Alan Grant agachou, quase encostando o nariz no chão. A temperatura era superior a trinta e sete graus. Sentia os joelhos doloridos, apesar das proteções acolchoadas que usava sempre. Os pulmões sofriam com a poeira alcalina áspera. Pingos de suor da testa manchavam o chão. Mas Grant ignorava o desconforto. Toda a sua atenção se concentrava em um quadrado de terra à frente, medindo vinte centímetros de lado.
Trabalhando pacientemente com um palito de dente e um pincel de pêlo de camelo, ele expôs um pequeno fragmento de mandíbula em forma de L. Mal atingia três centímetros, e não era mais grosso que seu dedo mínimo. Os dentes formavam uma fileira de pequenos pontos e possuíam o ângulo mediai característico. Fragmentos do osso soltaram-se enquanto ele cavava. Grant parou por um instante, para passar cimento de borracha no osso antes de prosseguir. Sem dúvida tratava-se da mandíbula de um filhote de dinossauro carnívoro. Seu dono morrera há setenta milhões de anos, com a idade aproximada de dois meses. Com um pouco de sorte, encontraria também o resto do esqueleto. Nesse caso, seria o primeiro esqueleto completo de um filhote de dinossauro carnívoro...
- Ei, Alan!
Alan Grant olhou para cima, franzindo os olhos no sol forte.
Apanhou os óculos escuros e limpou a testa com as costas da mão.
Ele estava de cócoras na encosta de um morro erodido, nas terras áridas próximas a Snakewater, em Montana. Sob a imensa bolha azul do céu, morros gastos, meras elevações expostas de calcário fragmentado, estendiam-se por quilômetros, em todas as direções. Não havia uma única árvore, nem uma moita. Nada além da rocha nua, sol forte e vento lúgubre.
Os visitantes consideravam as terras áridas aborrecidas e deprimentes, mas quando Grant olhara aquela paisagem, vira algo completamente diferente. A terra devastada exibia os restos de uma outra era, de um mundo muito diferente, que desaparecera oitenta milhões de anos atrás. Com os olhos da mente, Grant voltara ao tempo da costa quente, pantanosa, que acompanhava o grande mar interno.
Esse mar de mil e quinhentos quilômetros de diâmetro estendia-se desde as recentes Montanhas Rochosas até os picos recortados, pontudos dos Apalaches. O oeste americano inteiro jazia debaixo d'água.
Naquele tempo, nuvens leves passeavam pelo céu, escurecido pela fumaça dos vulcões. A atmosfera era densa, mais rica em dióxido de carbono. As plantas cresciam depressa à beira do mar. Os peixes não nadavam naquelas águas, mas havia caramujos e conchas. Os pterossauros saíam em busca de algas na superfície. Uns poucos dinossauros carnívoros percorriam as margens pantanosas do grande lago, por entre as palmeiras. Perto da beirada havia uma ilha, com cerca de oito mil metros quadrados. Cercada de densa vegetação, servia de santuário para os grupos de dinossauros herbívoros com bico-de-pato que punham ovos em imensos ninhos comunitários e criavam em segurança seus filhotes barulhentos.
Nos milhões de anos seguintes, o lago de águas claras, verdes e a-calinas, foi ficando cada vez mais raso, e finalmente desapareceu. A terra exposta rachou e contraiu-se com o calor. E a ilha dos ninhos de dinossauros tornou-se um morro comido pela erosão no norte de Montana, onde Alan Grant escavava.
- Ei, Alan!
Ele se levantou. Era um sujeito forte aos quarenta anos, o peito musculoso. Escutou o ruído do gerador portátil e o matraquear distante da britadeira que cortava a rocha dura no morro vizinho. Viu os rapazes trabalhando com a britadeira, transportando os blocos de pedra cortados, depois de checar a existência de fósseis. No sopé do morro distinguiu as seis tendas indígenas, conhecidas como tipis, que formavam o acampamento, uma barraca mal-ajambrada e o trailer que servia de laboratório. Ellie acenava, na sombra do trailer-laboratório.
