Ele brincou no balanço, depois no escorregador por um tempo, depois fez um boneco de neve. Aproveitando sua solidão para fazer o que não era permitido fazer em tempos normais. E agora lá estava ele, sentado no topo do tobogã, perscrutando o céu, na esperança de ver o Papai Noel passar. Foram passos que desviaram sua atenção da neve que caía. Ele saltou, preocupado em se meter em encrencas que inevitavelmente levariam a uma correção de seu tio. Harry saltou do escorregador para encontrar refúgio abaixo. Escondido como estava, ele não podia ver bem, mas podia ouvir perfeitamente o que estava se aproximando cada vez mais dele.

Um par de sapatos imaculadamente encerados apareceu diante de seus olhos. Harry ficou tenso e prendeu a respiração, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Mas foi um esforço desperdiçado.

- Saia, eu sei que você está aqui.

A voz do homem era suave, mas mandona. Harry hesitou um momento antes de fazer o que foi pedido a ele. Ele saiu de debaixo do escorregador e pôde ver completamente o homem que se aproximou dele. Ele era alto e magro, usava um terno que devia ser muito caro e, por cima, um casaco preto e um lenço verde. Mas o que mais surpreendeu Harry foram provavelmente os olhos do homem. Eles eram verdes, tão verdes quanto os dele, e o observavam com uma gentileza com a qual Harry não estava acostumado.

- O que você está fazendo aqui ? Você não está com frio

Harry balançou a cabeça bruscamente. Não, ele não estava com frio. Ele nunca sentia frio, seu tio sabia disso e aproveitou para colocá-lo fora com a maior freqüência possível, mesmo no inverno. Harry achou estranho no começo, ele sabia que estava frio, mas ele não estava com frio. Para ele, foi até muito bom, apesar do vapor saindo de sua boca. Além disso, ele achava que era legal, porque lá fora, no inverno, Duda nunca correria atrás dele: ele estava com muito frio. E Harry amava a neve, então ela não o incomodou muito. A única coisa que o incomodava era o fato de seu tio bater nele sempre que ele voltava sem tremer.

Uma mão em sua bochecha o fez pular violentamente e se afastar. Ele então bateu contra o escorregador e ficou tenso até que a dor em seu braço cessasse. Seu tio o agarrou violentamente no início do dia e ele estava com um grande hematoma no braço agora. Ele imediatamente sentiu uma mão agarrar seu braço ferido e lutou, mal ouvindo o homem pedir-lhe para se acalmar. Até que ele foi puxado para um abraço. Harry congelou então, atordoado. Ninguém nunca o abraçou. Harry relaxou completamente então. Estava quente e doce. Ele podia sentir um nó se formando em sua garganta e seus olhos se enchendo de lágrimas. Harry ficou tenso então. Ele não devia chorar. Apenas bebês choravam, e ele não era mais um bebê.

Ele tinha que permanecer forte. Se ele chorasse, o homem riria dele. Mas, apesar de seus melhores esforços, as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto sem que ele fosse capaz de detê-las. Ele então ouviu a voz suave do homem.

"Chore, garotão," ele sussurrou em seu ouvido, "você tem o direito de chorar se precisar.

Harry então rachou e chorou, gemendo na capa do homem que o segurava contra si, sussurrando palavras tranquilizadoras para ele. Um gesto ao qual Harry estava tão pouco acostumado, mas que lhe fez tanto bem que ele chorou ainda mais.

A Alma da Família[TRADUÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora