O Passeio

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Tim Murphy logo notou algo de errado. Seu avô discutia com o sujeito de cara avermelhada à sua frente. E os outros adultos, um pouco recuados, pareciam constrangidos e desconfortáveis. Alexis sentiu a tensão, porque deu um passo atrás, jogando a bola de beisebol no ar.
— Vamos, Lex.
— Vá na frente, Timmy.
— Não faça onda — ele disse.
Alexis olhou para o irmão, quando Ed Regis disse cordial:
— Vou apresentá-los a todos, e depois podemos passear.
— Preciso ir — a menina esquivou-se.
Mas Ed Regis já começara as apresentações. Primeiro abraçaram o avô, que os beijou, e depois apertaram a mão do homem com quem discutira. O nome do sujeito musculoso era Gennaro. As apresentações foram nebulosas para Tim. Havia uma loira de short e um homem de barba, usando camisa havaiana com jeans. Depois um gorducho que mexia com computadores, que não apertou sua mão, só balançou a cabeça. Tim tentava ordenar suas impressões, mas não tirava os olhos das pernas da loira, quando repentinamente se deu conta de que sabia quem era o barbudo.
— Sua boca está aberta — Alexis disse.
— Eu conheço aquele cara — Tim falou.
— Claro. Acabou de ser apresentado.
— Não. Eu tenho o livro dele.
— De que livro está falando, Tim? — o barbudo perguntou.
— O Mundo Perdido dos Dinossauros. Alexis riu.
— Papai falou que Tim tem dinossauros no cérebro.
Tim ignorou-a. Pensava no que sabia sobre Alan Grant, um dos principais defensores da teoria do sangue quente dos dinossauros.
Responsável pela maioria das escavações num lugar chamado Morro do Ovo, em Montana, famoso pela quantidade de ovos de dinossauro encontrados. O professor Grant encontrara grande parte dos ovos de dinossauro existentes. Além disso, desenhava bem e fizera ele mesmo as ilustrações para seus livros.
— Dinossauros no cérebro? — repetiu o barbudo. — Para dizer a verdade, eu tenho o mesmo problema.
— Papai disse que os dinossauros eram estúpidos — Alexis disse. — Ele acha que Tim deveria praticar mais esportes.
Tim ficou sem graça.
— Por que não vai embora?
— Já vou — respondeu a menina.
— Ué, você não estava morta de pressa?
— Eu mesma posso dizer se estou ou não com pressa, Timothy — ela falou, pondo as mãos nos quadris, copiando a postura mais irritante da mãe.
— Tenho uma idéia — Ed Regis disse. — Por que não seguimos para o centro de visitantes e iniciamos o passeio?
Todos começaram a caminhar. Tim ouviu quando Gennaro murmurou para seu avô: — Eu deveria matá-lo por ter feito isso.
Depois Tim olhou para o lado e percebeu que o dr. Grant o alcançara.
— Qual sua idade, Tim?
— Onze anos.
— E há quanto tempo se interessa por dinossauros? Tim engoliu em seco.
— Já faz tempo. Vamos ao museu, às vezes, quando convenço minha família. Meu pai.
Conversar com o dr. Grant deixava Tim nervoso.
— Seu pai não se interessa muito pelo assunto?
Tim fez que sim, e relatou a última visita da família ao Museu de História Natural. O pai tinha olhado para um esqueleto e comentado:
— Puxa, este era enorme.
Tim retrucara:
— Não, pai, este era de tamanho médio, um camptossauro.
— Bem, sei lá. Para mim parece enorme.
— Nem atingiu o máximo em tamanho. O pai olhara de novo para o esqueleto.
— De que período é, Jurássico?
— Não. Cretáceo.
— Cretáceo? E qual a diferença entre Jurássico e Cretáceo?
— Cerca de cem milhões de anos, apenas.
— Cretáceo vem antes?
— Não, pai, o Jurássico vem antes.
— Certo — aceitara o pai, recuando um passo. — Para mim parece enorme. — E olhara para Tim, buscando sua aprovação. Tim sabia que era melhor concordar com o pai, e apenas resmungara qualquer coisa. E seguiram em frente.
Pouco adiante Tim demorara-se na frente de um outro esqueleto:
um Tyrannosaurus rex, o mais terrível predador que já pisara na face da Terra. Finalmente, seu pai indagara:
— O que está olhando tanto?
— Estou contando as vértebras.
— As vértebras?
— Sim, na coluna.
— Eu sei o que são vértebras — seu pai se irritara. — Para que está contando as vértebras?
— Creio que está errado. Um tiranossauro deveria ter apenas trinta e sete vértebras na cauda. Este aqui tem mais.