— Visitas — disse ela, apontando para o leste.
Grant reparou então na nuvem de pó e no Ford seda azul sacolejando na estrada esburacada que levava até o acampamento.
Espiou o relógio. Pontuais. No outro morro, os rapazes olharam interessados para o carro. Não recebiam muitos visitantes em Snakewater, e o fato de um advogado da Agência de Proteção ao Meio Ambiente ter marcado uma conversa com Alan Grant tinha gerado especulações.
Mas Grant sabia que a paleontologia, o estudo da vida extinta, assumira recentemente uma importância inesperada. O mundo estava mudando depressa, e problemas urgentes de clima, desmatamento, aquecimento do globo e diminuição da camada de ozônio poderiam ser entendidos, pelo menos em parte, com ajuda das informações do passado. Ele fora requisitado como consultor especializado por duas vezes, nos últimos anos.
Grant começou a descer o morro para receber o advogado.
O visitante tossiu por causa da poeira branca, ao bater a porta do carro. — Bob Morris, da APMA — disse, estendendo a mão. — Sou do escritório de San Francisco.
— Parece morto de calor — Grant comentou, apertando-lhe a mão. — Quer tomar uma cerveja?
— Puxa se quero! — Morris tinha quase trinta anos, usava gravata e calça de terno. Carregava uma valise. Seus sapatos de ponta fina rangiam nas pedras, quando caminhava. — Quando cheguei no alto do morro pensei que fosse uma reserva indígena — observou, apontando para os tipis.
— Nada disso. Apenas o melhor modo de se viver por aqui. — Grant contou que em 1978, durante o primeiro ano de escavações, eles tinham utilizado barracas octogonais na encosta norte, as mais modernas disponíveis. Mas as barracas foram destruídas pelo vento.
Tentaram outros tipos, o resultado foi o mesmo. Finalmente começaram a erguer os tipis, maiores por dentro, mais confortáveis e mais estáveis no vento forte. — Estes são tipis dos Pés Negros, construídos em torno de quatro estacas — explicou. — Os sioux usam três. Mas, como aqui era território dos Pés Negros, pensamos...
— Quem diria — disse Morris. Ele apertou as pálpebras para olhar a paisagem desolada, balançando a cabeça. — Há quanto tempo está aqui?' — Há cerca de sessenta caixas — Grant respondeu. Como Morris pareceu surpreso, ele explicou: — Contamos o tempo em cerveja.
Começamos em junho, com cem caixas. Até agora demos conta de sessenta, por alto.
— Sessenta e três, para ser exato — ajuntou Ellie Sattler, quando chegavam ao trailer. Grant riu ao perceber que Morris arregalava os olhos ao vê-la. Ellie usava jeans cortados na altura da coxa e uma camisa amarrada na cintura. Tinha vinte e quatro anos e pele bem bronzeada. Os cabelos loiros estavam presos.
— Ellie nos dá forças para prosseguir — Grant comentou ao apresentar a moça. — Ela é ótima em sua especialidade.
— E qual é? — Morris quis saber.
— Paleobotânica — Ellie contou. — Também faço a preparação dos sítios. — Ela abriu a porta para que entrassem.
O ar condicionado dentro do trailer só conseguia reduzir a temperatura a trinta graus, o que parecia fresco depois do calor do meio-dia. O compartimento possuía uma série de mesas compridas de madeira, com pedacinhos de ossos arrumados com capricho, exibindo etiquetas e rótulos. Mais adiante havia potes e pratos de cerâmica. O cheiro de vinagre imperava.
Morris olhou para os ossos.
— Pensei que os dinossauros fossem grandes.
— E eram — Ellie confirmou. — Mas tudo que está vendo aqui pertence a filhotes. Snakewater é importante pelo número de ninhos de dinossauro existentes. Quando começamos a trabalhar, havia poucos esqueletos de filhotes para estudo. Um único ninho havia sido descoberto, no deserto de Gobi. Nós já encontramos doze de hadrossauros, incluindo ovos e esqueletos de filhotes.
