Capítulo 8

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Algumas semanas passaram e Alice se sentia bem. Sentia-se alegre porque as brigas em casa cessaram de imediato depois daquela tarde. Ela quase começou a gostar da presença de sua mãe, lhe dando tempo para dormir mais e se desligar das obrigações de casa. Carlos voltou a ficar mais tempo no escritório, o que ajudou na diminuição das discussões, mas Alice não admitiria aquilo nem para si mesma. Mas a própria Alice não queria mais brigar.

Naquele clima de paz, Alice ponderou se era a hora de mandar sua mãe para casa, e assim ela fez. Celeste, que não ouvia uma citação sequer sobre a conferência e vendo que todos agiam como se aquilo tivesse sido um sonho coletivo ruim, concordou em voltar para casa, mas disse que voltaria no aniversário de Alice para ver se tudo continuava bem.

Alice sorriu para aquele céu azul que só maio tinha e agradeceu à ele por sua mãe ter ido para casa, por ela e Carlos estarem enfim conversando e não brigando, e ela até pensava na possibilidade de engravidar pela primeira vez em sete anos de casamento.

Carlos não esperava Alice tão cedo naquele dia, mas Helga lhe deu carona a fazendo chegar uma hora antes do que chegaria em casa normalmente. Ainda era madrugada, esperava encontrar Carlos dormindo, faria o café da manhã e seria mais um bom dia para a conta.

Enquanto Alice destrancava a porta da sala cantarolando uma das antigas do ABBA, a boca de Carlos estava ocupada com outra coisa. Nenhum dos dois ouviu quando Alice abriu a porta do quarto. O cérebro de Alice a dizia para gritar, sair correndo ou jogar sua bolsa em Carlos. Carlos mal notou sua presença. Via aquela mulher se contorcendo debaixo de seu marido enquanto agarrava os lençóis e ele fazia movimentos contínuos de vai e vem. Os dois notaram sua presença apenas quando Carlos agarrou a mulher, que Alice reconheceu do escritório do pai de Carlos, pela cintura, e trocaram de posição. Alice parecia ter saído da tela "O Grito" e como uma tela, não emitia nenhum som.

Carlos, ainda com a mulher em seu colo, pareceu também ficar petrificado e viu escorrer no rosto de Alice uma lágrima solitária que parecia ser mais de ódio do que de ciúme ou rancor. Em movimentos calmos Alice contornou a cama sem olhar para os dois, abriu o guarda-roupa e tirou de lá um pequeno baú de madeira, e antes que Carlos pudesse se vestir e se explicar ela já tinha deixado a casa.

Alice ignorou a voz de Helena lhe dando bom dia enquanto varria a calçada quando saiu pelo portão. A cena do seu marido na cama com outra era a única coisa que preenchia sua mente. Na cama com os lençóis que ela comprou. Na cama que ela arrumava todos os dias antes de ir para o trabalho e quando voltava porque ele nunca arrumava. Aquilo era um caso isolado ou já vinha se repetindo? Helena saberia de algo? Afastou aqueles pensamentos andando mais depressa e atravessando o quarteirão.

Ainda em casa, Carlos não deixou de terminar o que tinha começado com a outra antes de descer atrás de Alice. A mulher, que não sabia que o filho do chefe era casado, ficou em choque e tentou se soltar de Carlos, mas ele estava em um misto de raiva e surpresa da esposa ter chegado em casa assim do nada. Enquanto a mulher grunia de remorso, Carlos a enforcava descontando a frustração de ser interrompido no seu corpo. Com três movimentos fortes despejou sua frustração na outra, vestiu a calça e saiu atrás de Alice. Ao ver Helena varrendo a calçada gritou perguntando se ela tinha visto Alice por ali, a mulher fingiu não ouvi-lo e entrou em casa.

Atravessar o portão de Olívia foi como se soltar de todas as amarras que deixavam Alice de pé, e ali ela chorou. Chorou pelos sete anos de casamento, chorou por Jorge, por tê-lo beijado e por não tê-lo escolhido. Chorou pela relação arruinada com sua mãe. Chorou por não ouvir Lisa quando ela disse que não confiava "nesse Carlos". Chorou por não ter ouvido ninguém quando todos tentaram te alertar. Chorou pelo quarto da empregada. Seus olhos pareciam uma cachoeira pela primeira vez na vida.

O que fazem cem bilhões de estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora