A Explosão e a Calmaria

171 19 69
                                    

Isaac

- por quê você tá fazendo isso comigo?- pergunto após o babaca do Miguel sair
- Eu não tô fazendo nada com você- ela se esquiva por mais que eu tivesse tentando amenizar minha explosão ainda sim ela tinha essas reações de como se eu tivesse tentando machucá-la
- Você se afastou só porquê eu te beijei?
- não
- Então por quê?
Ela se mantém em silêncio. eu tava tentando manter a calma, mas naquele momento eu senti vontade de explodir e me jogar da varanda em seguida.
- Se não tem a ver com aquele dia foi o que então? Estava se afastando já que você sabia que seria despedida logo em breve? Só se aproximou de mim devido ao dinheiro que recebia?
Na adrenalina eu não conseguia me arrepender das coisas que eu falava, eu sentia raiva, mas ao ver aqueles olhinhos genuínos negando tudo eu fraquejei por um segundo
- Eu jamais me aproximaria de você por dinheiro, você tá enlouquecendo?
- Me fala, Maria Júlia, o que eu faço para ter você novamente?- tento encará-la
- você gosta da Ana, toda aquela cena no shopping foi para ela ver, só me beijou em público para mostrar para ela, você nunca olhou para mim diferente quando estamos a sós, isso é somente em público. Você acha que sou burra?
- porra, como você pode formular esse pensamento sobre mim sem nem saber o que eu sinto?
- Você acha que esqueci das coisas que você falava lá na sala? Você só se aproximou de mim agora por quê agora é deficiente também, mas se não fosse isso, você iria continuar não me enxergando
- eu já pedi desculpas, não me cobra nada do passado, eu sei que não fui boa pessoa
- Desculpa, Isaac, mas eu não confio em você- dessa vez ela falou olhando nos meus olhos mas em seguida desviou, sua onda de coragem caiu por terra dava para perceber claramente, ela estava literalmente tremendo
- Então vai embora
Ela sai apressada batendo a porta
- da minha cabeça, filha da puta

As lágrimas já novamente invadiam meu rosto, um Isaac capacitista do passado condenava o caráter do Isaac deficiente do presente, e isso fodia com tudo.

Após alguns minutos eu desço para ver como estão as coisas lá em baixo e vejo Mari já sentada olhando para minha cara com uma expressão de quem iria me julgar.

- Não fala nada, Mari, sério- eu já tava quase chorando de novo
- Então, o senhor era capacitista?
- Caramba, todo mundo já foi um dia
- fale por você, gatinho
- Foi mal, véi
- não é para mim que você deve pedir desculpas ou ao menos mostrar que mudou né?
- mas eu mostro
- como?

Fico em silêncio, eu não sei como eu poderia fazer aquilo, abaixo a cabeça.

- olha, maninho, de verdade, eu não quero te culpar por tudo que está acontecendo de ruim, mas a Lia está um pouco receosa em relação a você, se quiser voltar a ter algo com ela, precisa conquistar a confiança dela de alguma forma. Mas honestamente? Eu recomendo que se cuide primeiro
- como que faz essas duas coisas?

Ela apenas me abraça em resposta
Eu tava tão sem rumo, não sabia o que fazer, apenas a abracei de volta e após quase chorar na frente dela volto para meu quarto para ao menos sofrer escondido.

Dia Seguinte

- Tenho uma novidade para vocês- meu pai se pronuncia assim que eu chego á mesa
- Opa, vai me dar um carro?- Mari sorri sarcástica
- você não está merecendo nem uma bicicleta- ele a retrucou

Queria rir mas permaneci calado e sem expressão.