Enquanto Grant ia até a geladeira, ela mostrou a Morris os banhos de ácido acético, utilizados para dissolver o calcário dos ossos delicados.
— Parece osso de galinha — Morris opinou, examinando os pratos de cerâmica.
— Sim — ela confirmou. — São muito semelhantes aos de galinha.
— E aqueles? — Morris apontou para uma pilha de ossos grandes embrulhados em plástico no lado de fora, através da janela do trailer.
— Descartados — Ellie disse. — Ossos fragmentados demais quando os retiramos do solo. Antigamente jogávamos tudo fora, mas agora são enviados para pesquisa genética.
— Pesquisa genética? — Morris se espantou.
— Pronto. — Grant passou a cerveja ao advogado. Deu também uma a Ellie, que a virou de um gole, esticando o pescoço longo para trás. Morris ficou atônito.
— Somos muito informais por aqui — Grant riu. — Quer vir ao meu escritório?
— Claro — Morris concordou. Grant o levou ao final do trailer, onde havia um sofá velho, uma cadeira bamba e uma mesa de canto gasta. Desabou no sofá, que estalou, soltando uma nuvem de poeira branca. Recostou, apoiando as pernas em cima da mesa, e com um gesto indicou a cadeira para que Morris sentasse. — Fique à vontade.
Grant era professor de paleontologia na Universidade de Denver, e um dos pesquisadores de campo mais conceituados, mas jamais se adaptara à etiqueta da sociedade. Considerava-se um homem destinado a viver ao ar livre, e sabia que o trabalho mais importante da paleontologia era feito em campo, com as mãos. Tinha pouca paciência com os acadêmicos, com os curadores dos museus, com a turma que apelidara de Caçadores de Dinossauros de Gabinete. E fazia questão, através dos trajes e do comportamento, de se distanciar deles, chegando ao ponto de dar aulas de jeans e tênis.
Grant observou Morris, que limpou a cadeira antes de se sentar.
O advogado abriu a pasta, fuçou nos papéis e olhou de esguelha para Ellie, que manipulava alguns ossos com pinças, nos banhos de ácido na mesa do trailer, sem dar importância aos dois homens.
— Provavelmente quer saber o motivo de minha visita. Grant fez que sim.
— É uma longa viagem até aqui, senhor Morris.
— Bem — Morris disse. — Vou direto ao assunto. A APMA anda preocupada com as atividades da Fundação Hammond. Soube que recebe auxílio deles.
— Trinta mil dólares por ano — Grant confirmou. — Há cinco anos.
— O que sabe da fundação? — Morris perguntou. Grant deu de ombros.
— A Fundação Hammond é uma instituição respeitada, que dá bolsas de pesquisa acadêmica. Eles financiam pesquisadores no mundo inteiro, inclusive vários estudiosos de dinossauros. Sei que contribuem para a pesquisa de Bob Kerry, de Tyrrell, em Alberta, e para a de John Weller, no Alasca. Deve haver mais.
— Sabe por que a Fundação Hammond financia tantos estudos sobre dinossauros?
— Claro. Porque o velho John Hammond é louco pelo assunto.
— Já esteve com Hammond?
— Uma ou duas vezes. — Grant tornou a dar de ombros. — Ele esteve aqui, em visitas rápidas. Está muito velho, sabe? E é excêntrico, como ocorre às vezes com os ricos. Mas sempre demonstrou muito entusiasmo. Por quê?
— Bem — disse Morris. — A Fundação Hammond é uma instituição muito misteriosa. — Ele puxou um xerox de mapa, marcado com pontos vermelhos, e o entregou a Grant. — Estes são os locais de escavações financiados por eles no ano passado. Nota algo de estranho?
Montana, Alasca, Canadá, Suécia... Sempre no hemisfério norte. Nada abaixo do paralelo quarenta e cinco. — Morris mostrou outros mapas.
— Não muda, ano após ano. Projetos sobre dinossauros no sul, em Utah, no Colorado ou no México, nunca conseguem verbas. A Fundação Hammond só apoia pesquisas em climas frios. Gostaríamos de saber o motivo.
Grant examinou rapidamente os mapas. Se era verdade que a fundação só apoiava pesquisas em clima frio, isso seria mesmo estranho, porque alguns dos melhores pesquisadores trabalhavam em zonas quentes, e...
— E hã outros problemas — continuou Morris. — Por exemplo, qual a relação entre dinossauros e âmbar?
— Âmbar?
— Sim. A resina fóssil amarelada de uma planta extinta...
— Sei do que se trata. Mas por que pergunta? Morris explicou:
— Porque nos últimos cinco anos Hammond comprou quantidades enormes de âmbar nos Estados Unidos, Europa e Ásia, inclusive peças de joalheria de museus. A fundação gastou dezessete milhões de dólares em âmbar. Ela agora possui o maior estoque particular da substância em todo o mundo.
— Não compreendo — disse Grant.
— Ninguém compreende — retrucou Morris. — Pelo que sabemos, não faz o menor sentido. O âmbar pode ser facilmente sintetizado. Não tem valor comercial ou estratégico. Não existe nenhum motivo para estocá-lo. Mas é o que Hammond vem fazendo, há vários anos.
— Âmbar — repetiu Grant, balançando a cabeça.
— E quanto à ilha na Costa Rica? — Morris prosseguiu. — Há dez anos a Fundação Hammond conseguiu comprar uma ilha do governo da Costa Rica, alegando que a transformaria em uma reserva biológica.
— Não sei de nada sobre esse assunto — garantiu Grant, franzindo o cenho.
— Eu também não descobri muita coisa — Morris confessou. — A ilha fica a uns cento e tantos quilômetros, na costa oeste. É muito escarpada, e se encontra em uma área do oceano onde a combinação de ventos e correntes a mantém coberta de nuvens. Era conhecida como Ilha das Nuvens. Islã Nublar. Obviamente o governo da Costa Rica ficou satisfeito quando alguém mostrou interesse por ela. — Morris examinou a pasta. — Eu a mencionei porque, de acordo com minhas informações, o senhor prestou consultoria remunerada em atividades relacionadas à ilha.
— Eu? — Grant espantou-se.
Morris mostrou uma folha de papel a Grant. Era o xerox de um cheque emitido em março de 1984, pela InGen Inc., Farallon Road, Paio Alto, Califórnia. Pagamento a Alan Grant, no valor de doze mil dólares.
No canto inferior do cheque estava escrito: "Serviços de Consultoria — Costa Rica — Hiperespaço Juvenil".
— Ah, claro — Grant falou. — Eu me lembro disso. Foi bem estranho, mas eu me lembro. E não teve nada a ver com a tal ilha.
Alan Grant achara o primeiro depósito de ovos de dinossauro em 1979, em Montana, e muitos outros nos dois anos que se seguiram, mas só divulgou suas descobertas em 1983. Seu trabalho publicado, relatando a existência de um grupo de dez mil dinossauros de bico-de-pato vivendo ao longo da costa de um imenso mar interno, construindo ninhos comunitários colossais na lama, criando os filhotes no meio da manada, tornaram-no uma celebridade instantânea. O conceito de instinto maternal em dinossauros gigantescos — e os desenhos de graciosos filhotes saindo dos ovos — despertaram interesse mundial.
Grant foi assediado por pedidos de entrevistas, conferências, livros.
Tipicamente recusou tudo, pois queria apenas continuar suas escavações. Durante aquele período frenético, na década de 80, a corporação InGen o abordara, solicitando serviços de consultoria.
— E nessa época já tinha ouvido falar da InGen? — Morris quis saber.
— Não.
— Como o contataram?
