Adios Papá

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Abracei dona Claudia assim que Rui saiu do seu abraço, ele estava acabado, seus olhos avermelhados e inchados quebrava meu coração pois eu não podia ajudar.

O corpo ainda não havia chegado, a funerária atrasou por causa do transito e ver o sofrimento da família me deixava mais triste e devastada.

__ Deixe-me ver sua pressão, Rui.__ Debbie pediu com o aparelhos em mãos.

O mesmo não esboçou reação alguma. Minha irmã colocou o aparelho em seu braço e esperou alguns minutos até ver que a pressão estava baixa ainda. Dona Cláudia estava a todo momento tendo picos de pressão também.

__ Eu te amo.__ Sussurrei em seu ouvido.

__ Também te amo. Obrigado por estar me apoiando tanto nesse momento Lia.

__ Eu protejo quem eu amo, eu costumo lutar, mimar e apoiar as pessoas que amo. Estarei aqui para o que precisar.

Não demorou muito para que a funerária chegasse, alguns amigos e familiares se despediram do homem para que ele finalmente fosse enterrado e descansasse em paz.

__ Me perdoe por tudo pai. Minha intenção jamais foi machuca-lo.__ Um homem alto, musculoso e um pouco mais velho que o meu Rui se aproximou e o abraçou.

__ Não foi sua culpa.__ O homem sussurrou.__ Vai ficar tudo bem.

Rui chegou a soluçar de tanto chorar, ele parecia não querer deixar o pai partir, mas ele tinha que deixar.

__ Esse é meu tio Ricardo.__ Rui disse assim que saímos do cemitério.

__ Oi Ricardo, sou Lia. É um prazer conhecê-lo mesmo que o momento não seja conveniente.

__ O prazer é meu.__ Ele era do mesmo tamanho de Rui. Um poste.

__ Tio, ela é a pessoa que te falei.

__ Sua namorada? É uma linda garota.

__ Obrigado, gentileza sua.

Rui e eu seguimos para o quarto que dormimos há alguns meses atrás na casa dos pais dele e Rui banhou-se, esperei que o mesmo concluisse para que eu fizesse o mesmo.
Quando voltei do banho, o mesmo usava apenas uma samba canção azul marinho com dezenhos estranhos. Vesti uma de suas camisas e deitei sob seu peito.

__ Minha irmã e o Gregg irão embora pela manhã.__ Ele continuou em silêncio.__ Vamos ficar mais uns dias aqui com sua mãe até decidir o que fazer.

__ Vou tentar convence-la a ir para São Paulo comigo. Vou comprar uma casa pra ela lá.

__ É o melhor a se fazer, Rui. Cuidaremos dela lá, sua mãe precisará da gente nesse momento.

__ Eu te amo sabia? Você é incrível amor, você se preocupa de um jeito tão carinhoso com as pessoas ao seu redor...

__ Eu amo você, amo a sua mãe... E mesmo que vocês fossem desconhecidos, como não ter compaixão de vocês?

Ficamos ali o resto daquela terrível tarde, fiz cafuné em meu menino até que ele dormisse.

RUI 📌

Meu pai nem sempre foi o cara mandão e rabugento dos ultimos dias. Quando mamãe trabalhava como secretária doméstica eu vivia mais tempo com ele, minhas maiores lembranças era com ele, eu o amava, era meu pai, e por mais que nos últimos anos nós só tenhamos brigado mais do que tenhamos trocado afeto, eu sabia que ele me amava, e meu amor por ele era maior que o infinito, só não sei se ele morreu sabendo que eu o amo profundamente. E esse é meu maior medo, que ele tenha duvidado do meu amor.

__ Você vai voltar para o Iraque quando?__ Perguntei para tio Ricardo.

__ Daqui a dois dias.__ Meu tio por mais que não pareça, é o homem mais solitário e sozinho que existe.

Aos vinte e nove anos perdeu a mulher vítima de câncer, orfão de pai e mãe, perdeu vários amigos na guerra do Vietnã e do Paquistão, era só ele e papai e agora papai se foi. Acho que por medo de perder a mim e a meu tio que papai tinha tanto medo dessa vida. Eles já tinham perdido demais. Agora com trinta e sete anos, tio Ricardo vive para a guerra, só queria que ele tivesse a chance de conhecer alguém que o faça feliz.

__ Cuide da sua mãe Rui.__ Ele me puxou para um abraço.

__ Cuidarei.

__ Lia, não deixa ele fazer bobagem tá?

__Ok. Se cuide também, mantenha contato, quero ter noticias da guerra do Iraque.

__ Tudo bem.__ E foi nesse momento que a vida de tio Ricardo mudou.

Estavamos no aeroporto de Guarulhos quando avistamos um cara puxando uma garota. Seus cabelos amarrados em dois coques lado a lado e sua pele cor de chocolate combinava com o vestido preto delicado em seu corpo, a menina chorava.

Tio Ricardo só deixou sua mala de qualquer jeito e cortou caminho dando de frente com o cara.

__ Solta ela.__ O homem parecia ter uns sessenta anos.

__ Ela é minha filha, faço o que quiser...

__ Me ajuda moço, ele quer me traficar...__ Entendemos rapidamente o que ela quis dizer. Tráfico internacional de pessoas é um crime grave.

__ Solta ela agora.__ O homem vacilou e a garota se escondeu atrás do tio Ricardo.__ Acho que minha viagem será adiada...

E foi vendo a cena de meu tio chamando a policia e cuidando daquela garota que soube que proteger pessoas era o meu sonho.

__ Adios papá.__ Olhei sua foto no porta retrato.

#Continua

LIA - Volume 4Onde histórias criam vida. Descubra agora