Alice estava inquieta e andava de um lado para o outro na livraria. Suas malas já estavam prontas pela metade e o dia do embarque se aproximava.
― Se você causar um buraco no chão, vai ter que pagar ― disse Roberto enquanto dava um gole em seu café.
― Carlos já devia ter assinado os papéis da separação ― Alice respondeu deixando-se cair exausta no sofá. ― Eu passo a madrugada trabalhando e durante o dia não consigo dormir só pensando em quando isso vai se resolver.
― Confie em Helena, vai dar tudo certo.
― Eu já não devia ter conhecido ela?
― Na verdade, eu acho que vocês já se conhecem ― respondeu Roberto pensativo ― mas, ela disse que não faz diferença vocês se verem ou não.
― Vocês vão se ver se você fizer a apelação ― disse Júnior trazendo uma travessa de bolo. ― Você vai ver ela e Carlos.
― Eu não me importo em ver Carlos se isso significa acabar com isso mais rápido.
Alice respondeu dando uma mordida no bolo de fubá com canela que Júnior deixava para os clientes da livraria. Dias mais tarde a audiência foi marcada. Se Carlos ignorasse a notificação, Alice poderia enfim se considerar livre de suas obrigações matrimoniais, se ele aparecesse, ela teria de lutar pela separação definitiva.
Era nítido no tribunal qual o lado de Alice e qual o lado de Carlos, apesar de poucos apoiadores, Alice viu ali os pais dele e se perguntou onde sua mãe se sentaria caso ela decidisse aparecer. Alice não tinha mais esperanças de uma boa relação com a mãe desde que deixou o envelope em casa pela última vez, e agora, aquela nem era sua casa mais. Uma movimentação na porta chamou sua atenção, foi quando ela viu Helena atravessar a multidão e lhe dar um aperto de mão firme.
― Prazer em finalmente te conhecer, Alice.
― Você...?
― Hoje eu sou a doutora Helena, não sua vizinha, sua advogada ― disse Helena dando uma piscadela para Alice. ― E você não precisa se preocupar, só vou usar no júri o que você me permitir usar.
Com isso, Alice se perguntou o quanto Helena sabia de sua vida e corou pensando no dia em que fugiu de casa com Helga.
― Se você foi indicada pelos meus amigos, eu confio em você ― respondeu Alice, correspondendo ao aperto de mão.
― Bom, é meu trabalho te perguntar, Alice, há alguma proposta de acordo entre você e seu marido?
― Não há acordo algum ― Alice cruzou os braços cansada. ― Eu quero sair daqui hoje livre.
Enquanto conversava com a advogada, Alice sentiu sobre seus ombros o olhar dos pais de Carlos e ela sabia que não era um olhar amistoso. A voz de Carlos vindo do fundo do salão a fez tremer e ela encostou as costas na cadeira, a guerra iria começar.
A primeira batida do martelo do juiz para o público se sentar ecoou nas paredes de madeira e Alice ouviu um sussurro de boa sorte vindo de suas costas. Ela não viu, mas sabia quem eram e que com certeza fingiam ser dois casais. Mais um boa sorte suave pousou em seus ouvidos e ela sentiu o olhar de Helga passear pelos seus ombros, enfim relaxou.
― Bom dia a todos, se sentem por favor. Meu nome é Sérgio, eu sou o juiz responsável por essa audiência e vou presidir esse processo de separação judicial. As partes, senhorita Alice, representada por sua advogada, doutora Helena ― o juiz pausou e encarou as duas mulheres à sua frente balançando a cabeça ― e, senhor Carlos, representado por seu advogado, doutor Alexandre. A senhorita Alice solicitou a separação e estamos aqui presentes hoje para analisar as contestações do senhor Carlos sobre o caso. Com a palavra, doutor Alexandre.
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O que fazem cem bilhões de estrelas
Chick-Lit*Esta foi a primeira versão do livro, antes dele ser editado para publicação na Amazon. No mesmo ano em que Alice recebe reconhecimento no seu trabalho no observatório de astronomia, seu marido é rebaixado na empresa do próprio pai, então ele fará...