— Telefonaram. Foi um sujeito chamado Gennaro ou Gennino, algo assim.
Morris meneou a cabeça, assentindo.
— Donald Gennaro. É o consultor legal da InGen.
— Bem, ele estava interessado nos hábitos alimentares dos dinossauros. E me ofereceu uma boa quantia para que eu apresentasse um trabalho escrito sobre o tema. — Grant bebeu um gole de cerveja, colocando a lata no chão. — Gennaro interessava-se especialmente pelos filhotes de dinossauros. Em sua alimentação. Acho que ele pensou que eu entendia do assunto.
— E entendia?
— Não muito. Quase nada. Havíamos encontrado muitos ossos, mas pouquíssimas informações sobre a dieta. Porém Gennaro disse que não havíamos publicado todos os dados, e precisava de quaisquer detalhes suplementares disponíveis. E me ofereceu um pagamento generoso. Cinqüenta mil dólares.
Morris apanhou o gravador e o colocou em cima da mesinha.
— Importa-se?
— Não, faça como quiser.
— Então quer dizer que Gennaro telefonou para o senhor em 1984. O que aconteceu?
— Bem, está vendo nossa estrutura aqui. Cinqüenta mil poderiam financiar dois verões de escavações. Eu lhe disse que faria o possível.
— Quer dizer que concordou em preparar o relatório?
— Concordei.
— Sobre os hábitos alimentares dos jovens dinossauros?
— Sim.
— Conheceu Gennaro pessoalmente?
— Não, só por telefone.
— Gennaro disse por que desejava tais informações?
— Disse — Grant falou. — Planejava criar um museu para crianças, e queria colocar filhotes de dinossauros. Contou que estava contratando alguns consultores científicos, e deu os nomes. Havia paleontólogos como eu, um matemático do Texas chamado Ian Malcolm, e um par de ecologistas. Um analista de sistemas. Uma boa equipe.
Morris balançou a cabeça, tomando notas.
— Aceitou a consultoria, certo?
— Sim. Combinei que mandaria um resumo de nosso trabalho:
tudo que sabíamos sobre os hábitos dos hadrossauros de bico-de-pato que encontráramos.
— E que tipo de informação lhe forneceu?
— Um pouco de tudo: comportamento nos ninhos, tamanho dos territórios, hábitos alimentares, comportamento social. Tudo.
— E como Gennaro reagiu?
— Ele telefonava toda hora. De vez em quando, no meio da noite. Os dinossauros comiam tal coisa? E o que mais? O museu deveria pôr isso? Nunca entendi por que vivia tão ansioso. Quero dizer, considero os dinossauros muito importantes, também, mas ele era demais. Estavam mortos há mais de sessenta e cinco milhões de anos.
Eu achava que seus telefonemas poderiam esperar até a manhã seguinte, pelo menos.
— Entendo — Morris disse. — E os cinqüenta mil dólares?
Grant abanou a cabeça.
— Fiquei cansado de Gennaro e desisti do projeto. Acertamos a contas, deu doze mil dólares. Isso deve ter acontecido na metade de 1985, mais ou menos.
Morris fez uma anotação.
— E a InGen? Teve outros contatos com eles?
— Nunca mais, desde 1985.
— E quando a Fundação Hammond começou a financiar sua pesquisa?
— Preciso checar — Grant disse. — Mas foi nessa época. Anos oitenta.
— E, pelo que sabia, Hammond era apenas um milionário louco por dinossauros.
— Sim.
Morris escreveu mais coisas no bloco.
— Espere aí — Grant disse. — Se a APMA está tão preocupada com John Hammond e suas atividades, os sítios de dinossauros no norte, as compras de âmbar, a ilha na Costa Rica, por que não perguntam tudo a ele?
— No momento não podemos — respondeu Morris.
— Por que não?
— Porque não temos nenhuma prova de atividades ilegais — Morris explicou. — Mas, pessoalmente, estou convencido de que John Hammond anda burlando a lei.