- poxa- Mari desanima
- Então, vou tirar umas férias de umas duas semanas ou pouco menos que isso. E eu tava pensando em fazer uma viagem
- Vai deixar a casa com a gente?- os olhos de Mari estavam brilhando
- Não, vocês vão juntos ora
- E você decidiu isso sem perguntar para a gente antes?- Mari pergunta
- Mas vocês não vão querer ir?- ele pareceu meio triste ao falar, me deu um peso na consciência
- Eu queria ficar- piso no pé da Mari por baixo da mesa
- A gente vai sim, pai. Tudo certo- dou um sorrisinho amarelo enquanto vejo Mari resmungar alguma coisa- Para aonde a gente vai?
- Eu pensei em irmos para Porto Alegre, mas eu ia acabar trabalhando por lá também, então falei com Helena para irmos para Gramado. Ah, e eu falei com o Valentim para ele permitir que a Júlia fosse conosco- ele falou sorrindo esperando provavelmente que eu fosse adorar
- Que maravilha, pelo menos não vou ficar sozinha com aquela chata da Helena
- Não fala assim dela, Mariana
- Como que fica gramado no verão?- Corto a futura briga dos dois
- Eu vi em algum lugar que é igual deserto, calor dos infernos de dia e bem frio de noite- Mari responde minha pergunta
- Mas pai, a Júlia aceitou ir conosco?- Mari muda novamente de assunto
- Acho que sim, por que ela não aceitaria? Vocês se adoram- era até engraçado aquela inocência, ela mal vinha aqui, maior clima de caos e meu pai ainda jura que somos amigos irmãos, mas ainda sim ela era amiga de Mari né.. Sei lá, iria ficar trancado no quarto mesmo, não faz diferença ela ir ou não
- Vou falar com ela- Mari pega o celular

16h

- Olha, Isaac, sua namorada
Olho para a direção que Mari indicava e vejo Ana, não é possível que ela sempre apareça subitamente. Nossos olhares se encontram e a única coisa que eu sinto é um vazio, desvio o olhar dela e deposito um tapa na cabeça de Mari.
- espero que tenha sido o suficiente para consertar seus neurônios
- E eu tô errada?- ela ri massageando o local do tapa
- Tá sim, na minha cabeça já terminamos
- E na dela?
- também, certeza
- Ela tá vindo aqui, tchau irmão- Ela se afasta me deixando lá, do nada me vi sozinho á frente de Ana, prestes a ter que conversar com ela provavelmente? Eu não queria aquilo naquele momento sinceramente.
- A gente pode conversar?
- Posso dizer não?
- Já adiamos demais- ela inclina a cabeça
- Então fale por quê eu não tenho nada para te falar- falei frio e ela pareceu se importar com meu desdém, ou talvez só estava fingindo
- Eu me afastei de você por quê não sabia como reagir, nem como seria para a gente continuar. O Miguel me falou sobre como você estava, eu te enviei mensagens, mas você não respondeu- ela dá uma pausa dramática- eu sinto sua falta
- Pois eu não sinto não
- Já está com outra não é?
- E se eu estiver?
- Eu sei que está- sua pose inicial voltou, tirou a máscara de fingimento- A esquisita da Júlia, é ela né? Não tinha nada melhor para me substituir?
- Qualquer coisa é melhor que você, Ana, Olha só para você, teve o ego ferido por uma estranha, que inclusive é muito melhor que você, em todos os aspectos- eu realmente não queria parecer uma criança de 10 anos brigando, mas eu não iria deixar ela falar daquela forma da Júlia
Ela apenas riu
- Perfeita para você. Homem de lata- aquele apelido sem graça me fez ficar em silêncio
- Vai falar nada não?

Eu realmente não tinha reação ou resposta para aquilo. Consegui entender o peso que tinha aquelas palavras muitas vezes ditas "sem pretensão de machucar". Mas dessa vez até que ela falou para me atingir mesmo, e conseguiu. Fui me afastando lentamente e fui andando sem rumo, não fazia idéia de onde Mari havia se metido, mas eu iria procurá-la para ir embora desse lugar imediatamente.









Modo SilenciosoOnde histórias criam vida. Descubra agora