— Você está querendo me convencer de que o Museu de História Natural tem um esqueleto errado? Não acredito.
— Está errado — Tim insistiu.
O pai afastara-se batendo o pé e fora falar com um guarda.
— O que você aprontou agora? — a mãe perguntara a Tim.
— Eu não fiz nada — Tim se defendera. — Só disse que o dinossauro estava errado, só isso.
E o pai tinha voltado com ar espantado, porque o guarda lhe dissera, é claro, que aquele tiranossauro de fato tinha vértebras a mais na cauda.
— Como sabia disso? — o pai questionara.
— Li um pouco a respeito — Tim respondera.
— Isso é surpreendente, filho. Imagine, saber quantas vértebras há na cauda de um dinossauro. Nunca vi algo assim. Você realmente tem dinossauros no cérebro.
Depois o pai falara que queria assistir à última parte do jogo dos Mets na televisão, e Lex gostara da idéia. Foram embora do museu. Tim não vira mais dinossauros, por isso tinham vindo agora para a ilha. Era a maneira como sua família sempre fazia as coisas.
Sempre não, Tim corrigiu-se. Agora que o pai estava se divorciando da mãe, tudo seria diferente. Seu pai já se mudara, e mesmo sendo meio esquisito no início, Tim gostara da nova situação.
Acreditava que sua mãe arranjara um namorado, mas não tinha certeza, e nunca falaria a esse respeito com Lex. A irmã ficara desolada por se afastar do pai e nas últimas semanas se tornara tão chata que...
— Era o cinco mil e vinte e sete? — Grant perguntou.
— Como?
— O tiranossauro do museu. Era o cinco mil e vinte e sete?
— Era — Tim disse. — Como sabe? Grant sorriu.
— Eles prometem consertá-lo há anos. Mas agora não será mais preciso.
— Por quê?
— Por causa das coisas que estão acontecendo aqui. Na ilha de seu avô.
Tim balançou a cabeça. Não sabia do que Grant estava falando.
— Mamãe contou que era um complexo turístico, sabe? Com piscinas e quadras de tênis.
— Não é só isso — Grant disse. — Eu explico no caminho.
Agora virei uma babá idiota, pensou Ed Regis desconsolado, batendo o pé no chão enquanto esperava no centro de visitantes. O velho lhe dissera com todas as letras: "Vigie meus netos como se fosse uma águia, estão sob sua responsabilidade no final de semana."
Ed Regis odiara a missão. Sentira-se humilhado. Ele não era babá, droga. E também não era guia turístico, nem mesmo para os VIPs. Exercia a função de diretor de relações públicas do Parque Jurássico e tinha muito serviço a fazer até a data da inauguração, a menos de um ano. Só a coordenação com as empresas de relações públicas de San Francisco e Londres e as agências de publicidade de Nova York e Tóquio já era um serviço de tempo integral. Principalmente porque as agências não podiam saber qual era a atração principal do complexo. As firmas planejavam campanhas genéricas, nada específico, e estavam descontentes. Pessoas criativas como ele, pensou Ed, precisavam de estímulo, de encorajamento para realizar um bom trabalho. Não podiam perder tempo levando cientistas para passear.
O grande problema na profissão de relações públicas era a falta de respeito profissional. Regis estava na ilha, com intervalos, havia sete meses, e todo mundo tentava empurrar os serviços incômodos para ele.
Como o episódio de janeiro. Harding deveria ter cuidado do caso.
Harding ou Owens, o empreiteiro geral. Mas nada disso, tinha sobrado para Ed Regis. O que poderia saber em matéria de socorro a um empregado doente? E agora se transformara em um misto de guia turístico e babá. Ele virou para trás e contou as cabeças. Ainda faltava um.
Então, lá no fundo, viu a dra. Sattler saindo do banheiro.
— Muito bem, pessoal, vamos começar o passeio pelo segundo andar.
Tim foi com os outros, seguindo o sr. Regis na escada preta suspensa no ar, que dava no segundo andar do prédio. Eles passaram diante de uma placa onde se lia:
PERIGO
∆SOMENTE PESSOAL AUTORIZADO PODE ULTRAPASSAR ESTE PONTO .
Tim sentiu um arrepio ao ver o aviso. Atravessaram o corredor do segundo andar. Uma das paredes era de vidro, dando para um terraço com palmeiras meio encobertas pela neblina. As outras portas tinham placas como de escritórios, indicando: "Guarda do Parque", "Serviços para Hóspedes", "Gerência Geral".
Na metade do corredor havia uma divisória de vidro, com outro aviso:

O parque dos DinossaurosOnde histórias criam vida. Descubra agora