— E de onde vem essa sua convicção? — Grant quis saber.
— Tudo começou quando fui procurado pelo órgão encarregado do controle de transferência de tecnologia, o CTT. Eles acompanham as remessas de produtos norte-americanos com possível importância militar. Ligaram para dizer que a InGen tinha duas áreas onde poderia haver transferência ilegal de tecnologia. Primeiro, a InGen enviou três Crays XMP para a Costa Rica. A InGen classificou a remessa como transferência entre setores do conglomerado, e disse que não se destinavam à revenda. Mas o CTT não conseguia imaginar por que diabos alguém precisaria de tal poder de processamento na Costa Rica.
— Três Crays — Grant repetiu. — Isso é um tipo de computador? Morris fez que sim.
— Supercomputadores muito poderosos. Para lhe dar uma idéia, três Crays representam mais capacidade de processamento do que o disponível em qualquer empresa privada dos Estados Unidos. E a InGen mandou os computadores para a Costa Rica. Adivinhe para quê.
— Sei lá. — Grant deu de ombros. — Para quê?
— Ninguém sabe. E os Hoods nos preocupam ainda mais — Morris prosseguiu. — Os Hoods são seqüenciadores automáticos de genes, máquinas que trabalham com o código genético. São tão recentes que ainda não foram postos nas listas de restrições. Mas qualquer laboratório de engenharia genética gostaria de ter um, se pudesse pagar meio milhão de dólares. — Ele folheou suas anotações. — Bem, ao que parece a InGen despachou vinte e quatro seqüenciadores Hood para a Costa Rica.
—- Puxa! — exclamou Grant.
— Mais uma vez declararam que se tratava de uma transferência entre departamentos, e não uma exportação. O CTT não podia fazer nada a respeito. Oficialmente, não cuidam do uso dessas máquinas.
Mas a InGen obviamente estava construindo um dos laboratórios de engenharia genética mais poderosos do mundo, em uma ilha perdida num país da América Central. Um país sem leis a respeito. Esse tipo de coisa não é bem uma novidade.
Não era a primeira empresa de bioengenharia que se mudava para outro país para fugir das restrições e regulamentos. O caso mais famoso, Morris explicou, foi o da raiva, na Biosyn.
Em 1986 a Genetic Biosyn Corporation, de Cupertino, pesquisando uma vacina contra raiva baseada em experiências de engenharia genética, escolheu uma fazenda no Chile para o teste. Não informaram o fato ao governo daquele país, e ocultaram dos trabalhadores da fazenda que eles estariam servindo de cobaias.
Simplesmente aplicaram a vacina.
Esta consistia em vírus da raiva vivos, modificados geneticamente para se tornarem inócuos. Mas isso não era garantido. A Biosyn não sabia se o vírus provocaria ou não a raiva. E, pior de tudo, o vírus tinha sido modificado. Normalmente a raiva só se transmite pela mordida do animal, contudo a Biosyn havia alterado o vírus para que este atravessasse os alvéolos pulmonares. A pessoa poderia contrair a doença se o inalasse. Os funcionários da Biosyn levaram esse vírus da raiva para o Chile em uma sacola, num vôo normal. Morris sempre imaginava o que teria acontecido se a cápsula se rompesse durante o vôo. Todos os passageiros poderiam contrair a doença.
Foi um escândalo. Irresponsabilidade pura. Negligência criminosa. Mas nenhuma medida contra a Biosyn chegou a ser tomada.
Os trabalhadores chilenos que arriscaram suas vidas sem saber eram camponeses ignorantes. O governo do Chile andava mais preocupado com a crise econômica. E as autoridade norte-americanas não tinham jurisdição sobre outro país. Lewis Dodgson, o geneticista responsável pelo teste, ainda trabalhava na Biosyn, que continuava tão irresponsável quanto antes. E outras companhias norte-americanas corriam para montar filiais em países estrangeiros sem leis disciplinando a pesquisa genética. Países que consideravam a engenharia genética similar a outros avanços da tecnologia de ponta, e a recebiam de braços abertos, sem se dar conta dos perigos existentes.
