Nine

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Yoongi.

Nada fazia sentido.

Ele não tinha o mesmo rosto. Ou o mesmo tom de voz. Mas a culpa que existia em seus olhos era inegavelmente dele.

— Você pode não ter gravado meu rosto ou o meu nome, Jungkook, mas quando aquele cara te chamou pelo seu nome completo... Aquilo literalmente me atingiu no estômago. Eu lembrei de você.

Não. Jungkook não se apaixonaria pelo cara que literalmente fez o garoto questionar se sua existência era algo que valia a pena. Se apaixonaria?

— Hyung, pare de brincar. — Yoongi fez uma expressão amarga ao ouvir aquelas palavras. — Não, não pode ser você.

— Eu literalmente me arrependo todos os dias pelo o que eu fiz pra você, Jungkook. Todos os dias quando eu me olho no espelho eu lembro daquela criança frustrada que olhava para você e via a culpa que hoje eu sei que não era sua. — Yoongi se atropelava em suas palavras. Ou talvez a cabeça de Jungkook estivesse girando demais para ele entender na mesma velocidade que o loiro dizia.

— Não. — Jungkook soltou uma risada fraca. — Não é você. Você é gentil, me ajuda, você é uma pessoa boa para mim. — ele tentava se convencer de que aquilo simplesmente não se encaixava.

— Eu sei o quanto isso pode parecer uma loucura pra você, Jungkook, mas é a verdade.

— Eu nunca culpei ele, eu nunca nem pensei sobre ele e agora... Você diz que é ele? — Jungkook estava frustrado. Demais. Yoongi se aproximou e segurou o rosto do mais novo nas suas mãos.

— Eu juro, Jungkook, se eu pudesse eu apagaria literalmente todas as coisas que eu fiz para você no passado. Mas eu não posso. Eu não...

Tudo parecia fora do lugar, até mesmo os planetas pareciam fora de órbita.

— Hyung, você nunca teria feito algo assim comigo. — Jungkook se agarrou naquelas palavras como uma criança agarra a perna de seus pais quando está assustada. E ele não estava apenas assustado, estava apavorado. — Você não... — ele engoliu em seco. — Você não... — Yoongi já havia confessado ter feito todas aquelas coisas. Ele só não tinha percebido. — Se você fizesse algo assim, não anularia todas as coisas boas que vivemos nos últimos tempos?

— Não! Jamais. Nada pode anular o que a gente viveu agora... Mas nada pode anular o que a gente viveu oito anos atrás. — ele abaixou as mãos, as afastando do rosto do mais novo. Jungkook desejou pegar a mão dele novamente, mas só se levantou para ir embora. O mais velho conseguiu segurar o pulso dele. — Não vai.

— Eu preciso. — Jungkook respondeu. — Eu não posso aceitar que é você. Não posso aceitar que você foi a pessoa que fez da minha vida um inferno por um ano inteiro, não posso aceitar que justo você é a pessoa por quem eu estou me apaixonando.

Yoongi vacilou o toque em seu pulso e Jungkook saiu dali mais rápido do que suas pernas poderiam aguentar.

🍀🍀🍀

Jungkook ainda estava dentro de seu carro, mesmo depois de uma hora dentro da garagem de casa. Estava chovendo forte havia horas e o cabelo do garoto ainda estava molhado por conta do trajeto que havia feito da sala de aula até seu carro no estacionamento. As notícias que a rádio anunciava passavam despercebidas por ele.

O pai do menino se aproximou e ao ver a expressão do filho, suspirou e foi até a porta do carona. Bateu na janela do carro, atraindo atenção de Jungkook, que destrancou as portas.

— Que dia hein? — o mais velho começou assim, se sentando no banco do passageiro, mas o filho não fez questão de dizer nada. — Você sabe que o pai tá aqui pra o que você precisar né?

— Eu sei. — ele respondeu. — Pai.

— Hm?

Jungkook olhou para o mais velho, pensando o quanto eles eram parecidos, mesmo que o pai não tivesse cabelo azul.

— Lembra daquele garoto, dez anos atrás, que vivia me perseguindo? — quando Jungkook disse aquelas palavras, seu pai assumiu uma postura mais séria, desligou o rádio e olhou para o garoto, perdendo o rosto relaxado.

— Sim.

— Eu... lembrei dele recentemente e me perguntei como ele deve estar agora. — Jungkook mentiu, não para o seu pai, mas para si mesmo.

— Tem uma coisa sobre ele que eu e sua mãe nunca te contamos. Ou pelo menos eu espero que ela não tenha dito, porque a gente tinha prometido não contar até você tocar no assunto. — o mais velho tinha um ar cansado. Talvez o trabalho tivesse sido mais puxado naquele dia, ou talvez aquela situação o exaurisse. Jungkook nunca saberia, mas passou a prestar a atenção nas palavras dele. — Nós tentamos conversar com os pais desse garoto. Eles eram arrogantes e falaram que a culpa do comportamento do filho deles era nossa. Segundo eles, nós deveríamos ter impedido você de avançar dois anos. Eles falaram que o filho estudava para ser médico, que não ia cometer os erros deles ou algo assim. Naquele instante nós percebemos que o menino também não estava bem, ainda não era justo o que ele fazia com você, mas por conta desse motivo eu e sua mãe nunca levamos esse caso a frente, como fizemos com outros.

— Min Yoongi. — Jungkook disse quando seu pai ficou em silêncio. — Era esse o nome dele?

— Sim.

— Então é verdade. — o menino disse por fim.

— O que é verdade?

— Eu me apaixonei pelo Min Yoongi e ele também é o garoto que me fez ir para a terapia. — seu pai finalmente olhou para ele.

— Você o quê?

Ele não estava bravo, só assustado com a informação.

— Ele é meu colega na faculdade agora...

Seu pai não perguntou mais nada e puxou o filho. Eles nunca tiveram costume de se abraçar, então geralmente só tocavam a cabeça de uma maneira carinhosa, e ali dentro, foi exatamente isso que o pai fez.

— O que fez você gostar dele? — sendo um homem direto, como sempre. Era um traço de sua mãe também. A criança deles era a única que saiu sem esse traço de personalidade, mas mesmo com as diferenças, Jungkook confiava no pai de olhos fechados e o admirava profundamente. Mas Yoongi tinha acabado de se tornar um assunto delicado.

— A mãe sempre disse que o senhor é ótimo com segredos, então... Pode guardar esse por mim? — o pai assentiu. — Nós... Meio que nos obrigamos a sermos amigos. Adotamos... Uma gatinha juntos.

— Droga, Jungkook. — o garoto levou um susto com o tom do pai. — Agora eu devo dinheiro para a sua mãe.

— Como assim?

— Sua mãe disse que você tinha adotado um gato escondido e ia contar para mim, e eu apostei que não era nada. — o homem explicou.

— A mãe sabia?? — o garoto estava confuso. — Outra, quando vocês apostaram nisso?

— Vinte... — o homem balbuciou.

— Vocês apostaram vinte mil wons num gato??? — Jungkook estava indignado.

— Continue sobre o menino. — o pai disse. Jungkook riu. Lembrou-se que os pais começaram a namorar por conta de uma aposta daquele tipo, e depois de vinte e seis anos casados, ainda faziam aquelas brincadeiras.

— Ele é muito diferente do passado. Ele tá cursando música. Até onde eu sei, ele quer trabalhar com produção musical. — o menino começou. — Ele me contou sobre o passado e... Ele disse que se arrepende e eu... — Jungkook parou, arregalando os olhos ao perceber uma coisa.

— Filho? — o pai do garoto falou depois de alguns segundos de silêncio.

— Eu fiz merda. — Jungkook falou enquanto sua ficha caia.

— Sem palavrão.

— Eu contei por acidente pro Yoongi que eu gosto dele. — o menino falou e o pai empalideceu.

— Filho, eu não quero ser a pessoa a te falar isso, mas você fez merda pra caralho. 

Unluckily LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora