Capítulo 7

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Carlos arrancou o carro com uma suavidade que foi estranha a Alice. A viagem seguiu em silêncio com Celeste no banco traseiro enquanto Alice a observava pelo retrovisor em busca de uma explicação para sua presença, que Celeste justificou apenas como saudade, o que não convenceu Alice e nem me convenceria. Ela se perguntou o quanto a mãe sabia sobre o que tinha acontecido.

Alice encontrou a casa impecável que reconheceu como obra da mãe e na mesa de centro havia um buquê de rosas brancas que ela encarou como uma oferta de paz de Carlos. Celeste tirou o bolo que permaneceu no forno desligado para não perder o calor, era um bolo de milho, o favorito de Alice. Um cheiro de café quente cobriu a cozinha e os três se sentaram em volta da mesa para comer.

― Como foi lá?

Carlos quebrar o silêncio surpreendeu tanto Alice que ela demorou a notar de que "lá" ele falava.

― A conferência foi maravilhosa ― ela respondeu ponderando as palavras.

― Agora que já realizou seus caprichos ― disse Celeste servindo o café ―, é hora de sossegar, não acha?

― Na verdade eu tenho uma novidade para contar para vocês ― Alice a interrompeu. ― Em especial para você, Carlos.

Alice pousou sua mão sobre a do marido para acalmar a fera que poderia despertar depois que ela anunciasse a novidade, antes mesmo da fera dar o bote, continuou:

― Você se lembra de quando conversamos sobre sair do país? ― ela perguntou analisando as mudanças na feição de Carlos e sem receber uma resposta imediata continuou. ― Temos uma oportunidade agora.

Alice contou com detalhes quase tudo que aconteceu na conferência omitindo as partes em que Jorge estava por perto. Um silêncio caiu sobre a cozinha. Alice sentiu o que vinha em sua direção e fechou os olhos esperando que o tapa de antes de sua viagem se repetisse, mas se surpreendeu quando Carlos apenas se levantou da mesa e saiu da casa calmo, como se não tivesse ouvido nada, mas já dentro do carro ele socava o volante com força.

Foi Celeste quem quebrou o silêncio dessa vez:

― Como você é cabeça dura, não foi assim que eu te criei.

― Eu não tenho mais dezenove anos, mãe.

Alice não poderia suportar mais um sermão de sua mãe, então deixou a mesa e foi para seu quarto, Celeste ia em seu encalço leve como um fantasma. O quarto também estava impecável, mas o que chamou a atenção de Alice foi seu diário na mesa de cabeceira. Ela folheou as páginas com pressa, ele parecia intocável, mas soube que fora lido quando sua mãe atravessou o batente da porta e esbravejou lhe perguntando quem era Jorge.

― Só um amigo da faculdade ― respondeu Alice acuada contra a parede.

― Tem certeza?

Celeste abriu o caderno na página marcada com uma entrada de cinema e a dirigiu à Alice.

― Carlos viu?

― O que você acha? Como você pôde? ― Celeste andava de um lado para o outro do quarto balançando o diário em suas mãos. ― Um marido que lhe dá tudo e é assim que você retribui. De graça com um universitário!

― Eu não fiquei de graça com ninguém! Eu cometi um erro.

― Um erro que pode custar seu casamento. ― Celeste não cederia fácil e Alice não sairia dali tão cedo agora que a mãe sabia porque ela estava tão distante no dia de seu casamento. ― Eu te avisei, eu sempre te alertei, tentei te levar pelo melhor caminho, te dar o melhor, te dar a vida que nunca tive, fiz tudo por você para você me retribuir dessa forma. Parece que nasceu corrompida, sempre indo contra mim e minhas ideias do que era o melhor para seu sucesso, maldito eclipse solar. Nem em Deus você acredita.

O que fazem cem bilhões de estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora