One

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Cinco.

Era a quinta vez que eles cruzavam o olhar naquela manhã. Eles não estavam sequer próximos, mas de alguma forma, Yoongi não conseguia tirar os olhos do garoto.

O mais novo – até onde ele sabia, o garoto era mais novo que ele – estava lendo Macbeth, mas Yoongi não sabia porque uma pessoa de ciência da computação estaria lendo um livro como aquele. Ou qualquer livro que não fosse algo de informática. Talvez fosse por isso que Yoongi olhava tanto para ele, talvez algo em suas roupas pudesse revelar por quais motivos ele estaria folhando aquelas páginas amareladas.

O mais velho virou os olhos para o caderno, lendo suas anotações sobre a aula de História da Música Ocidental e pensando o quanto aquela matéria lhe parecia estupidamente fácil agora que ele tinha passado pela segunda e terceira parte, e pelas três partes do oriental, e mais uma da Coréia, e mais uma do mundo no geral. Ver que o Yoongi de dezenove anos tinha reprovado naquilo, só parecia idiota.

Como ele resgatou o caderno de alguns semestres anteriores, as páginas contavam com diversas anotações e grande parte não tinha nada ver com a aula em si, mas com ideias de músicas, de samples, de diversas coisas.

Não era de agora que Yoongi tinha interesse por música, mas ele tinha decidido na metade da faculdade que seria produtor musical, então agora ele almejava por um mestrado em produção fonográfica.

Depois de algumas músicas, ele levantou a cabeça novamente, seus olhos buscando novamente os do mais novo – que estava a algumas mesas de distância dele –, mas aquele parecia estar focado no que quer que Shakespeare quisesse colocar em sua obra. O loiro começou a ver aquele menino a partir do segundo semestre da faculdade. Ambos sempre se sentavam nas mesmas mesas e cadeiras, e depois de três anos se encarando, Yoongi sabia que ele era de Ciência da computação e tudo indicava que ele era mais novo. E também, tinha um gosto nada padronizado em livros.

— Você parece concentrado na coisa errada. — Hoseok surgiu do lado de Yoongi, que quase caiu de susto quando viu o rosto do amigo. Fez uma careta amarga quando recuperou a postura. Ele tirou os fones e viu o sorriso travesso no rosto de Hoseok. — Não adianta fazer essa cara aí. — argumentou.

— O que você quer?

— Nós íamos almoçar juntos, lembra?

Yoongi não se lembrava. Sua mente andava ocupada com os trabalhos de conclusão de curso e a busca por um emprego melhor. O mercadinho era bom e pagava as contas do loiro, mas ele queria ir para uma produtora.

— Tá. Só deixa eu guardar minhas coisas.

Hoseok parecia desinteressado nos materiais de Yoongi, mas não disse uma palavra. O loiro levantou-se quando terminou de guardar tudo. Tentou ser discreto, jogou a bolsa por cima de um ombro e olhou na direção que o garoto estava, mas a mesa já se encontrava vazia. Ele bufou, mas não entendia exatamente o motivo de sua frustração, não era como se ele fosse levantar e puxar assunto com o mais novo. Ele não tinha mais paciência para fazer coisas daquele estilo. Fazer amigos? Yoongi desconhecia essa prática.

— Então... — Hoseok falou quando os dois já estavam caminhando para a lanchonete da faculdade. — Me conte sobre esse seu interesse repentino pelo cara da Ciência da Computação.

Não era exatamente repentino, mas Yoongi também não era bom em compartilhar coisas que tinham seu interesse. Talvez fosse um reflexo do passado.

— Eu não tô interessado nele. — era mentira, uma péssima mentira, mas Yoongi queria acreditar naquilo.

— Sim, claro. Que besteira minha. — a ironia na voz de Hoseok era impossível de passar despercebida, mas ainda assim, o loiro fingiu não notar.

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