— Foi por isso que começamos a investigar a InGen — Morris esclareceu. — Há cerca de três semanas.
— E o que descobriram de concreto até agora? — Grant perguntou.
— Quase nada — confessou Morris. — Quando voltar para San Francisco provavelmente encerraremos a investigação. E acho que já terminei aqui também. — Ele começou a guardar as coisas na pasta. — Por falar nisso, o que significa "hiperespaço juvenil"?
— Foi apenas um nome que dei ao meu trabalho, uma fantasia minha — Grant explicou. — Hiperespaço é um termo para um espaço multidimensional, que inclui as três dimensões. Se levar em conta todo o comportamento do animal, sua alimentação, movimentos e sono, pode situá-lo em um espaço multidimensional. Alguns paleontólogos referem-se ao comportamento dos animais como algo que acontece em um hiperespaço ecológico. "Hiperespaço juvenil" diz respeito aos hábitos dos jovens dinossauros, usando o tom mais presunçoso possível.
No outro lado do trailer o telefone tocou. Ellie atendeu, dizendo depois:
— No momento ele está em reunião. Pode ligar mais tarde?
Morris fechou a pasta e levantou-se.
— Muito obrigado pela colaboração. E pela cerveja.
— De nada.
Grant acompanhou Morris até a porta do trailer, na outra ponta.
Antes de sair, o advogado ainda perguntou:
— Hammond alguma vez solicitou amostras dos materiais coletados? Ossos, ovos, algo assim?
— Não — Grant respondeu.
— A doutora Sattler disse que faziam trabalhos genéticos aqui...
— Bem, não exatamente — Grant corrigiu. — Quando removemos os fósseis quebrados, ou por algum motivo inadequados para preservação em museus, enviamos para laboratórios, que os moem e tentam extrair as proteínas para nós. As proteínas são depois identificadas e recebemos um relatório.
— E qual é o nome do laboratório?
— Medical Biological Services, de Salt Lake.
— Como o escolheram?
— Tinham o melhor preço.
— Tem algo a ver com a InGen? — Morris perguntou.
— Não que eu saiba.
Grant abriu a porta do trailer e sentiu o bafo de ar quente vindo de fora. Morris parou para pôr os óculos escuros.
— Só mais uma coisinha — disse. — Suponha que a InGen não esteja realmente organizando um museu. O que poderiam fazer com as informações contidas no relatório que enviou a eles?
Grant riu.
— Eles poderiam alimentar um filhote de hadrossauro. Morris riu também.
— Um filhote de hadrossauro. Seria interessante. Qual o tamanho dele?
— Mais ou menos desta altura — Grant mostrou, abrindo as mãos cerca de vinte centímetros. — Do tamanho de ume esquilo.
— Quanto tempo demorariam para atingir a idade adulta?
— Tr*ês anos, mais ou menos. Morris estendeu a mão.
— Muito obrigado pela ajuda.
— Cuidado com a estrada na volta — Grant recomendou.
Observou Morris por um momento, enquanto o advogado caminhava para o carro, e depois fechou a porta do trailer.
Ellie o esperava.
— O que achou? — perguntou a ela. s A moça deu de ombros.
— Inocente.
— Gostou da parte onde John Hammond apareceu como um bandido desalmado? — Grant riu. — John Hammond é tão sinistro quanto Walt Disney. Por falar nisso, quem ligou?
— Ah — Ellie disse. — Uma mulher chamada Alice Levin.
Trabalha no Centro Médico Colúmbia. Conhece-a?
Grant fez que não.
— Bem, tem algo a ver com a identificação de um animal. Ela pediu que você ligasse assim que pudesse.
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O parque dos Dinossauros
PrzygodoweApenas estou disponibilizando o livro pra qm n pode ter o livro físico...como eu #somospobres